Para-lamas abaulados, anexos
aerodinâmicos e belas rodas de 20 pol com acabamento grafite contam que
essa não é uma A6 Avant qualquer
As siglas RS e RS6 estão na
grade, na traseira, nas pinças de freio e em vários locais do interior,
para não deixar dúvidas de suas intenções |
Para
alguns é a garganta, que fica seca. Outros sentem um aperto no peito ou
um rebuliço no estômago. E há os que sentem comichões mais embaixo. Mas
será no cérebro, na mente, que a inimaginável experiência e as brutais
sensações de dirigir a Audi RS6 Avant deixarão sua maior marca. O mais
potente dos Audis jamais fabricados para uso em rua, e um dos mais
"ignorantes" veículos de quatro portas — e um grande porta-malas — do
planeta, é um automóvel muito, muito especial.
O paradoxo principal? A RS6 Avant é uma perua com a qual se pode fazer
supermercado, ir ao clube, viajar para a praia ou campo com família,
cachorro e papagaio a bordo. Enfim, ser usada de fato. Você se imagina
fazendo tudo isso com um Ferrari, um Porsche ou um Lamborghini? Se a
resposta é sim, você realmente perdeu um parafuso. Para todos eles o
mundo real, a vida como ela é, é complicado. Sua inadequação aos
percursos urbanos é escandalosa e, para serem realmente desfrutados sem
incômodo, esses carros de sonho precisam ser levados para uma estrada de
sonho ou, melhor ainda, uma pista.
Já com a Audi RS6 Avant o sonho é acordado mesmo. Usamos uma delas, na
cor azul Sepang eletricamente vistosa, durante uma semana para essa
avaliação especial que, em paralelo à do
BMW 550i, marca o 13º aniversário do Best Cars. Foi um sonho
que fizemos questão de tratar como um carro normal. Mas o que é normal?
É normal fazer de 0 a 100 km/h em 4,8 segundos e chegar aos 250 em menos
de meio minuto? É normal custar mais de R$ 550 mil? É normal ter rodas
de aro 20 pol em pneus 275/30? E ter 580 cv distribuídos em 10 cilindros
superalimentados por dois turbocompressores,
é o quê? Claro que normal não é. Mas saiba que, além das quatro portas,
do amplo compartimento de bagagem e de espaço interno adequado para
quatro adultos, ou até cinco, essa Audi viveu em São Paulo e adjacências
sem sofrer e sem fazer seu motorista sofrer. Raspa a frente? Quase nada.
Bate embaixo nas lombadas? Difícil. Constrange por ser chamativa?
Minimamente.
Normal? Normal... E de anormal, o que há?
Há a "patada", o murro no estômago, a resposta boçal ao comando do
acelerador — apenas comparável, em nossa mísera experiência, a acelerar
uma moto superesportiva tipo Yamaha YZF R1 ou Honda CBR 1000 RR
Fireblade. Mas há uma grande diferença entre tais motos e esse carro: na
RS6 Avant é sempre possível atolar o pé no fundo e fazê-la progredir de
zero até onde a coragem e/ou o bom-senso deixarem, sem nenhuma tarefa
especial. Nas motos, nem sempre.
Magias eletrônicas e a tração integral Quattro, em conjunto com os
enormes pneus, agarram o asfalto projetando à frente o atônito
passageiro dessa tecnologia, o motorista, que se sente numa nave de
George Lucas ingressando no hiperespaço, enquanto transforma a paisagem
circunstante em borrão. Numa moto a reduzida área de contato do pneu
traseiro e a incontrolável vontade do dianteiro em apontar para o céu
limitam a brincadeira e, por mais hábil que seja o piloto, sempre fica a
sensação de que a arrancada poderia ter sido melhor.
Na RS6 Avant não há frustração. Ele sempre faz o melhor, sem dúvida.
Seja quando se usa a caixa de câmbio automática pelas alavancas no
volante, seja deixando tudo a cargo do automatismo, a grande Audi azul
parte como um raio. A marca de Ingolstadt anuncia que suas duas
toneladas precisam de apenas 4,6 segundos para passar de 0 a 100 km/h.
Nossa simulação apontou pouco mais, 4,8 s, mas quisemos checar na
prática. Usando o sistema Race Chrono de medição por GPS, marcamos os
mesmos 4,8 s
com dois barrigudos a bordo e tanque cheio, e na primeira tentativa...
A alma da RS6 é o V10 nascido para equipar o
Lamborghini
Gallardo e que, diligentemente, foi adequado pela Audi para equipar
carros tão diferentes quanto o próprio Gallardo, o
Audi R8, os sedãs
S6 e S8
e essa impressionante perua. Em cada um a receita aplicada foi diferente
— com ou sem turbos, com 5,0 ou 5,2 litros de cilindrada e com
diferentes afinações. E a mais apimentada, veja você, foi reservada para
a RS6 Avant —
mais até que a do mais temperado Lamborghini V10, o
LP 570-4
Superleggera.
Continua |