


Compacto e sem a grade cromada
habitual, o 130 ainda era diferente no motor traseiro, de 1,3 litro e 26
cv, que o levava a modestos 92 km/h


O 150, com motor de 1,5 litro e
55 cv, existiu apenas na versão Sport Roadster e tinha soluções
curiosas, como o terceiro farol e os estepes |
Motores traseiros nunca foram novidade no universo do carro. A bem da
verdade, o primeiro automóvel da história, o Benz
Patent-Motorwagen de 1886, já tinha essa disposição. Entretanto, as
inovações de estilo e técnica dos anos 1930 revigorariam essa idéia,
dando origem a curiosos e bem-sucedidos modelos. O maior exemplo disso
é, sem dúvida, o Volkswagen Sedan.
Por outro lado, a Mercedes-Benz não teria a mesma sorte com seus 130,
150 e 170 H.
A combalida economia da Alemanha no período entre guerras levou a carros
pequenos, de baixo custo, para ajudar a sustentar os fabricantes e a
motorizar a população. Não é mera coincidência que mais de uma empresa
do país tenha pensado em criar um compacto que pudesse substituir os
populares veículos de duas rodas naquele mercado. A idéia do carro do
povo — volkswagen em alemão —, que tomara força nos anos 20, levou o
engenheiro Ferdinand Porsche a apresentar à direção da Mercedes sua
proposta. Naquele momento, porém, o fabricante não se entusiasmou.
Porsche não desistiu do projeto, que teve prosseguimento quando ele
fundou sua própria empresa de engenharia em 1931. O irônico é que, antes
que o engenheiro conseguisse viabilizar sua idéia para o carro do povo
defendida pelo governo alemão, a Mercedes-Benz colocou nas ruas sua
interpretação do que deveria ser um automóvel de pequenas dimensões e
preço acessível. Era o 130, apresentado no Salão de Berlim em fevereiro
de 1934. O modelo era a conclusão de uma série de protótipos que
começaram a ser construídos em 1930.
Havia uma importante semelhança entre o 130 e o que viria a ser o
Volkswagen: o motor instalado na traseira. Havia uma razão para isso.
Começava a vigorar na indústria a necessidade de carros mais
aerodinâmicos, para que o desempenho fosse otimizado pela menor
resistência ao ar. Com o intuito de rebaixar o capô, uma das melhores
soluções — sobretudo para carros pequenos — era voltar à disposição
traseira do motor. Além disso, por ter o motor junto às rodas de tração,
o eixo cardã pôde ser eliminado, com redução de peso e maior espaço
interno na seção central. Hans Nibel, que recebeu a incumbência da
Daimler-Benz de desenvolver um compacto de motor traseiro em 1930,
apresentava já no ano seguinte à direção da empresa o primeiro protótipo
dentro dessas premissas, o W17, também conhecido como 120.
Tratava-se de um veículo de quatro lugares e duas portas. A dianteira
ainda era quase vertical, mas o motor boxer
de quatro cilindros ficava lá atrás em posição transversal. Com 1,2
litro de cilindrada, produzia modestos 25 cv. Dois anos mais tarde, a
engenharia da Mercedes concluía outro protótipo com perfil mais
arredondado e traseira mais alongada, identificado como W25 D ou 175.
Uma curiosidade era a janela traseira oval dividida ao meio, algo
semelhante ao estilo “pretzel” dos primeiros Volkswagens.
O “D” do nome se justificava pelo motor de três cilindros a diesel, o OM
134 — carros movidos a tal combustível só chegariam ao mercado em 1936,
com o 260 D da própria Mercedes. Ele entregava 30
cv e razoável torque em baixa rotação, ao custo de alto nível de ruído e
vibrações. Doze exemplares do W25 D trataram de comprovar tal
deficiência, levando a empresa a abandonar a idéia de usá-lo em seu
futuro compacto. Mas a versão definitiva do projeto não estava longe de
ser apresentada ao público alemão.
Naquela edição de 1934 do Salão de Berlim, o Mercedes-Benz 130 (cujo
código interno era W23) se destacava em meio aos modelos maiores e mais
luxuosos oferecidos pela marca. As dimensões do sedã de duas portas já
eram razão para estranhamento: 4,05 metros de comprimento, sendo 2,50 m
entre os eixos, e 1,52 m de largura. Ainda que bem inclinado, o
compartimento do motor resultava em um terceiro volume no perfil do
carro, mais nítido que o dos porta-malas da época. Além disso, o que
mais chamava atenção era a ausência da costumeira grade cromada dos
Mercedes.
Continua
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