Alemães com talento francês

Responsável por alguns dos mais marcantes carros da Mercedes-Benz
e da BMW, Paul Bracq marcou seu espaço em um território italiano

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Suas propostas sobre os esportivos SL e SLR dos anos 50 (em cima) mostraram à Mercedes que Bracq seria uma boa contratação à marca

O cupê e o conversível da linha "Fintail", com vidro envolvente, e o SL com teto "pagoda", de 1971: alguns de seus trabalhos para a estrela

Fala-se em desenho de automóveis e logo vêm à mente nomes italianos como Giorgetto Giugiaro, a família Pininfarina, Nuccio Bertone, Marcello Gandini, Pietro Frua. Mas nem só da Itália se fez o estilo de carros que marcaram época, e o francês Paul Bracq é um exemplo de talento originário de outra nação.

Nascido em Bordeaux em 13 de dezembro de 1933, Bracq estudou esculturas em madeira na École Boulle de Paris — na adolescência já criava miniaturas nesse material para carros existentes e de outros criados por ele. Começou sua carreira na mesma época no estúdio do compatriota Philippe Charbonneaux (1917–1998, autor de modelos da Renault como R8, R16 e R21), de quem foi assistente em 1953 e 1954. Em seu período o estúdio fez projetos especiais como o de um carro esporte para a espanhola Pegaso e uma limusine Citroën para uso presidencial.

Após ingressar no serviço militar, ele serviu à aeronáutica francesa em Lahr, na Floresta Negra. Certo dia, aproveitou a oportunidade de levar o automóvel do general
um Mercedes-Benz 300 "Adenauer" à revisão, em Stuttgart-Untertürkheim, para mostrar seus desenhos, que sugeriam uma remodelação ao conversível 190/300 SL da geração W198, então em produção. Os trabalhos chamaram atenção do departamento de imprensa da marca da estrela, que os levou ao austríaco Karl Wilfert, chefe de estilo de carrocerias entre 1959 e 1976. Após uma semana, Bracq era convidado a trabalhar na Mercedes.

A eclosão da guerra da Argélia exigiu que ele permanecesse no serviço militar por mais 18 meses. Contudo, Wilfert manteve a oferta e, em fevereiro de 1957, Bracq tornava-se o chefe do Departamento de Estilo Avançado em Sindelfingen, onde passou a desenhar modelos reconhecidos por sua clássica elegância. De sua prancheta saíram modelos como o cupê e o conversível da linha W111/W112 "Fintail", com vidro traseiro panorâmico ao estilo norte-americano; o grande sedã 600 (W100), um dos automóveis mais luxuosos da década de 1960; o sedã da geração W108, que corresponde ao Classe S lançado em 1965; e os cupês da série W114, o Classe E apresentado três anos mais tarde.

Foi também de Bracq o desenho da segunda geração do esportivo SL, a W113, produzida entre 1963 e 1971 e conhecida como Pagoda
— uma alusão à forma côncava do teto, que lembrava o telhado das construções asiáticas assim chamadas. Esses roadsters tinham a missão de substituir um clássico da marca, o 300 SL original de 1954, um dos carros que ele redesenhou e divulgou durante aquela promissora revisão do Adenauer.

Um dos elementos desse SL é a cabine com vidros muito amplos, que ele assim justificou mais tarde: "Gosto de visibilidade, de comunicação com o meio ambiente. A fim de aumentar a superfície envidraçada, abaixei a linha de cintura. Essa transparência também participa da segurança. Para mim, a cabine ideal é a dos helicópteros". O perfil peculiar do teto, porém, tinha sua desvantagem: "Na verdade, o Pagoda é um desastre aerodinâmico. O teto côncavo compromete o Cx, mas é o que Wilfert e [o projetista] Béla Barényi queriam. E, em termos de imagem, aquele desenho não usual do teto provou-se uma dádiva: ainda hoje o carro é conhecido em todo lugar como Pagoda".

Para os modelos W108, Bracq partiu do princípio de aplicar as linhas suaves de seu cupê "Fintail" a um sedã de quatro portas, para evitar o ar sisudo que esse tipo de carroceria tinha nos Mercedes — ele considerava o próprio 600 retilíneo demais. Definiu quatro linhas-mestras: proporções bem balanceadas, uma linha contínua da frente à traseira para subdividir a lateral, linha de cintura baixa para acomodar grandes áreas envidraçadas e rodas montadas em suas caixas de modo a parecerem niveladas com as laterais.

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Data de publicação: 25/10/11

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