

As preparações para os Fiats
brilharam nas ruas e nas pistas, como o Abarth 1000 com base no 600 (em
cima) e o 1600 OT derivado do 850


A fábrica de motores e seu
estande no Salão de Genebra de 1956


O cupê Bialbero 1000, com motor
de 104 cv e desenho semelhante ao do Simca Abarth, e o 131, que obteve
sucesso nos ralis depois do 124 |
Após a falência da Cisitalia em 1949, Carlo Abarth aproveitou algum
ferramental, projetos e também carros. Aperfeiçoou um dos modelos e o
rebatizou de 204 A. Este monoposto de boa aerodinâmica tinha motor
dianteiro de origem Fiat com 1,1 litro e potência de 83 cv. Atingia 190
km/h. O amigo e colaborador Tazio Nuvolari, a bordo desse fórmula,
ganhou uma corrida na cidade de Palermo, na Sicília. tendo como parte o
belo Monte Pellegrino. Por essa ótima e bem-sucedida experiência, o uso
de mecânica de série e carrocerias distintas se tornaria uma
especialidade da casa. Usando mecânica Fiat, a Abarth fabricou belos e
ousados esportivos desenhados por Scaglione e Vignale. A pequena empresa
logo passava a colaborar com clientes renomados como Pininfarina, Ghia,
Zagato, Bertone, Boano e Allemano.
No mesmo espírito que Amédée Gordini
— a troca de nacionalidade era mais uma coincidência entre a vida dos
dois —, Carlo extraía muita potência de motores antes apáticos. Com base
no Alfa Romeo 1900, com motor modificado
para despejar 135 cv (ante modestos 80 de série) e carroceria Ghia, um
belo cupê esportivo foi um exercício de estilo de sucesso. Em 1956 Carlo
saía em busca de recordes no autódromo de Monza, de curvas inclinadas. O
primeiro carro, o 750 desenhado por Scaglione e produzido dentro das
instalações de Bertone, era baixo e tinha linhas aerodinâmicas. O motor
de série, com precisa preparação, tinha 750 cm³ e 47 cv. A máxima foi de
195 km/h. Depois cobriu em um dia 3.750 quilômetros à média de 155 km/h.
Ainda nesse ano, usou mecânica Alfa Romeo e carroceria Pininfarina em
outro carro que bateu vários recordes.
Na década de 1960 os produtos da empresa estavam consolidados. Em 1962
era campeã mundial de Marcas na classe de 1.000 cm³ com um modelo de
motor Fiat. Faziam parte do catálogo, com base no popular
500 da marca italiana, três
versões especiais com cilindrada de 600 e 700 cm³. Com 27 a 38 cv,
atingiam entre 125 e 140 km/h. Eram mais baixos, tinham bitola mais
larga e faixas especiais. Ainda para o consumidor de rua, mas exigente,
baseado no Fiat 600, havia o
850 TC Corsa, que abusava da preparação. Seu motor de 850 cm³ com
carburador de corpo duplo Weber tinha 70 cv a 8.000 rpm e o levava a
quase 180 km/h. Podia ter câmbio de quatro ou cinco marchas e três tipos
de relação. Estes pequenos foguetes eram reconhecidos pelos para-lamas
mais largos, entrada de ar dianteira retangular e capô traseiro aberto,
imitado por aqueles que não podiam comprar o original — que chegava a
custar 30% a mais.
Baseado no cupê 850 da Fiat havia o OT
850/Oltre 130, com 40 cv e máxima de 135 km/h. Da mesma linha os modelos
Spider eram muito interessantes, com acabamento externo discreto, motor
de 1,0 litro e 62 a 75 cv, para até 172 km/h. Pronto para a briga, o
1000 Corsa tinha 78 cv a 7.400 rpm para apenas 580 kg. Bonitos e com
carrocerias especiais eram os cupês Bialbero, nome italiano para duplo
comando de válvulas. Tanto o modelo 700 quanto o 1000 eram caros, mas
impressionavam pelo desempenho na época. O segundo usava motor de 1,0
litro com 104 cv a 8.000 rpm — mais de 100 cv/l! —, chegava a 208 km/h e
tinha carroceria bem semelhante ao Simca
Abarth francês, contribuição valiosa de Carlo Abarth para Henri
Théodore Pigozzi, o patrão da Simca.
O topo de linha era belo OT 1300, que em 1966 custava apenas 20% a menos
que um Ferrari 330 GT. Com 1,3 litro, dois
carburadores Weber e cinco marchas, chegava a 270 km/h e tinha um
peso-pluma de 630 kg. Usava suspensão independente nas quatro rodas e
freios a disco Girling. Corria pela divisão S1 no Mundial de Marcas e na
24 Horas de Le Mans, onde enfrentou Porsche 906,
Ferrari 275 GTB e Alpine-Renault A210 M66 com ótimos resultados. Em 1967
a empresa concluía um projeto ambicioso: um motor V12 de 6,0 litros e
cerca de 600 cv com bloco e cabeçotes em alumínio. Infelizmente pouco
tempo depois, antes de ser montado num carro, a Federação Internacional
do Automóvel (FIA) mudou o regulamento, limitando a cilindrada para 3,0
litros. Muito investimento e esperança foram por água abaixo. Era um
sonho de Carlo ver um filho seu concorrendo com carros como Porsche 910,
Ford GT 40, Lola T70 e
Ferrari 330 P4.
Em julho de 1971 Carlo Abarth vendia sua empresa vencedora ao grupo
Fiat, que logo aplicaria o nome aos modelos de rali
124 Spider — no mesmo ano o carro
ficou em segundo lugar no Rali dos Alpes Austríacos. Fez uma bela
carreira em ralis até 1976, quando foi substituído pelo sedã
131, também com o famoso sobrenome do
ítalo-austríaco. Ainda em 1971 Carlo mudava-se para Viena, aos 63 anos.
Em outubro de 1979 morria em sua terra natal aos 71. Até hoje o nome
Abarth é símbolo de esportividade em vários modelos da Fiat, como 500 e
Grande Punto.
Com 10 recordes mundiais, 133 recordes internacionais e mais de 10 mil
vitórias nas pistas entre os carros de que participou, tornou-se uma
lenda sob o signo do escorpião.
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