Espaçoso e bem-equipado, o Croma
disfarçava sua carroceria de cinco portas ao manter um terceiro volume,
isto é, um porta-malas saliente
Sob o capô, motores modernos e
antigos: o 2,0-litros a gasolina estava em uso desde 1966, mas o 1,9
turbodiesel (embaixo) inovava na injeção |
Apesar de sua ênfase nos segmentos mais acessíveis, a Fiat italiana
sempre ofereceu modelos de luxo como complemento de sua linha, tanto
antes quanto depois da aquisição das marcas mais refinadas Lancia (em
1969) e Alfa Romeo (1986). Já no início do século XX eram fabricados os
Fiats 12 HP, 16-20 HP e 16-24 HP. Em 1925 estreava o modelo 520, com
motor de seis cilindros e 2,2 litros, e 13 anos mais tarde era lançado o
Fiat 2800, que media 5,30 metros de comprimento. Já no pós-guerra, a
família 1800/2100/2300 manteve a opção de seis
cilindros em linha na versão de topo. Seu sucessor, o
130 de 1969, adotava um V6 e foi feito até 1977.
Depois desse modelo o maior dos Fiats passou a ser o
132, de porte médio e motores de apenas quatro cilindros, mas ainda
com refinamento e potência compatíveis com os de outros modelos de luxo
europeus. Embora tenha recebido atualizações em 1981, quando foi
renomeado Argenta, esse modelo acusava claramente o peso da idade —
chegara ao mercado em 1972 — diante de concorrentes modernos como
Opel Ascona (Monza
no Brasil), VW Passat (nosso
Santana na época),
Ford Sierra e
Citroën BX, além dos que
estavam por ser lançados, caso de
Renault 21 e
Peugeot 405. Para compensar
os altos custos de desenvolvimento de um carro dessa categoria, nem
sempre viabilizados pelo volume de vendas, a Fiat decidiu se unir à
sueca Saab em um projeto conjunto, o da plataforma Tipo Quattro, que
daria origem a quatro modelos: Saab 9000,
Lancia Thema,
Alfa Romeo 164 e Fiat
Croma.
A regra era usar o máximo de componentes em comum naquilo que o
motorista não poderia ver, como assoalho, suspensões, motores e câmbios.
Mesmo assim, para respeitar a identidade de cada marca, os carros saíram
com carrocerias diferentes — apenas algumas peças foram compartilhadas
entre parte dos modelos — e tiveram versões exclusivas de motorização,
como o Ferrari V8 que só equipou o Thema. Além disso, enquanto a Lancia
e a Alfa seguiram o conceito tradicional de três volumes e quatro portas
com tampa de porta-malas pequena, a Saab e a Fiat optaram pela
configuração de cinco portas (a tampa incluía o vidro traseiro), o que
ampliava bastante o vão de acesso de bagagem e atendia à preferência de
alguns mercados por esses modelos. No caso do Croma, essa opção vinha de
certo modo disfarçada pelo terceiro volume, com um porta-malas quase tão
saliente quanto em qualquer sedã da época.
Desenhado pelo italiano Giorgetto
Giugiaro, o Croma (nome que provavelmente veio da pronúncia grega do
metal cromo) chegava ao mercado em 1985 com linhas simples e
contemporâneas que não emocionavam, mas transmitiam um ar luxuoso. A
frente típica dos Fiats da época usava faróis retangulares e a grade com
cinco barras inclinadas; as laterais eram muito "limpas", com um mínimo
de adornos, embora o recorte do capô pudesse ter sido evitado; os vidros
eram amplos e montados nivelados às colunas, para menor interferência na
aerodinâmica; e as lanternas traseiras quadradas vinham ligadas por uma
moldura negra. Suas dimensões estavam entre as maiores da categoria:
4,49 metros de comprimento, 1,75 m de largura, 1,42 m de altura e 2,66 m
de distância entre eixos. O coeficiente
aerodinâmico (Cx) era bom, 0,32. No amplo interior, as linhas retas
predominavam no painel bem-equipado, que trazia na extremidade esquerda
um diagrama do carro — o sistema de verificação e controle — com
indicação de eventuais anormalidades. Revestimento em couro e teto solar
estavam disponíveis. A capacidade de bagagem, de 500 litros, podia
chegar a 1.400 l com o rebatimento do banco traseiro.
Como outras marcas na década de 1980, a Fiat havia deixado de lado a
concepção tradicional de motor longitudinal e tração traseira, usada no
132/Argenta, em favor do propulsor transversal e da tração dianteira,
que traziam melhor aproveitamento de espaço e de energia. A gama a
gasolina começava pelas unidades de 1,6 litro, com potência de 83 cv e
torque de 13 m.kgf, e de 2,0 litros com 90 cv e 17,2 m.kgf, ambos
alimentadas com carburador e dotadas do sistema CHT (sigla para
Controlled High Turbulence, alta turbulência controlada), com um
coletor de admissão de geometria variável
desenvolvido em parceria com a japonesa Yamaha. O segundo oferecia opção
de caixa automática de três marchas. Uma versão a injeção do 2,0,
chamada i.e., vinha com 120 cv, mas seu torque baixava para 17 m.kgf.
Essa unidade com duplo comando de válvulas, já bem conhecida na Fiat,
fora introduzida em 1966 no 124 Sport
e na década de 1990 ainda equiparia o
Tempra (incluindo o brasileiro)
e esportivo Coupe.
Continua
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