O elegante Thema, desenhado
por Giugiaro, usava plataforma e vários componentes mecânicos
comuns a Fiat Croma, Saab 9000 e Alfa 164
Chamativo por fora com o
aerofólio retrátil, luxuoso com apliques de madeira e revestimento
Poltrona Frau: o Thema 8.32 com motor Ferrari |
Sempre que se fala em associações de marcas para desenvolver modelos em
conjunto, há quem torça o nariz por pensar na perda da identidade que
diferencia cada fabricante, o desprezo aos valores consagrados por uma
marca. Entretanto, há exemplos de êxito na "clonagem" de carros, em que
a associação traz ao fabricante meios de produzir, pelo compartilhamento
de plataformas e mecânicas, algo especial ou superior ao que seria
viável fazer com seus próprios recursos. No grupo Fiat, a Lancia é um
desses casos. Pertencente ao conglomerado italiano desde 1969, a marca
fundada em 1906 por Vincenzo Lancia manteve sua identidade por toda a
década de 1970, em que lançou modelos brilhantes como
Stratos,
Beta Montecarlo e
Delta.
Mais tarde, estar sob o guarda-chuva da Fiat trouxe-lhe mais benefícios
quando chegou o momento de substituir o sedã Gamma.
Foi em 1978 que a Fiat firmou uma parceria com a sueca Saab para o
projeto da plataforma Tipo Quattro, que daria origem a quatro modelos
médio-grandes: Fiat Croma, Lancia Thema, Saab 9000 e, um pouco depois,
Alfa Romeo 164. Desses
carros, apenas o Alfa teria desenho bem distinto e poucos componentes em
comum. Os outros três compartilhariam várias peças, como a estrutura das
portas em um caso ou o para-brisa em outro, a fim de reduzir custos de
desenvolvimento e produção e obter economia de escala. Outro fruto da
parceria foi o Saab-Lancia 600, uma variação do Delta vendida na Suécia
e na Noruega pela Saab.
Apresentado no Salão de Turim de 1984, o Thema — mais uma letra grega na
linha Lancia, assim como Beta, Delta, Gamma, Lambda e outros — seguia o
formato tradicional de três volumes com quatro portas, enquanto Croma e
9000 tinham o vidro traseiro mais inclinado e integrado à tampa do
porta-malas em uma quinta porta. As linhas eram típicas dos projetos de
Giorgetto Giugiaro: limpas,
funcionais e elegantes, com poucos vincos e adornos e vidros que
ocupavam grande área, como mandava a tendência da época. Faróis,
lanternas e a grade com moldura cromada característica da marca tinham
formas retilíneas. O coeficiente aerodinâmico
(Cx) era bom, 0,32.
Com 4,59 metros de comprimento e 2,66 m de distância entre eixos, o
Thema era um dos carros mais espaçosos de sua categoria. O interior
combinava luxo e bom gosto e podia contar com ar-condicionado,
revestimento em couro, bancos aquecidos e teto solar com controle
elétrico. Tanto o entre-eixos quanto a concepção mecânica eram os mesmos
de Croma e 9000, com motor transversal, tração dianteira e suspensão
independente do tipo McPherson nas quatro rodas. Até a fábrica era da
Fiat — a de Mirafiori, em Turim —, mas o modelo era posicionado no
mercado em patamar superior ao do Croma, como de hábito nos Lancias em
relação a seus "primos pobres" da empresa-mãe.
Os primeiros motores disponíveis eram quatro, sendo três a gasolina. O
de quatro cilindros e 1.995 cm³ era a conhecida unidade desenhada por
Aurelio Lampredi (ex-Ferrari e ex-Alfa) que equipou muitos modelos do
grupo, até o Tempra brasileiro.
Com duplo comando no cabeçote, duas válvulas por cilindro e injeção
multiponto, desenvolvia potência de 120 cv e torque de 17,3 m.kgf.
Diferença para o Tempra era o uso de árvores
de balanceamento para anular vibrações. O mesmo propulsor podia ter
turbocompressor e
resfriador de ar para passar a 166 cv e
29,6 m.kgf, que se traduziam em velocidade máxima de 218 km/h e
aceleração de 0 a 100 km/h em 7,2 segundos, ótimas marcas para a
categoria. Acima deles vinha o motor PRV (projetado em conjunto entre
Peugeot, Renault e Volvo, por isso a sigla, e fornecido ao grupo Fiat)
de seis cilindros em "V" e 2.849 cm³, que fornecia 150 cv e 25 m.kgf.
Era um motor atípico para um carro italiano, pois não tinha o tempero
esportivo habitual dos carros daquele país, mas fazia bom par com a
caixa automática opcional, usada como padrão em alguns mercados de
exportação. Apesar da maior suavidade com que entregava potência, era
preterido no mercado interno pelo turbo por causa da tributação vigente
na Itália, que penalizava fortemente os motores acima de 2,0 litros.
A gama completava-se com o turbodiesel de quatro cilindros e
2.445 cm³, com 101 cv e 22,1 m.kgf. Com câmbio manual de cinco marchas e
opção por automático de três em algumas versões, o Thema pesava de 1.150
a 1.300 kg e usava freios a disco nas quatro rodas (ventilados nas
dianteiras) com opção de sistema antitravamento (ABS).
Continua
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