Lothar me explicou muitas coisas ao entregar um faiscante Audi RS5 cuja
cor, azul Sepang, não me daria chance de passar despercebido nas ruas
nem sequer por um segundo.
Era uma tarde na qual eu precisaria que cada hora durasse três, para
cumprir meus compromissos, e o homem da Audi, grandão e com nome de
melhor amigo do Mandrake, o mágico de antigas histórias em quadrinhos,
me explicava calmamente tudo (tudo mesmo!) sobre o magnífico RS5, um
genuíno superesportivo com potência de 450 cv e preço de quase R$ 1.000
para cada um deles, desenhado por Ingolstadt como uma resposta ao
BMW M3.
Ouvi Lothar, prestando atenção no que não me interessava quase nada (as
possibilidades do sistema de áudio, por exemplo) e no que me interessava
muito (as possibilidades dos controles eletrônicos de suspensão, motor e
tração). Em dado momento, Lothar levanta a voz e afirma,
autoritariamente, que na tocada do RS5 devo colocar minhas décadas de
experiência ao volante de muitos carros no freezer, ou quase isso. Como
assim?
Assim: o RS5 é um carro equipado com a mais alta tecnologia em termos de
controles. De transmissão, tração, estabilidade, direção, freios,
câmbio, motor... Tudo está interligado, tudo atua em uníssono para
oferecer sempre e sempre o melhor em termos de desempenho. "E portanto",
concluiu Lothar, "mesmo quando você acha que desligou toda a assistência
possível, e que será você que estará no comando 100%, esqueça, pois não
é assim. O RS5 sempre estará tentando ajudá-lo a fazer o melhor. Não se
antecipe, não preveja uma 'traseirada', pois, se você tiver a reação que
teria com outro carro qualquer, vai se dar mal. Deixe que ele se
acerte".
Mensagem recebida. Alguns dias para verificar se era verdade tudo isso e
um tremendo peso nos ombros: como "desligar" instintos? Quanto será
possível ousar sem que o jogo fique perigoso ou... caro demais para
consertar?
Na saída da garagem da Audi em São Paulo, ao mundo real: em uma van
escolar, crianças arregalam os olhos. "Acelera, tio!" Tio... Um ciclista
desdentado quase se mata ao entortar o pescoço para ver o RS5 e, rindo,
me faz um sinal de positivo enquanto um ônibus não o esmaga por pouco.
Tudo isso em menos de 50 metros. Boa prévia da semana...
Das ruas apertadas passo à liberdade vigiada (pelas câmeras) da Marginal
Pinheiros. Limite de 90 km/h. No acesso, a chance de dar meu primeiro
pisão no fundo e ver como os pneus (medidas 285/30 R 20!) e a proverbial
tração integral Quattro interagem com o asfalto da pauliceia. Uma
olhadela para o lado e... crau no acelerador, pulo dentro da Marginal! O
Audi se arremessa com a esperada competência. Nada de perda de
aderência, nada de escandalosos gritos de pneus. Apenas eficiência na
transmissão de enorme potência ao solo.
De nada aos 90 km/h regulamentares, entrevejo os 5,7 segundos que nossa
simulação informa para esse RS5 na aceleração de 0 a 100 km/h. E o ruído
do motor, ah, que coisa! Mesmo com os vidros fechados, os portentosos
450 nada malditos cavalos fazem suas vozes chegarem bem presentes a meus
ouvidos. Os donos de RS5 devem gastar mais combustível só para ouvir a
música do V8, exalada pelas duas grandes saídas ovais dos escapamentos.
Na tarde paulistana, faltando poucos minutos para o caos máximo do
trânsito, levo o Audi RS5 para minha garagem em um nada anônimo — todos
me olham! — trajeto de menos de 10 quilômetros. Lá o guardo, lembrando
que um ano atrás ali esteve a perua RS6
Avant, cujo monumental V10 biturbo de 580 cv a fez recordista de
potência entre os Audis de produção — e entre os carros que
passaram por avaliação completa no Best Cars.
Continua |