

O conceito Probe III de 1981:
muitos elementos de estilo do Sierra -- até o duplo aerofólio -- em um
estudo com ênfase na baixa resistência ao ar



Com grade nas versões mais
simples ou sem ela na Ghia (embaixo), o desenho arredondado do Sierra
surpreendeu a ponto de criar rejeição |
Um
dos efeitos das crises do petróleo deflagradas em 1973 e 1979 foi
despertar novamente nos fabricantes o interesse pela aerodinâmica,
ciência um tanto abandonada pela maioria das marcas desde que os
consumidores rejeitaram propostas como o Chrysler
Airflow dos anos 30. Menor resistência ao ar tornou-se uma
prioridade nos novos projetos, para se reduzir o consumo sem a
necessidade de afetar tanto o desempenho. Dentro desse método, a Ford
passou a desenvolver carros-conceito com ênfase na aerodinâmica, uma
linha denominada Probe. O primeiro modelo, Probe I, foi apresentado no
Salão de Frankfurt de 1979. Era um cupê baixo e alongado com ótimo
Cx de 0,25. Um ano depois aparecia o Probe
II, com dois volumes, cinco portas e linhas bem mais próximas das de um
modelo de produção.
Em 1981 era a vez do Probe III, de mesma configuração da versão II, mas
bem mais ousado nas formas. Em vez dos traços retos do modelo anterior,
tudo nele era arredondado, suave, fluido. Os faróis estavam atrás de
lentes em uma frente "limpa" sem grade, os vidros eram amplos e montados
rentes à carroceria, os retrovisores pareciam se fundir ao desenho, as
rodas traseiras vinham parcialmente encobertas e, na quinta porta, dois
aerofólios sobrepostos davam um aspecto incomum. Parecia mais um estudo
avançado que demoraria a chegar às ruas, mas não era. A Ford europeia,
baseada tanto na Alemanha quanto na Inglaterra — as duas unidades, de
início independentes, vinham trabalhando em parceria desde o primeiro
Escort de 1968 —, desenvolvia
desde 1977 um único sucessor para as longevas linhas
Taunus (alemã) e
Cortina (britânica).
O Cortina havia liderado o mercado inglês nos anos 70, impondo ao novo
carro uma missão de grande importância. Um nome inédito substituiria
aqueles logotipos tão tradicionais: Sierra. O resultado do projeto Toni
— a Ford europeia habituou-se a usar nomes de pessoas em seus trabalhos
— era apresentado em setembro de 1982. Liderado por Uwe Bahnsen, Robert
Lutz (hoje na General Motors norte-americana) e Patrick Le'Quement
(atualmente na Renault), o desenvolvimento do Sierra levou a um carro
muito avançado para seu tempo em termos de estilo, resultado de extensos
estudos aerodinâmicos em túnel de vento. Seu Cx de 0,34 estava entre os
melhores da época. Como referência, o
Opel Ascona/Vauxhall Cavalier (Monza
no Brasil) lançado no ano anterior apresentava 0,38, e o antigo Cortina,
0,45.
Suas formas bastante suaves, sem cantos vivos ou arestas, adotavam
soluções que se tornariam comuns na indústria nos anos subsequentes:
frente em cunha, para-choques plásticos envolventes, amplas janelas
niveladas com a carroceria tanto quanto possível, maçanetas e
retrovisores com forma favorável ao ar, um mínimo de adornos. Detalhe
incomum era a ausência de grade dianteira (à exceção da versão mais
simples): a admissão de ar para o radiador era feita pela seção inferior
do para-choque. Na traseira havia um "meio volume", pequeno acréscimo ao
formato tradicional de dois volumes, como já visto no Escort de 1980. O
amplo vidro lateral atrás das portas contribuía para boa visibilidade.
No interior típico da época, o painel curvava-se para o motorista na
parte central e os instrumentos eram grandes para fácil leitura. Eram
oferecidas três versões de acabamento no início: L, GL e Ghia, em ordem
ascendente de preço e conteúdo. A última trazia requintes como teto
solar, sistema de verificação e controle, faróis de neblina e
comando elétrico dos vidros, travas, retrovisores e da tampa traseira.
Cinco motores estavam disponíveis, para atender desde os adeptos da
economia até os exigentes em desempenho. Os quatro-cilindros de 1,3 litro/60 cv, 1,6 litro/75 cv e 2,0 litros/105 cv
eram da família T88, com comando de válvulas
no cabeçote, conhecida como Pinto por
ter sido usada também nesse compacto da Ford norte-americana.
Continua
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