

Um esboço de 1937 para a
Cadillac, um dos primeiros trabalhos de Bill, e o chefe de estilo Harley
Earl (à esquerda) junto de Mitchell em 1954


"Carros de sonho" com
participação do projetista: o Oldsmobile F-88 de 1954, com imponentes
rabos-de-peixe, e o SR-2, com base no Corvette |
Vários homens se tornaram renomados pelo conjunto de suas obras ou por
uma só. No entanto, seja um livro, um filme, uma música, um avião ou
automóvel, não existe uma única pessoa envolvida na totalidade da
concepção. Se Alec Issigonis foi o pai do
Mini inglês, existia uma equipe
competente por trás. O mesmo pode ser dito dos carros esporte do
comendador Enzo Ferrari e do inglês Walter Owen Bentley ou dos modelos
do brasileiro João Augusto do Amaral
Gurgel.
Nos Estados Unidos, um dos homens mais importantes do desenho
automobilístico foi William L. Mitchell, mais conhecido como Bill.
Nascido em 1912 na cidade de Cleveland, no estado de Ohio, ainda pequeno
mudou-se com a família para Greenville, na Pensilvânia, onde seu pai
montou uma revendedora Buick. Em 1927 ia trabalhar em Nova York como
desenhista na agência Barron Collier Advertising, parte de um grande
grupo que reunia bancos, hotéis e até linhas de ônibus.
Talentoso, estudou no Carnegie Institute of Technology em Pitsburgo,
também na Pensilvânia, e quando retornou para Nova York fez a Art
Students League, terminando o curso em 1931. Um amigo do patrão Barron
Gift Collier fez com que Mitchell entrasse em contato com Harley Earl,
que era chefe do departamento de estilo da General Motors e se tornaria
vice-presidente da corporação entre 1937 a 1959.
A carreira de
Mitchell iniciava-se no grupo GM em 1935, quando se juntou aos melhores
da equipe de Earl. Dois anos mais tarde se tornava chefe do estúdio
da Cadillac e da LaSalle. Era
muito jovem e já tinha muitas responsabilidades.
Sua primeira criação foi o Cadillac Sixty Special, um
modelo menor e mais acessível que os demais da marca. Suas linhas
arredondadas nos paralamas e capô e a grade cromada, também apelidada de
máscara de esgrimista, influenciariam muitos carros da década de 1940. Foi um
sucesso: até 1941 foram produzidas cerca de 18 mil unidades. Nesse ano
Mitchell deixava a empresa para se alistar na marinha norte-americana.
Os EUA não estavam ainda em guerra, mas se preparavam.
Após o conflito, foi convidado por Earl para retornar à GM a fim de
produzirem novos projetos. Bill teria um cargo melhor, uma grande equipe
e muito mais competências. Apesar de diferentes gostos e afinidades,
eles eram amigos. O fim da guerra soprava bons e novos ventos para todos
e para a indústria de automóveis, em especial nos EUA, a linha de
montagem estava em ritmo acelerado. Nas ruas e avenidas das metrópoles
do país, era notável o número crescente de veículos.
O ano de 1949 marcava o início de um extravagante, mas bem-sucedido
artifício da General Motors: o Motorama, evento que misturava show de
dança e música e carros fora do comum. Eram modelos de conceito — então
chamados de dream cars, carros de sonho — que em
alguns casos chegavam à bizarrice, mas em outros apontaram tendências
para os automóveis de produção dos anos seguintes. As décadas de 1950 e
1960 seriam de vital importância e muita criatividade para a indústria
norte-americana, mas também para o legado deixado por Mitchell.
Um conceito interessante foi o Oldsmobile F-88 ou XP-20, de 1954,
idealizado por Earl, Mitchell, Ken Pickering e pelo engenheiro belga de
origem russa Zora Arkus-Duntov — um dos idealizadores do primeiro
Corvette. O interessante cupê
foi um exercício de um grupo de homens de talento que faria muito
sucesso. Em 1956 o
público conhecia o SR-2, sigla que podia ser de Sebring Racer ou
Sports Racing. O piloto Jerry Earl, filho de Harley, queria competir num
Ferrari 250 MM nas provas
norte-americanas. O pai apresentou uma ideia melhor: conclamou seus
desenhistas e Bill Mitchell para fazer um Corvette mais feroz
para as pistas. A primeira versão tinha parabrisa mínimo e pequenos
rabos-de-peixe na traseira. Já a de 1957 mostrava um grande domo após o
posto do piloto, que servia como estabilizador, inspirado no Jaguar
D-Type. Bonito, o carro fez sucesso nas pistas.
Continua
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