Retrato de uma geração

Recriado aos 50 anos, o Fiat 500 desenvolveu
uma empatia única com seu público e sua época

Alguns carros são considerados clássicos por representar mais que a soma de suas qualidades. Faz meio século que um excelente exemplo disso nascia na Itália. Pequenino, econômico, prático, carismático e acessível, o Fiat Nuova 500 (Novo 500, observando-se que carro é macchina em italiano, ou seja, palavra feminina) tinha tudo para substituir com êxito comercial seu antecessor, o lendário 500 Topolino. Não era pouca responsabilidade. Desde o Balilla, a Fiat vinha obtendo grande êxito em suas tentativas de criar um automóvel popular, meta que o Topolino alcançara com sucesso, tanto antes quanto depois da Segunda Guerra Mundial.
 
Conhecido entre seus entusiastas pela pronúncia italiana do número, cinquecento (fala-se "tchinqüe-tchento"), o 500 viria a ser o mais bem acabado ícone da recuperação econômica do país no pós-guerra. Uma prova de como sua presença até hoje é forte no imaginário italiano é que a Fiat acaba de lançar — no dia 4 de julho, exatos 50 anos após o original — uma recriação assumidamente saudosista do modelo. Com esse novo 500 a Fiat tenta revitalizar sua imagem um tanto apagada no mercado europeu atual, comparando-se à de outros tempos, em especial aos tempos do "Cinquecento".

Para entender a importância do 500 é preciso analisar o contexto em que a Fiat e a Itália se encontravam nos anos 50. Logo após a guerra, a Itália teve de enfrentar limitações que aumentavam a emergência de seu processo de recuperação. Em termos de transporte urbano motorizado e particular, houve uma explosão na demanda por motonetas como a Lambretta e a Vespa. Enquanto isso os carros eram artigos de luxo, muitos dos quais projetos oriundos de antes do conflito. Era necessária uma renovação da frota, focada em automóveis mais acessíveis.
 
De 2.500 unidades vendidas em 1946, a Lambretta teria sua milionésima unidade produzida 10 anos mais tarde. Se 40 mil veículos motorizados em geral foram vendidos na Itália em 1951, quatro anos depois os de duas rodas contabilizariam 400 mil vendas. Esse importante indicativo norteou todo o projeto do Fiat 600 e, ainda mais, o do Nuova 500. A estratégia da Fiat era também a de agradar ao consumidor desses veículos com duas rodas a menos. E deu certo: já em 1955, quando o 600 foi lançado, o licenciamento de motos e motonetas começou a cair.

Em 1957, com a chegada do 500, pouco mais de 330 mil motonetas foram registradas. Mais pessoas preferiam um teto sobre a cabeça quando em trânsito. A motorização da Itália crescia de forma exponencial: de seis veículos para cada mil habitantes em 1950, uma década depois — quando a demanda pelo 600 e, sobretudo, pelo 500 estava mais quente — a relação seria de 32 por 1.000. Em 1970 a relação pularia para 167 por 1.000 e em 1980, cinco anos após o fim do "Cinquecento", seriam 330 veículos para cada 1.000 italianos, número equivalente ao do restante da Europa ocidental.
 
É impossível deixar de notar a participação do 500 nesse processo. Ele encerrou o período de renovação da linha Fiat no pós-guerra. Em intervalos de dois anos haviam sido lançados o 1400/1900, o 8V, o 1100 e o pequenino 600, até que em 4 de julho de 1957 surgiu o ainda menor Nuova 500. Levou uma década para a Fiat atualizar seu catálogo de produtos, mas valeu a pena. O 600 também já havia estabelecido fina sintonia com o mercado daquela época. A Fiat notara que os italianos queriam mesmo quatro rodas e, por menor que fosse o carro, ele ainda seria mais confortável no inverno ou na chuva que uma motoneta. Continua

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Data de publicação: 7/7/07

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