

Após assumir a chefia de estilo,
Mitchell revelava em 1959 o Corvette StingRay (em cima), seguido três
anos depois pelo primeiro Mako Shark


O talento aplicado a modelos de
produção: o Buick Riviera de 1963, ao estilo "garrafa de Coca-Cola", e a
geração de 1967 do Cadillac Eldorado


O Mako Shark II de 1965,
semelhante ao Corvette 1968 de linha, e Mitchell diante de uma variada
galeria de conceitos assinados por ele |
No ano seguinte Earl deixava a GM, sendo substituído por Mitchell na
liderança do departamento. Em 1959 era a vez do XP-700, também baseado
no Corvette, que teve a supervisão de Mitchell. Era um conceito que
usava vários componentes de série. Do mesmo ano é um dos símbolos do
trabalho de Bill na GM: o conceito Corvette StingRay. Construído sobre
um chassi de corrida, que restou depois que a GM deixou de participar de
competições, tinha formas alongadas e aerodinâmicas (que inspiraram o
Corvette 1963), suspensão traseira De Dion
e motor V8 de 4,6 litros e 315 cv. O projetista o dirigia como carro de
fim-de-semana.
A década de 1960 seria muito marcante. Nascia um dos mais importantes
feitos do já então chefe do departamento de estilo da empresa de
Detroit: o Mako Shark, com linhas inspiradas em um tubarão. A inspiração
veio quando Bill pescava nas águas do arquipélago das Bahamas. A parte
superior do capô e a grade eram quase idênticas à cabeça e à mandíbula
do cordato. Suas guelras estavam representadas no esportivo por três
entradas de ar verticais, com pequena inclinação, que realçavam os
quatro canos de escapamento cromados laterais. As linhas traseiras
também tinham influência do animal. Seu teto, que poderia ser retirado,
era transparente. O poderoso V8 com
compressor atingia 450 cv e a pintura tinha dois tons em azul e
cinza. Tornou-se o carro de uso pessoal de Mitchell.
Ainda em 1962 nascia o Chevrolet Corvair Monza em versões GT e SS. Os
primeiros testes foram em Elkhart Lake e Watkins Glen, locais sagrados
de corridas de várias categorias importantes. Ambos tinham motor central
à frente do eixo traseiro e o desenho da carroceria abusava da
aerodinâmica. No SS a carroceria era aberta; no GT, portas, teto e
parabrisa eram uma única peça e abriam-se para frente. Seguindo a mesma
ideia, o capô fazia conjunto com os paralamas. Ambos contavam com o
motor de seis cilindros opostos de série
com 102 cv. Eram bonitos, com faróis embutidos e rodas de alumínio, mas
não passaram de carros-conceito.
Em 1963 entrava em produção uma das obras-primas da grande carreira de
Bill Mitchell: o Buick
Riviera, um cupê de alto luxo e bom desempenho, idealizado para
rivalizar com os europeus. Com linhas limpas e muito bonitas, agradou ao
público e foi elogiado também pelos estilistas do outro lado do
Atlântico. A geração original do belo automóvel foi produzido entre 1963
e 1965. Um modelo exclusivo foi feito para o criador. O teto era mais
baixo, tinha rodas raiadas de cubo rápido e motor V8 de 7,0 litros e 340
cv. Um dos mais belos carros produzidos na América dos anos 60.
Em 1965, outra surpresa para o mundo do automóvel: o estudo Mako Shark
II, que também era chamado de Manta Ray e seria a base do Corvette
fabricado entre 1968 e 1982. Impressionava pelas linhas imponentes, como
o anterior, e era apresentado nas cores preta e cinza. O projeto, de
código XP-830, apresentava frente muito longa, traseira curta, dois
lugares e um potente motor V8 de 427 pol³ (7,0 litros). Contribuições
importantes produzidas sob a batuta de Mitchell, ainda na década de
1960, foram o belo cupê Oldsmobile
Toronado e o Cadillac Eldorado
de 1967. Outro carro de extrema importância na história do grupo GM foi
o Chevrolet Camaro, sendo que
Bill participou das duas primeiras gerações e solidificou o belo cupê
compacto que fazia concorrência principal ao
Ford Mustang. Lançado em 1967, o
Camaro seguia a tendência de formas do Riviera, cujo perfil lembrava a
garrafa de uma Coca-Cola. Também do grupo, a Pontiac lançou o belo
Firebird aproveitando a
plataforma do Camaro.
Na década de 1970, outro Riviera fazia muito sucesso e causava impacto.
Lançado em 1971, tinha inspirações no Corvette Stingray de 1963 devido
ao formato do vidro traseiro. De estilo próprio, foi produzido até o fim
de 1973. Também teve uma versão personalizada para seu criador com
pequenos faróis retangulares, grade cromada menor que a de série e belas
rodas raiadas de cubo rápido. Outro modelo de sucesso foi o
Cadillac Seville, lançado em 1975.
Compacto e discreto, ia à contramão das linhas que Mitchell já
apresentava a seu público fiel, sempre na expectativa de desenhos de
impacto. Também contra os costumes das grandes empresas de automóveis
norte-americanas, GM, Chrysler, Ford e American Motors, Bill se dava bem
com os estilistas das marcas concorrentes, como Dike Teague da AMC e
Gene Bordinat da Ford.
Em 1977, aos 65 anos, William L. Mitchell, um homem apaixonado por
carros e pela sua profissão, muito educado e cortês, dotado de grande
senso de humor, aposentou-se após quase 40 anos numa das maiores
empresas de automóveis da América. Sempre se deu muito bem com a
imprensa e fazia questão de se apresentar ao divulgar seus carros nos
lançamentos. Comparecia a eventos para divulgação nos Estados Unidos e
na Europa. Onze anos depois, em 1988, um dos maiores projetistas
norte-americanos morria, deixando um legado inegável para toda a
indústria automobilística mundial.
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