Acima do convencional

Ousado no estilo e na suspensão Hidractive, o XM deu seguimento
às tradições da Citroën de inovar e se afastar do lugar-comum

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

O antecessor: embora avançado para a época do lançamento (1975), o CX já não escondia a idade e precisava dar lugar a algo mais moderno

Em duas propostas de desenho (em cima a do centro de Vélizy; a outra é a de Bertone) para o XM, grande parte das formas do modelo definitivo

O perfil do XM lembrava o de uma seta e favorecia a aerodinâmica, com Cx 0,28; as quebras na linha de base das janelas chamavam a atenção

A Citroën tem em suas origens a fabricação de carros populares — seu fundador, André Citroën, não demorou a seguir na França a forma econômica com que Henry Ford fabricava automóveis em série nos Estados Unidos. Contudo, como outras marcas, a do "duplo chevron" não demorou a explorar o mercado de carros de luxo. Em 1928 era lançado o C6, com motor de seis cilindros, substituído pelo modelo 15 depois de quatro anos.

A chegada do 7CV/11CV Traction Avant, em 1934, levou ao estudo de um novo haut de gamme (topo de linha), o 22CV de motor V8, que nunca chegou ao mercado. Coube ao 15 Six de seis cilindros, da mesma linha Traction, representar a Citroën no segmento de luxo até que chegasse o DS, em 1955. Esse, depois de duas décadas brilhando como um estandarte de alta tecnologia, dava lugar ao CX — que de certa forma decepcionava em desempenho, embora uma solução existisse "em casa", o motor Maserati V6 usado pelo cupê de luxo SM.

Nos anos 80 os tempos eram outros para a marca. Absorvida pela Peugeot em 1976, o que formou o grupo PSA, a Citroën perdeu parte de sua ousadia no estilo e na técnica para atender a uma fatia maior de consumidores
e, para muitos, deixou no passado sua identidade. O CX já não parecia moderno e estava devendo recursos tecnológicos naquele período de rápida evolução, deixando a empresa atrás dos alemães em um campo que sempre foi sua bandeira.

Começavam em 1984 os estudos para o sucessor do topo de linha da marca. A direção da PSA encomendou propostas a três centros de estilo, dois na própria empresa (em Vélizy e em Carrières-sous-Poissy) e um externo, o estúdio Bertone. Os planos eram de compartilhar a plataforma com o futuro grande Peugeot, que seria o 605, e de adotar um motor V6 pela primeira vez desde o fim do SM. O desenho de Bertone foi o escolhido, mas com alterações: desapareceram os seis faróis, as coberturas das rodas traseiras e o sistema de projeção de informações do painel no para-brisa.

O conceito Activa, apresentado em 1988 no Salão de Paris, antecipava algumas ideias da engenharia do fabricante para o novo topo de gama, com destaque para a suspensão hidropneumática ativa com controle eletrônico. Em maio de 1989 era revelado o XM — nome-sigla que buscava identificação com o SM, notada também em suas linhas.

O carro impressionava — embora menos que os antecessores em suas épocas — já no estilo inspirado em uma flecha, com a frente muito baixa e afilada, dois volumes, grande área de vidros, para-brisa enorme e bem inclinado e traseira alta e truncada. Nas laterais, chamavam atenção os degraus na linha de base das janelas (um à frente do retrovisor, outro no fim da porta de trás) e os vincos marcantes em que se encaixavam as maçanetas. As janelas dianteiras tinham vidros como quebra-ventos, só que fixos, e o tratamento dado às colunas trazia a sensação de que todas as janelas estivessem integradas. O coeficiente aerodinâmico (Cx) era ótimo, a partir de 0,28.

Uma inovação do XM eram os faróis com refletores de superfície complexa desenvolvidos pela francesa Valeo, os primeiros no mundo em um carro de produção. A fábrica assim explicava a novidade: "Consistem em um refletor de forma elíptica e com sua superfície definida ponto por ponto (50 mil pontos) por meio de computador, de modo que 100% da luz seja refletida dentro dos limites fixados por lei para o facho baixo. A largura e o alcance dos fachos de faróis do XM são muito mais potentes. E a lente pode ser mais inclinada de modo a melhorar o Cx, algo que até então não era possível porque um vidro inclinado absorve muita luz (12% de perda para 20% de inclinação)". Na prática, porém, sua iluminação em facho baixo era criticada. Continua

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Data de publicação: 30/7/11

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