
Bracq no departamento de estilo
com o Classe E de 1968 (à direita; um cupê abre este artigo) e uma
proposta rejeitada com faróis horizontais



Para a BMW ele fez a primeira
geração dos Séries 5 (em cima), 3 e 7, o cupê Série 6 (embaixo) e o
conceito Turbo (centro), de que derivou o M1

A ilustração dos picapes El
Benzo (alusão ao El Camino da GM): ideias recentes de Bracq, já
aposentado, com base nos Mercedes que ele fez |

Para sensação de comprimento e largura, propôs que os faróis empilhados
dessem lugar a conjuntos horizontais. Os diretores não aprovaram, mas o tempo
provaria que era uma boa ideia. À frente da marca alemã, Bracq trabalhou ainda
com o projeto de carros esporte com o motor rotativo Wankel e adotou soluções
como o uso de resina para modelagem de projetos, em substituição ao gesso,
pesado e frágil.
"Um dos trabalhos mais completos era com os cromados. Fazíamos de 10 a 15 seções
para escolher as formas que melhor refletiam a luz. A arte do cromo é otimizar a
parte que reflete a luz do céu, em detrimento daquela obscura, orientada para o
chão", ele lembra. O trabalho na Mercedes foi concluído em 1967, mas há pouco
tempo Paul comentou: "O dinheiro não era muito, mas havia sempre uma atmosfera
dinâmica e um fantástico relacionamento de trabalho entre engenheiros e
projetistas. Nenhum dos estrategistas de marketing jamais tentou influenciar
nossas decisões".
Depois do fabricante alemão, o projetista voltou à França e trabalhou para a
Brissonau & Lotz no desenho do TGV, o trem de alta velocidade. Criou carrocerias
especiais como um carro esporte com base no
BMW 1600ti, a pedido do importador norte-americano Max Hoffman, e um cupê a
partir do Simca 1100. Seu talento chamou atenção
de outra marca alemã de prestígio, a BMW, que o admitia em 1970 como chefe
adjunto de Estilo.
Por quatro anos, Paul Brack seria responsável por vários dos modelos mais
memoráveis que a BMW lançou nos anos 70. Isso incluiu o primeiro
Série 5, o E12 de 1972; o
Série 3 E21 de 1975; o
Série 7 E23 de 1977 e o cupê
Série 6 (E24), lançado em 1976 e
produzido sem grandes alterações de desenho até 1989. Sedãs e cupês sofisticados
de 12 cilindros foram concebidos por ele, mas nunca chegaram ao mercado, vítimas
da crise do petróleo deflagrada em 1973.
Por ocasião dos Jogos Olímpicos de Munique, em 1972, a BMW precisava de algo
especial para ganhar espaço na mídia. Seu edifício na forma de quatro cilindros
havia sido concluído pouco antes e um carro esporte seria perfeito para chamar a
atenção. Bracq projetou o conceito Turbo,
com faróis escamoteáveis, portas do tipo "asas de gaivota" e linhas ousadas,
aproveitadas em grande parte no modelo de
produção M1.
Bracq tem boas lembranças também de seu período na marca de Munique: "Podia
expressar minhas ideias sobre o estilo de automóveis com total liberdade,
respeitando a imagem da BMW dos anos 70". Embora alguns elementos dessa imagem
já estivessem na linha E3 de modelos grandes, de
1968, o primeiro Série 5, elaborado pelo francês, tratou de atualizá-los para
que vigorassem por praticamente duas décadas.
O francês retornou a seu país em 1974 para trabalhar na Peugeot, serviço que
manteve até 1996. Ali desenhou o interior de vários modelos de sucesso da marca,
como 305, 505,
205,
405, 106, 406 e
206, e criou um modelo especial
para o transporte do Papa. Também foram seus os ambientes internos de
carros-conceito dos anos 80, a exemplo de
Quasar, Oxia e
Proxima.
Aposentado, Bracq vive hoje em Caudéran, nas cercanias de Bordeaux. Transmitiu
aos filhos — Isabelle, artista, e Boris, projetista industrial — parte de seu
talento, mas não abandonou os desenhos: faz pinturas abstratas e ilustrações de
automóveis. Por 15 anos participou do júri de concursos de carros antigos
renomados, como os de Pebble Beach, Bagatelle, Monte Carlo e Bruxelas. Nada mais
justo para um francês que contribuiu para o histórico de seu país em um terreno
liderado pelos italianos.
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