Nos menores frascos

O 190 representou para a Mercedes-Benz não só uma redução de tamanho,
mas a oportunidade de brilhar nas pistas com suas versões esportivas

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Nas linhas discretas do 190, inspiradas no Classe S da época, havia espaço para uma ousadia com o porta-malas mais alto que o habitual

As formas e detalhes de estilo visavam a boa aerodinâmica; embora não sofisticado, o interior seguia o padrão de qualidade da Mercedes

Ao contrário do que muitos acreditam, a história da Mercedes-Benz não se fez apenas de carros grandes e luxuosos. Já no início da Daimler-Benz, estabelecida em 1926 pela fusão das duas marcas, houve modelos de pequeno porte como a série 130/150/170H de motor traseiro, lançada em 1931. O 170V de motor dianteiro, iniciado em 1936 e considerado a primeira geração do Classe E, era um carro médio para a época. No entanto, a tendência natural de aumentar os automóveis a cada reformulação levou a marca da estrela de três pontas a ficar muito tempo sem um representante nessa faixa.

É verdade que houve planos de retomar o segmento médio ainda nos anos 50, com o projeto de código W122, e na década seguinte com o W118/119, mas tais planos nunca se concretizaram. Contudo, em 1971 a Mercedes iniciava novos estudos de um modelo inferior ao Classe E da série W114/W115, ideia que se mostraria muito acertada logo depois. A primeira crise do petróleo, em 1973, e as normas de emissões poluentes e de controle de consumo nos Estados Unidos lançadas durante aquela década comprovaram que a empresa precisava descer um degrau, para oferecer seus conhecidos atributos de conforto, técnica e qualidade de construção em um pacote mais compacto e econômico.

Em 1974 já havia uma denominação para o projeto, W201, mas a Mercedes ainda discutia se deveria levar seu desenvolvimento adiante. Havia quem alegasse que um carro menor e mais barato abalaria sua imagem de requinte e exclusividade. A corrente a favor do projeto venceu — para o que contribuiu a legislação norte-americana de consumo corporativo, o Cafe, contaria mais tarde Werner Breitschwerdt, então engenheiro chefe. Os primeiros protótipos começaram a rodar em 1978 e em dezembro de 1982 era apresentado ao público o resultado do projeto, o 190. Embora na época a Mercedes prezasse a regra de denominar as versões pela cilindrada do motor (180 para 1,8 litro, 300 para 3,0 litros e assim por diante), foi preciso chamar toda a linha por esse mesmo número para evitar a duplicidade de designação, pois havia no Classe E, então na geração W123, versões com os mesmos motores do novo carro.

Concebido por Bruno Sacco, o estilo do 190 não poderia deixar de lembrar os Mercedes maiores, como o Classe S da série W126, de 1979. Os faróis retangulares com duplo refletor ladeando a grade cromada, que trazia a estrela "espetada" sobre ela, e as lanternas traseiras estriadas (para boa visualização mesmo após rodar por estradas sujas) remetiam a outros modelos da marca. Mas havia algo de inédito: a tampa do porta-malas mais alta que o capô, um rompimento da linha sóbria habitual da empresa. Outros cuidados com a aerodinâmica eram teto sem calhas (as emendas da chapa eram cobertas por frisos), limpador de para-brisa com um só braço, vidros "à flor da pele" e para-choques de plástico integrados ao desenho da carroceria. Com 4,42 metros de comprimento, 1,68 m de largura, 1,38 m de altura e 2,66 m de distância entre eixos, o carro era claramente mais compacto que o Classe E da época, de 4,72 m, 1,79 m, 1,44 m e 2,79 m, na ordem.

No interior, o 190 combinava certa simplicidade de acabamento — caso das laterais dos bancos em vinil e do comando manual dos vidros como item de série — a um ambiente familiar ao cliente Mercedes: painel elegante e de linhas sóbrias, três módulos de instrumentos com vários mostradores (até quatro no módulo da esquerda), grande volante de quatro raios, apoio bem definido para o pé esquerdo ao lado do pedal de embreagem e muito cuidado com a qualidade de construção. Apliques de madeira eram usados com discrição e apenas em algumas versões. A única nota destoante para quem estivesse habituado aos carros maiores era o freio de estacionamento, acionado por alavanca no console e não por pedal do lado esquerdo, como em todo automóvel Mercedes desde 1968. Continua

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Data de publicação: 15/8/09

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