Linhas retas de grande elegância
formavam o desenho do 164, em que o vinco lateral se estendia até as
lanternas longas e de perfil baixo
O interior espaçoso e
bem-acabado trazia itens de conforto avançados; a plataforma e um dos
motores eram compartilhados com Fiat e Lancia |
É
inegável a história gloriosa da italiana Alfa Romeo. Sua semente começou
a germinar ainda em 1907 quando um aristocrata de Milão, Cavaliere Ugo
Stella, se uniu a um fabricante francês, Alexandre Darracq, dando origem
à Darracq Italiana, marca que produzia veículos em Nápoles. Três anos
depois a parceria acabava e Stella, com financiamento de investidores de
seu país, fundava a Anonima Lombarda Fabbrica Automobili, ou
simplesmente Alfa. Somente em 1920 o nome da empresa passaria ao que
conhecemos hoje com o controle total da companhia nas mãos de Nicola
Romeo.
Bem cuidada, essa planta germinou e rendeu ótimos frutos que encontraram
terreno fértil para criar a fama de potentes e charmosos. Mas nem só de
esportivos e grã-turismos viveu a Alfa Romeo. Desde o pioneiro
1900, passando pelos grandes 2000 e 2600
da mesma década de 1950 (que deram origem ao primeiro Alfa brasileiro, o
FNM 2000 "JK"), houve
espaço para aqueles que apreciavam amplos e tradicionais sedãs com boa
dose de temperamento latino. Um dos representantes dessa linhagem
aparecia em 1987, para suceder ao Alfa 6,
com a denominação 164.
O novo sedã da marca do trevo de quatro folhas era uma aposta alta; a
Alfa jogava com gente grande. Esse modelo deveria competir com a estirpe
européia de Audi 100,
BMW Série 5, Ford Scorpio,
Opel Omega e Renault 25, além de
Citroën XM e Peugeot 605, lançados pouco mais tarde. Desenhado nos
estúdios de Pininfarina, o carro começou a ser projetado em 1984 e
muitas unidades travestidas de Alfa Giulietta (as chamadas mulas)
serviram de disfarce durante os milhares de quilômetros em testes.
Apresentado ao público no Salão de Frankfurt de 1987, era o último Alfa
projetado antes da aquisição da empresa pela Fiat, efetivada no ano
anterior. No entanto, já não era um projeto independente: chamada de
Tipo 4, sua plataforma também servia aos italianos Fiat Croma (carro de
topo da marca na época) e Lancia Thema e ao sueco Saab 9000, embora cada
modelo tivesse a própria carroceria. O 164 foi o último a chegar ao
mercado e teve um desenho mais aerodinâmico que o dos outros três.
Era também o primeiro grande carro da marca com tração dianteira, o que
causaria estranheza aos alfistas ortodoxos. A mudança de rodas motrizes
havia começado nos anos 70 com o Alfasud e
seguido com o 33 da década seguinte, mas
os médios 75 e 90 ainda mantinham o clássico esquema de tração atrás.
Mesmo não agradando a todos, o 164 era uma aposta grandiosa da Alfa para
trazer novamente o prestígio que os italianos vivenciaram nos anos 70.
O sedã médio-grande tinha estilo e era bonito. Os alfistas mais
inflamados veriam até traços e ideias oriundos do
Ferrari Testarossa — outra
obra da empresa de Sergio Pininfarina — transmutados para o corpo de um
sedã, como o estilo dos faróis e saias do parachoque dianteiro, além dos
vincos nas molduras laterais, que eles relacionam às tomadas de ar do
superesportivo. Com 4,55 metros de comprimento, 1,76 m de largura, 1,30
m de altura e entre-eixos de 2,66 m, o 164 era elegante e seu
coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,30,
muito bom até nos dias de hoje, colaborava para o consumo comedido.
Continua
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