O primeiro uso do nome foi no
Celica Camry, variação de quatro portas do cupê esporte da Toyota,
lançada em 1980 para o mercado japonês
O Camry de primeira geração:
versões de dois e três volumes, desenho retilíneo e tradicional, tração
dianteira, três motores de quatro cilindros |
A
Toyota parece sempre ter gostado de ligar a imagem de seus carros à
realeza. A palavra "coroa", mote para o batismo do
Crown, do
Corolla e do
Corona, também serviu para um quarto
modelo de muito sucesso, sobretudo no mercado norte-americano. O Camry,
uma transcrição fonética da palavra japonesa "kanmuri" — que significa,
de novo, coroa —, mantém-se há décadas como um dos modelos mais vendidos
nos Estados Unidos, fazendo bonito frente a nomes de peso como
Ford Taurus e seu arqui-rival
Honda Accord. Considerados
modelos médios naquele país (embora fossem grandes por outros padrões,
como os brasileiros), eles devem oferecer muito por pouco: espaço,
solidez, confiabilidade, conforto, desempenho. Quem segue a cartilha
colhe resultados e foi isso que a Toyota conseguiu.
O nome Camry surgiu antes mesmo do próprio carro: apareceu em 1980 como
uma versão de quatro portas do
Celica. Este, por sua vez, era uma versão repaginada de outro
modelo, o Carina. A independência só viria dois anos depois com o
lançamento do Camry da geração V10, um sedã compacto com quatro portas e
três volumes bem definidos.
As linhas tipicamente japonesas exprimiam bem os conceitos daquela
época: linha de cintura e base do para-brisa baixas, traços retos,
grande área envidraçada, colunas estreitas. Não era o expoente em
beleza, mas sim funcional. Foi páreo para o Accord, que seguia o mesmo
estilo consagrado. A frente trazia faróis retangulares, luzes de direção
que avançavam nos para-lamas e para-choques de plástico, que ainda não
eram do tipo envolvente. Na lateral discreta, destaque para os grandes
vidros nas portas e colunas em cor diferente da carroceria. Um vigia na
coluna traseira completava o conjunto e o toque de sofisticação ficava
por conta das maçanetas cromadas. A caixa de roda posterior tinha a
parte superior reta, como no
Chevrolet Omega de primeira geração, e a traseira trazia lanternas
horizontais de bom tamanho. Para o mercado japonês havia espelhos
retrovisores nos para-lamas, então obrigatórios naquele país.
Por dentro, as linhas retas que não surpreendiam continuavam presentes,
ao lado de boa qualidade de acabamento e espaço confortável para quatro
adultos. O carro, que na linha Toyota estava acima do Carina e Corona em
tamanho, media 4,44 metros de comprimento, 1,69 m de largura, 1,39 m de
altura e entre-eixos de 2,6 m. O peso era de 1.045 kg. Vendido nas
configurações sedã e hatch cinco-portas, o Camry chegava aos Estados
Unidos com um motor de 1,8 litro e 74 cv, um de 2,0 litros com 92 cv ou
ainda o 2,0 a diesel de aspiração natural
com 74 cv (esse combustível, hoje com baixa aceitação por lá, teve seu
momento de interesse do consumidor no período após a crise do petróleo).
O câmbio podia ser manual de cinco marchas ou automático de quatro. Ao
contrário do Celica Camry, o Camry atualizado tinha motor transversal e
tração dianteira, em uma plataforma totalmente nova e adequada a tempos
de economia de combustível.
Essa particularidade seria notada pela imprensa. A revista
norte-americana Popular Science apresentava-o em 1983 como
"aconchegante e confortável, com muito espaço para você se esticar". Na
avaliação, o modelo mostrou desempenho apenas aceitável: "Não há nada
esportivo neste sedã de rodar macio, mas esse é o modo como ele foi
planejado. A caixa automática definitivamente prejudica a aceleração.
Mesmo com o câmbio manual de cinco marchas, que deveria obter toda a
vantagem dos 92 cv do motor, a falta de agilidade é aparente." Os
norte-americanos podiam comprar o novo carro nos acabamentos DX e LE. A
versão mais equipada LE se diferenciava com para-choques na cor do
veículo, conta-giros, sistema de áudio de melhor qualidade e vidros com
controle elétrico, entre outros. Uma pintura em dois tons, com o mais
escuro da linha de cintura para cima, também era oferecida.
As modificações vinham discretas com o passar do tempo. Em 1985
apareciam novos faróis e lanternas, painel de instrumentos com nova
grafia, bancos dianteiros mais amplos e porta-luvas maior. O DX ganhava
pneus mais largos, de 185 mm, tal qual a versão de topo. O Camry era
também vendido na Austrália, onde chegava apenas na versão GLi hatch. O
motor escolhido era o 2,0 a gasolina e o câmbio o automático. A Europa
recebeu o GLi com a opção de motores 1,8 e 2,0 litros.
Continua
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