

Se as linhas do Beta Berlina
eram sóbrias, a mecânica trazia modernidade: motor transversal, duplo
comando, cinco marchas, suspensões McPherson
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A
empresa fundada em 1906 por Vincenzo Lancia foi uma fábrica de
inovações. Seu modelo Theta de 1913 foi o primeiro carro europeu com
sistema elétrico, e o Lambda de 1922, o
pioneiro na construção monobloco, na
suspensão dianteira independente e no motor de quatro cilindros em "V".
Outras primazias seriam o câmbio de cinco marchas em carro de série, no
Ardea de 1948, e o motor V6 de produção normal, no
Aurelia 1950. Curiosamente, foi também uma
das marcas que mais tardaram a aceitar o padrão de volante à esquerda na
Itália, mantendo-o à direita até 1956.
Esse modo ousado de operar, no entanto, comprometeu sua lucratividade.
Na década de 1960, construir carros com qualidade e técnica avançada
havia se tornado impraticável para ela em termos financeiros. Depois de
buscar entendimentos até com a Ford, a empresa aceitou quando o grupo
Fiat — que ao menos era do mesmo país — propôs uma absorção, que se
concretizou em novembro de 1969. Alguns de seus admiradores já poderiam
prever o quadro que se vê hoje, quando os Lancias são carros de estilo
diferente sobre plataformas e mecânicas de Fiats. Mas, para alívio
deles, a marca ainda fez grandes automóveis até que perdesse sua
identidade.
Depois da absorção, a Lancia apenas retocou os modelos sedã e cupê do
Flavia, que compunham sua linha ao lado do
Fulvia. O primeiro carro desenvolvido após
a mudança de dono foi o Beta, denominado com uma letra grega assim como
diversos modelos do pré-guerra: Alfa, Dialfa, Beta, Delta, Epsilon, Eta,
Gamma, Theta, Zeta, Lambda, Dilambda, Kappa e Trikappa. O Beta anterior,
designado como 15/20 HP, fora fabricado apenas em 1909 com motor de
quatro cilindros e 3,2 litros. Em uma fase de reestruturação, teria sido
coerente voltar à primeira letra grega — Alfa — se esta não fosse parte
do nome Alfa Romeo, outra marca italiana, então ainda independente da
Fiat.
Lançado no Salão de Turim em novembro de 1972, o novo Beta era um sedã
de dois volumes e quatro portas, chamado de Berlina na Itália, Saloon na
Inglaterra e Limousine na Alemanha. Com estilo atualizado, obra do
centro de estilo da Fiat, as linhas retas lembravam um pouco as de
modelos contemporâneos como o
Volkswagen Passat, com ampla área envidraçada, quatro faróis
circulares atrás de lentes retangulares e poucos adornos. Media 4,29
metros de comprimento e 2,54 m de distância entre eixos. O interior
podia contar com ar-condicionado, revestimento dos bancos em couro e
teto solar. Competia no mercado com Alfa Romeo
Alfetta, Audi 80 e
Opel Ascona.
Mais que pelo estilo, que era sóbrio, ele se destacava pela técnica
refinada: motores com duplo comando de válvulas (acionado com correia
dentada) e posição transversal, tração dianteira, câmbio de cinco
marchas, suspensão independente McPherson à frente e atrás. Os freios a
disco nas quatro rodas contavam com interessante duplo circuito em
redundância, um para as rodas dianteiras e outro para todas. Em caso de
falha em um circuito, a frenagem mais importante — na frente — seria
garantida. Continua
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