O maestro dos grandes desenhos

À frente do estúdio de estilo, Nuccio Bertone conduziu
projetos marcantes e trouxe às ruas modelos especiais

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Primeiros trabalhos: o futurismo dos conceitos BAT 5 (em cima), 7 e 9 contrasta com a elegância simples do Alfa Romeo Giulietta Sprint

O padrão arredondado do Corvair Testudo (em cima) e do Lamborghini Miura (centro) deu espaço às formas angulosas do Marzal (embaixo), que também se parece com o Alfa Romeo Carabo (no alto da página)

Em uma galeria dos principais estúdios de desenho automobilístico da história haveria, certamente, um lugar reservado para a empresa que teve o italiano Nuccio Bertone à frente por quase meio século.
 
Seu pai, Giovanni Bertone, havia crescido em uma fazenda próxima à cidade de Mondovi, no sul de Piemonte, no fim do século XIX. Em 1907 mudava-se para Turim, onde cinco anos mais tarde fundaria, aos 28 anos, uma pequena empresa de construção de carruagens. Quando seu segundo filho — Giuseppe, logo apelidado de Nuccio — nasceu, em 4 de julho de 1914, o pai já ingressara no incipiente mercado de carrocerias para automóveis, que ele fornecia para o fabricante Diatto. Depois de suspender atividades durante a Primeira Guerra Mundial, a Bertone era reaberta em 1920 com foco nas "carruagens sem cavalo".
 
Interessado em colocar o filho em seus negócios, Giovanni incentivou-o a estudar economia na Politécnica de Turim, mas ele abandonou tais estudos para participar mais ativamente da empresa de 1933 em diante. Nuccio costumava dizer a amigos que havia crescido com uma dieta de "pão e carros". Naquela década a Carrozzeria Bertone vestiu chassis de Fiats e Lancias com carrocerias reconhecidas pela qualidade, algumas delas com estilo muito moderno, como os modelos Ardita 2500, 1500 Aerodinamica e 1500 Torpedo da Fiat. Nos anos 40 a produção de automóveis foi interrompida durante a Segunda Guerra, mas a empresa fez trabalhos como a ambulância derivada do Lancia Artena. Após o conflito, Nuccio participou de competições com diversos carros, incluindo um Fiat 500 barquetta (pequeno conversível)  que ele mesmo construíra.

Ao assumir o comando dos negócios, em 1950, Nuccio Bertone inaugurava nova fase para a empresa, que de encarroçadora passava a construtora de carros em pequena série. Quando viu seus trabalhos no Salão de Turim de 1952, o concessionário americano Stanley Arnolt decidiu encomendar à Bertone 200 carros esporte com mecânica MG, trabalho seguido por um com motor Bristol. O desenhista chefe da empresa, Franco Scaglione, também desenhou para a Alfa Romeo o elegante cupê Giulietta Sprint, de 1954. A intenção era fabricar 1.000 unidades, mas quase 40.000 seriam feitas daquele ano até 1965. Sem fins de produção, os carros-conceito BAT (Berlinetta Aerodinamica Tecnica) 5, 7 e 9 fizeram muita gente sonhar nos salões de 1953 a 1955.

Ainda nos anos 50, a Bertone criou os belos cupês Alfa Giulietta Sprint Special, Aston Martin DB2 e Maserati 3500 GT. E admitiu um talentoso jovem para a lacuna aberta com a saída de Scaglione: Giorgetto Giugiaro. Na década seguinte vieram novos clientes para a empresa, como BMW (com o cupê 3200 CS), Iso Rivolta (modelos 300, 340 e Grifo) e Simca (1000 Coupé). Durante esse período de auge dos cupês de estilo italiano, a empresa desenhou também o Alfa 2600 Sprint (incluindo versão conversível), duas variações do Ferrari 250, o Maserati 5000 GT e o Aston DB4 GT "Jet". Foi a época ainda dos conceitos Testudo (1963), com base no Chevrolet Corvair; Canguro, um ano depois; e Giulia GT, outro Alfa em 1965.

Com o lançamento do Fiat 850 Spider, também em 1965, a Bertone assumia sua primeira produção em grande volume: média de 120 unidades por dia, total de 140.000 carros num período de sete anos. Para a mesma Fiat foi elaborada a versão cupê do Dino, enquanto Pininfarina fazia o conversível. Mas esportivos de prestígio e alto desempenho também saíam das pranchetas da empresa, caso do Miura de 1966, do conceito Marzal de 1967 e do Espada de 1968, todos para a Lamborghini — obras de Marcello Gandini, que substituiu Giugiaro quando este passou a trabalhar na Ghia. Com base no Alfa 33 foi desenhado o estudo Carabo, de perfil muito baixo e portas do tipo tesoura. Outro Alfa de conceito, o Montreal de 1967, chegaria às ruas três anos depois. Continua

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Data de publicação: 27/1/09

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