Há
mais de 40 anos, muito antes que o conceito de utilitário esporte se
consagrasse e se tornasse o sonho de consumo de muitos, um fabricante
inglês combinou as formas de um veículo fora-de-estrada ao conforto e ao
desempenho esperados, à época, apenas de um automóvel. Surgia naquele
1970 o Range Rover, modelo de
luxo da gama Land Rover que ganharia entre os admiradores a fama de "Rolls-Royce
dos 4x4".
Hoje as ruas e estradas estão tomadas pelos chamados SUVs (sigla para o
inglês sport utility vehicle), produzidos até mesmo por marcas pouco
afeitas ao tipo de carro, como Porsche, BMW e, em breve, Maserati. Mas
continua a existir — e, mais que isso, a impressionar pelo luxo, a
valentia e os atributos técnicos — o Range Rover, que o Best Cars
avaliou para a edição de aniversário de 14 anos em sua versão de topo, a
Vogue Autobiography, dotada de motor V8 a gasolina com
compressor, com preço sugerido de R$ 446
mil (confira também as avaliações do Audi RS5
e do BMW X3).
Os interessados em desfilar com algo moderno, dentro das últimas
tendências de estilo, podem logo descartar esse ícone britânico: suas
linhas com quase 10 anos de mercado (a atual geração foi lançada no
Salão de Detroit de 2002) buscaram, de forma talvez exagerada, uma
semelhança com a do modelo original de 1970. Mesmo com elementos atuais,
como os faróis e as lanternas traseiras dotados de
leds para a luz de
posição ou as rodas de 20 pol da versão, sua aparência tradicional
parece remeter a outros tempos — mas tem o charme de resistir às modas e
o mérito de não se
confundir com qualquer veículo no mundo.
Onde o Range Rover começa a conquistar é no interior. Ao abrir a porta,
mesmo os habituados a carros luxuosos impressionam-se com o requinte do
acabamento, com destaque para o revestimento dos bancos, portas e até do
painel em couro de altíssimo padrão
e o espesso carpete. No Vogue Autobiography avaliado, a combinação de
tons de bege e marrom em praticamente todo o interior era de um bom
gosto irrepreensível, a perfeita prova de que a mesmice da cor preta do
mercado brasileiro precisa acabar. Apliques de madeira nas portas,
console e painel estão de pleno acordo com o ambiente.
Ali, o moderno convive em harmonia com o nostálgico. A parte
conservadora está no predomínio de linhas retas, nas maçanetas das
portas (em posição muito baixa, o que poderia ser revisto) e na seção
inferior do painel, com comandos giratórios de ventilação e um
antigo relógio analógico — que no entanto tem aspecto pobre, sem a
sofisticação dos encontrados em outras marcas de prestígio. E o lado
moderno do interior? Esse merece uma descrição detalhada.
Começa pelo quadro de instrumentos, que são analógicos, mas virtuais:
velocímetro, conta-giros e marcadores de temperatura e nível de
combustível são, na verdade, imagens em uma tela de TFT (transistor de
película fina, superior ao cristal líquido, LCD) de 12 pol. Quais as
vantagens? Uma, a grande facilidade de leitura sob qualquer condição de
luz ambiente, que fica ainda maior quando se escolhe o modo de sombra: a
região ao redor do ponteiro fica mais clara que o restante. Outra, que
as informações podem ser reorganizadas ou sobrepostas. O aspecto do
conjunto é que
poderia ser mais elaborado.
O centro do quadro tanto pode ficar apagado quanto ser preenchido por
diferentes gráficos e mensagens, como o do configurador de funções e os que apontam o uso do HDC (controle de velocidade em descida)
e da reduzida, o bloqueio automático do diferencial central, os ajustes
feitos à suspensão e a escolha efetuada no sistema Terrain Response, que
veremos adiante. Há ainda recursos que só uma tela pode permitir, como
um clipe que percorre o aro do velocímetro e se fixa à velocidade
programada para o limitador.
Outro elemento típico dos novos tempos é o mostrador no centro
do painel, cuja tela sensível ao toque serve a
numerosas funções, entre as quais ajustes de áudio (com disqueteira no
porta-luvas e alto-falantes Harman/Kardon Logic7 com excelente
fidelidade), exibição de vídeo (com DVD), operação do telefone pela interface
Bluetooth e
navegação por satélite, funcional no Brasil. Como existem
mais dois monitores de vídeo nos encostos de cabeça, para uso pelos passageiros de
trás, o motorista pode definir na tela que tipo de entretenimento
passará em cada um desses monitores.
Continua |