

O motor V10 de 5,0 litros
mostra soluções das pistas, caso do cárter seco, e obtém o torque máximo
em quase toda sua faixa de operação
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Por melhor que o
BMW 550i e o
M3 do ano passado tenham se saído, a
expectativa era de que a RS6 Avant — mais pesadas que os sedãs,
é verdade, mas muito mais potente — assumiria o trono de carro
mais veloz e rápido que já passou pelas avaliações completas do
Best Cars. E ela o fez com brilho.
Embora a versão para o Brasil traga um limitador de velocidade a
303 km/h, a máxima real não chegaria a tanto em piso plano e sem
vento a favor: "apenas" 301,5 km/h,
apontados na simulação do consultor Iran Cartaxo. Para isso
basta usar a quinta marcha até o limite de giros de 6.700 rpm. A
sexta, um tanto longa para esse fim, termina a 299 km/h com o
motor
850 rpm abaixo da faixa de maior potência. Com um corte
de rotação mais alto, como 7.000 rpm, a Audi poderia chegar
perto de
310 km/h em quinta.
A atual sexta permite uma rodagem confortável, com meras 2.100
rpm a 120 km/h, velocidade na qual a potência consumida é algo
elevada, 34 cv (ante apenas 29 cv nos dois modelos da BMW). A
culpa recai sobre a aerodinâmica apenas mediana da RS6, com
Cx 0,35, embora a tração integral
imponha maiores perdas de energia.
Se o objetivo é acelerar, a tarefa é com ela mesma: 4,8 segundos
de 0 a 100 (apenas 0,2 s acima do informado pela fábrica) e 16,5
s de 0 a 200 são marcas fabulosas, ainda mais para uma perua de
duas toneladas. Assim como são as retomadas quase instantâneas,
em que dobrar de 80 para 160 km/h requer só 6,8 s.
Depois dessa exibição de desempenho, não dava mesmo para esperar
que a RS6 fosse econômica. Mesmo assim, os índices obtidos na
simulação são coerentes aos do BMW M3, carro menor, mais leve,
com 160 cv a menos e sem tração integral. Aqui, a combinação de
turbos e injeção direta favoreceu a Audi. |
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Velocidade
máxima |
301,5 km/h |
Regime à velocidade máxima (5ª.) |
6.700 rpm |
Regime a 120
km/h (6ª.) |
2.100 rpm |
Potência consumida a 120
km/h |
34 cv |
Aceleração de 0
a 100 km/h |
4,8 s |
Aceleração de 0
a 150 km/h |
9,5 s |
Aceleração de 0
a 200 km/h |
16,5 s |
Aceleração de 0
a 250 km/h |
29,2 s |
Aceleração de 0
a 400 m |
13,1 s |
Aceleração de 0
a 1.000 m |
23,1 s |
Retomada 60 a 100 km/h em
drive |
2,7 s |
Retomada 80 a
120 km/h em drive |
3,1 s |
Retomada 80 a
160 km/h em drive |
6,8 s |
Retomada 80 a
200 km/h em drive |
12,9 s |
Retomada 120 a
160 km/h em drive |
3,7 s |
Retomada 160 a
200 km/h em drive |
6,1 s |
Consumo em
cidade |
4,3 km/l |
Consumo em
estrada |
7,2 km/l |
Autonomia em
cidade |
311 km |
Autonomia em
estrada |
520 km |
Conheça
o simulador e os ciclos de consumo |
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Velocidade
máxima |
303 km/h |
Aceleração de
0 a 100 km/h |
4,6 s |
Consumo em
cidade |
4,9 km/l |
Consumo em
estrada |
9,7 km/l |
Consumos
pelos ciclos e com combustível europeus |
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Ao
contrário de nosso outro carro de aniversário, o confortável e
superequipado 550i, a RS6 mostra um ambiente interno essencial, sem
firulas, voltado a acelerar e nada mais. Claro que há conveniências como
ar-condicionado automático de duas zonas, faróis e limpador de
para-brisa automáticos, um completo computador de bordo, abertura e
fechamento de vidros e teto solar a distância, freio de estacionamento
com comando elétrico, câmera traseira para orientar manobras,
sensores de estacionamento à frente e
atrás, um sistema de áudio sofisticado com alto-falantes da renomada
marca Bose e interface Bluetooth — e até
controlador de velocidade. A pressão dos
pneus é monitorada, embora não sejam do tipo que pode rodar vazio.
Entretanto, os elementos mais importantes são mesmo o banco feito para
agarrar o motorista em seu lugar nas curvas, o volante incapaz de
escapar das mãos com seu revestimento áspero, os pedais em posição
ideal, o apoio de pé esquerdo bem definido ao lado deles e o botão
prateado no console onde se lê Start.
E para que serve tudo isso? Calma, já vamos contar...
Carrossel
serrano
Onde levar a RS6 para
testá-la? Pista? Nenhuma disponível no período do teste. Espremê-la em
autódromo nos daria um intenso prazer mas, para fins de avaliação, seria
mais adequado o dia a dia de um carro normal e, para finalizar, uma
viagem: uma estrada boa para ver do que ela é capaz e... curvas. Sim,
porque aquelas grandes rodas calçadas por pneus de fazer inveja a muito
carro de corrida pareciam clamar por serem abusados. Deixe conosco...
De São Paulo ao Vale do Paraíba, para uma visita à sede do Best Cars
em Pindamonhangaba, foram pouco mais de 100 km em rodovias com boa
pavimentação e... radares a rodo. Não, aqui não é a Alemanha, terra
natal da RS6, e a Ayrton Senna — apesar do nome — não é uma pista de
corrida. Nas autobahnen alemãs, as superestradas onde o limite de
velocidade quem impõe é o senso comum e não a lei, a RS6 chega a 250
km/h limitada pela central eletrônica ou, se preferir seu dono, há um
pacote opcional que acrescenta 30 km/h. Já a versão vendida no Brasil
pode passar de 300 km/h.
Não chegamos perto disso — radar e juízo. Mas nem precisamos, pois a RS6
comunica imediatamente seu (mau) caráter assim que o motor é ligado.
Pelas duas saídas ovais de escapamento em cada lado da traseira, o que
sai é música clássica ou rock pesado — depende de quanto você aperta o
pedal da direita. Na cidade, ronrona como um grande gato. Um fiozinho de
acelerador e ela evolui, acompanhando Kombis e Towners batendo lata e
você, ali, Bach em V10 menor. Se aparecer um AMG do lado, um
M-qualquer-número, o gato vira tigre. E aí a encrenca é forte. Led
Zeppelin, V10 metal, tão pauleira quanto pode ser o rock.
Leon, de seis anos, ao ouvir a RS6 acelerando, parada, exclamou: "Que
bravo!". Seis anos e já entendeu do que se trata. Não é um minigênio,
mas captou a mensagem evidente do V10, que assim que ultrapassa 2.500
rpm exclama poder pelo escapamento.
Poder que se manifesta nas saídas de pedágio, com P de "pecar". No caso,
é a soberba o mau preceito a ser praticado. Enquanto os outros aceleram
seus míseros motores de 1,0 litro — ou que sejam dois, tanto faz —,
fazendo girar rodas a pífias rotações, nós, pecadores renitentes,
afundamos o pé para regozijo extremo e humilhação alheia. Sim, pecando,
sem culpa. E, como todo prazer proibido, pecar de RS6 é mais pecado. De
0 a 200 km/h, informa nosso simulador, passam mínimos 16,5 segundos. Ao
olhar pelo retrovisor você vê ainda o pedágio, pois chegar a essa
velocidade insana requer coisa de 500 metros de distância. É fácil e
rápido ir preso com a RS6...
E como ela arranca? Fritando os quatro grandes 275/30 que, cada, custam
mais que os últimos oito pneus que você comprou na vida? Que nada! A
tração Quattro faz seu serviço — lembre-se, 40% de torque no eixo
dianteiro, 60% restantes atrás, que se adaptam conforme a necessidade —
e impede qualquer fumacinha e guinchos de pneu. E desligando totalmente
os controles de tração e estabilidade? Nem assim. Talvez se houver uma
areiazinha, alguma umidade, aí sim a fritada ocorra. Mas fritura não é
saudável para o colesterol e para a aceleração impecável que os técnicos
da Audi quiseram para o mais potente de seus carros.
Uma estrada deserta, sem olhos eletrônicos ou humanos. Possível?
Sim, ainda. Escondida, estreita, mal pavimentada, nada sinalizada.
Curvas apertadas, talvez mais do que a RS6 goste, mas foi o possível, o
que conseguimos. E nela o rock rolou solto. Meia hora ou mais de surra,
com poucos quilômetros e muita emoção. Trabalho braçal: a Avant põe o
preparo físico à prova, a força g faz os bancos envolventes — com
volumosos apoios laterais que um ou outro achou exagerados — fazerem
sentido.
Pedaleira exata, com acelerador sensível, enorme pedal de freio. Volante
com amplas regulagens em altura e distância — dá para trazê-lo próximo
do peito, braços bem dobrados. Na mão. Das três opções de regulagem da
suspensão, escolhemos a intermediária Dynamic, pois a Sport se comprovou
rígida demais para uma estradinha com tantos remendos. A rigidez
torcional do chassi exalta. Nenhum rangido denuncia que a estrutura está
trabalhando, pois ali quem assume o serviço é o soberbo conjunto de
suspensões, apesar da natural transmissão de impactos pelos pneus de
perfil ultrabaixo.
Continua |