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O gênio mal compreendido

As inovações de Walter Chrysler aplicadas ao Airflow
não tiveram êxito no mercado conservador dos anos 30

Texto: Anderson Nunes - Fotos: divulgação

Walter P. Chrysler sempre carregou consigo paixão pelas máquinas. Aos 45 anos esse jovem empreendedor, natural de Ellis, no Kansas, trazia em seu currículo a presidência da Buick e a direção geral da General Motors. Tendo sempre em mente a idéia de produzir um carro com seu nome, fundou em 1923 a Chrysler Corporation, comprando as instalações de outra fábrica de automóveis, a Maxwell-Chalmas.

Os estudos para criação do novo modelo tiveram início em 1924. O carro resultante, o Six, já mostrava uma das características de Chrysler: a inovação. Trazia motor de seis cilindros, alta taxa de compressão, potência bruta de 62 cv e freios de acionamento hidráulico, recurso disponível apenas em modelos mais caros na época. O sucesso foi imediato: no primeiro ano vendeu mais de 132 mil exemplares.

O perfil aerodinâmico e a estrutura monobloco foram destaques do Airflow, mas seu estilo não agradou ao público conservador dos anos 30

Chrysler, obcecado pela arte da inovação, propôs a seus engenheiros um modelo diferente de tudo o que havia no mercado norte-americano. Carl Beer, um dos chefes de engenharia da empresa, começou os estudos de um carro concebido segundo as leis da aerodinâmica. Chegou à conclusão de que um perfil de gota d'água poderia apresentar vantagens como aumento de velocidade, sem necessidade de maior potência, e menor consumo de combustível.

No Salão de Chicago em 1934 era apresentado o Chrysler AirFlow (fluxo de ar em inglês), trazendo, além dos estudos aerodinâmicos, um desenho um tanto estranho, mais que possibilitava grandes benefícios. Por exemplo: motor e cabine eram colocados mais à frente, resultando em melhor distribuição de peso e estabilidade. Devido às formas arredondadas, o espaço interno era maior, podendo acomodar três pessoas na frente.

Outro destaque era a construção monobloco, num tempo em que se aplicavam chapas metálicas a estruturas de madeira. Essa solução -- introduzida na década anterior pelo Lancia Lambda -- conferia uma resistência estrutural muito maior. Criou-se uma "gaiola" de proteção aos passageiros, que anos mais tarde viria a se chamar célula de sobrevivência. Também foi pioneiro no pára-brisa curvo e em uma única peça, na versão Imperial.

Com motor e cabine mais avançados, havia amplo espaço interno e capacidade para seis pessoas. Os passageiros estavam, pela primeira vez, envolvidos numa célula de sobrevivência

Mas essas qualidades não foram suficientes para a ascensão do Airflow. As formas arredondadas e inovadoras eram radicais demais para os anos 30 e muitos consumidores viram-se afugentados pelo desenho, já que imperava o conservadorismo. Nem mesmo a troca da grade dianteira art deco por uma tradicional -- e menos aerodinâmica -- em 1935 resolveu. Assim, a Chrysler encerrou sua produção em 1937, depois de pouco mais de 30 mil fabricados.

O AirFlow representou o prenúncio de uma nova era do desenho automobilístico. Foi um gênio mal compreendido a seu tempo.

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