O médio que se tornou o máximo

Um pacato sedã, o Lancia Beta deu origem a atraentes versões
e chegou às pistas na pele dos vitoriosos Montecarlo e 037

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Se as linhas do Beta Berlina eram sóbrias, a mecânica trazia modernidade: motor transversal, duplo comando, cinco marchas, suspensões McPherson

A empresa fundada em 1906 por Vincenzo Lancia foi uma fábrica de inovações. Seu modelo Theta de 1913 foi o primeiro carro europeu com sistema elétrico, e o Lambda de 1922, o pioneiro na construção monobloco, na suspensão dianteira independente e no motor de quatro cilindros em "V". Outras primazias seriam o câmbio de cinco marchas em carro de série, no Ardea de 1948, e o motor V6 de produção normal, no Aurelia 1950. Curiosamente, foi também uma das marcas que mais tardaram a aceitar o padrão de volante à esquerda na Itália, mantendo-o à direita até 1956.

Esse modo ousado de operar, no entanto, comprometeu sua lucratividade. Na década de 1960, construir carros com qualidade e técnica avançada havia se tornado impraticável para ela em termos financeiros. Depois de buscar entendimentos até com a Ford, a empresa aceitou quando o grupo Fiat — que ao menos era do mesmo país — propôs uma absorção, que se concretizou em novembro de 1969. Alguns de seus admiradores já poderiam prever o quadro que se vê hoje, quando os Lancias são carros de estilo diferente sobre plataformas e mecânicas de Fiats. Mas, para alívio deles, a marca ainda fez grandes automóveis até que perdesse sua identidade.

Depois da absorção, a Lancia apenas retocou os modelos sedã e cupê do Flavia, que compunham sua linha ao lado do Fulvia. O primeiro carro desenvolvido após a mudança de dono foi o Beta, denominado com uma letra grega assim como diversos modelos do pré-guerra: Alfa, Dialfa, Beta, Delta, Epsilon, Eta, Gamma, Theta, Zeta, Lambda, Dilambda, Kappa e Trikappa. O Beta anterior, designado como 15/20 HP, fora fabricado apenas em 1909 com motor de quatro cilindros e 3,2 litros. Em uma fase de reestruturação, teria sido coerente voltar à primeira letra grega — Alfa — se esta não fosse parte do nome Alfa Romeo, outra marca italiana, então ainda independente da Fiat.

Lançado no Salão de Turim em novembro de 1972, o novo Beta era um sedã de dois volumes e quatro portas, chamado de Berlina na Itália, Saloon na Inglaterra e Limousine na Alemanha. Com estilo atualizado, obra do centro de estilo da Fiat, as linhas retas lembravam um pouco as de modelos contemporâneos como o Volkswagen Passat, com ampla área envidraçada, quatro faróis circulares atrás de lentes retangulares e poucos adornos. Media 4,29 metros de comprimento e 2,54 m de distância entre eixos. O interior podia contar com ar-condicionado, revestimento dos bancos em couro e teto solar. Competia no mercado com Alfa Romeo Alfetta, Audi 80 e Opel Ascona.

Mais que pelo estilo, que era sóbrio, ele se destacava pela técnica refinada: motores com duplo comando de válvulas (acionado com correia dentada) e posição transversal, tração dianteira, câmbio de cinco marchas, suspensão independente McPherson à frente e atrás. Os freios a disco nas quatro rodas contavam com interessante duplo circuito em redundância, um para as rodas dianteiras e outro para todas. Em caso de falha em um circuito, a frenagem mais importante — na frente — seria garantida. Continua

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos - Envie por e-mail

Data de publicação: 12/1/08

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade