Olhar estrangeiro

Com estilo e técnica inspirados em europeus e japoneses,
o Chevrolet Citation entusiasmou e frustrou nos anos 80

Texto: Fabiano Pereira - Fotos: divulgação

Se o Club Coupe de três volumes (embaixo) era o mais atraente da linha, os hatches de três e cinco portas aderiam à tendência europeia

O interior espaçoso podia vir mais equipado na versão X11; os motores de 2,5 e 2,8 litros davam bom desempenho e o consumo era moderado

Basta pegar como exemplos o Renault 20/30, o Simca 1307, os Citroëns GS e CX, o Rover SD1 ou mesmo o primeiro Volkswagen Passat. A década de 1970 propiciou um boom dos sedãs de dois volumes, em especial os hatches, aqueles com terceira ou quinta porta. Ainda que nem sempre praticado, este estilo se difundia no mercado europeu desde o Renault 16 de 1965. Paralelo a isso, os norte-americanos tomavam contato e criavam certo gosto por carros importados compactos (para os padrões da época) de tração dianteira, como o Honda Accord e o VW Dasher (Passat). Foi inspirada nessas duas tendências que a Chevrolet criou o Citation para 1980.

Iniciado em 1974, em plena efervescência da primeira crise do petróleo, o projeto previa um carro econômico, espaçoso, confortável, seguro e durável. Logo se decidiu que a tração dianteira seria a opção mais adequada a tais metas. A previsão era lançar o Citation com a linha 1979, mas problemas com componentes novos do projeto exigiram um adiamento até abril daquele ano. A General Motors preferiu não esperar até o lançamento da linha 1980 completa, pois assim ele poderia ser vendido por 17 meses até ser submetido a novos exames de certificação de emissão de poluentes da Environmental Protection Agency (EPA, agência de proteção ambiental), processo demorado e custoso.

Substituto do Nova, o Citation foi o primeiro compacto da GM a utilizar esse tipo de tração, mas, independente de segmento, os dois maiores diferenciais do projeto tinham precedentes na corporação. Em 1966, o Toronado surpreendeu na linha Oldsmobile por ter as rodas da frente tracionadas, o que o Cadillac Eldorado adotaria no ano seguinte, naquela que foi a atualização mais marcante da história desse modelo de luxo. De qualquer modo, o Citation foi também o primeiro Chevrolet de tração dianteira e reiterava o crescente apreço dos norte-americanos pelos carros importados da Europa e Japão.

Já sua carroceria de dois volumes teve no Buick Century e no Oldsmobile Cutlass de 1979 um prenúncio. Ainda que sem ter uma tampa que incluísse o vidro traseiro — condição para ser chamada de porta —, esses modelos primos já adotavam traços bem semelhantes aos dos europeus hatch ou fastback, algo que a Chevrolet só experimentara até ali nos EUA com o Monza e o Chevette, de duas portas. Em abril daquele ano, com traços mais agradáveis que os do Century e do Cutlass, o Citation irrompia como modelo 1980. Ele tinha as versões hatch de três ou cinco portas e um atraente cupê de três volumes, o Club Coupe. Como praxe entre as divisões da GM, sua plataforma X, herdada do Nova, era compartilhada com o Buick Skylark, o Oldsmobile Omega e o Pontiac Phoenix. O Buick e o Olds, no entanto, só tinham versões de três volumes — um cupê diferente do Citation e um sedã. Já o Pontiac, além deste outro cupê, também era oferecido como hatch de cinco portas, o mesmo desenho básico do Chevrolet.

Se o Nova era um compacto com opção de motor V8, o Citation só podia ser escolhido com um V6 de 2,8 litros (176 pol³), potência de 115 cv e torque de 20 m.kgf, ou um de quatro cilindros de 2,5 litros (151 pol³), 90 cv e 18,5 m.kgf — ambos com comando de válvulas no bloco e alimentados a carburador. O segundo rendia 8,6 km/l na cidade e 14,9 km/l na estrada, segundo o fabricante. Para contribuir para a economia, havia expressiva redução de peso. O câmbio podia ser manual de quatro marchas, com quarta sobremarcha, ou automático.

Por fora o Citation podia até ser considerado compacto para os padrões da época, mas por dentro seu espaço para cinco ocupantes era considerado de carro médio pela EPA. Construído junto ao Pontiac Phoenix numa unidade da GM na cidade de Oklahoma, ele media 4,49 metros de comprimento, 2,66 m de entre-eixos, 1,73 m de largura e 1,35 m de altura. A suspensão dianteira era McPherson enquanto na traseira eram usados braços arrastados. As carrocerias de duas e três portas também podiam vir na versão X11, de aspecto esportivo. Contava com suspensão mais firme, pneus radiais 205/70 R 13 com letras brancas (185/80 R 13 nos demais), aerofólio e volante esportivo, além de bancos dianteiros individuais, console central e instrumentação extra com contagiros, amperímetro, termômetro e manômetro de óleo opcionais. Continua

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Data de publicação: 28/4/09

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