Das engrenagens a grandes automóveis

A máquina de farinha inspirou André Citroën, que aplicou o emblema
do duplo chevron tanto a carros para as massas quanto a luxuosos

Texto: Francis Castaings - Fotos: divulgação

André Citroën em 1920, ano seguinte ao início da fabricação de carros com seu sobrenome; no alto, o modelo de luxo C6 G produzido em 1931

O Citroën Tipo A de carroceria Torpedo de 1919, com partida elétrica e estepe, e um anúncio do mesmo modelo: "Para a cidade e a zona rural"

O fim do século XIX e o princípio do século XX foram marcados pelas novas máquinas da Revolução Industrial e por homens intrépidos. Tanto nos Estados Unidos quanto na Europa, nomes ficaram famosos no mundo do automóvel e até hoje brilham nas ruas e pistas. Na França, uma marca sempre foi destaque, apesar de pertencer ao Grupo Peugeot desde a década de 1970. É a Citroën, fundada por André Gustave Citroën, que começou fabricando grandes engrenagens para aplicações diversas no mundo industrial no fim do século XIX.

André nasceu em fevereiro de 1878 em Paris. Seu pai era holandês e trabalhava com pedras preciosas, sobretudo diamantes, e a mãe era polonesa. Aos 22 anos graduava-se na famosa Escola Politécnica de Paris. De fácil convívio, orgulhava-se de suas origens. Numa viagem à terra natal de sua mãe, reviu um parente que processava farinha e usava enormes engrenagens para moer. Observador e criativo, Citroën logo as aperfeiçoou, adotando forma helicoidal, o que anula o esforço axial, e fundindo-as em aço. Criava assim os dentes duplos em forma de “V” que seriam eternizados como símbolo da marca de carros Citroën: o duplo chevron. O sucesso foi imediato: clientes na França, Itália e Suécia logo fizeram encomendas. A empresa criada em 1905 começava a prosperar.

Três anos depois, apaixonado pelas máquinas com quatro rodas que começavam a mudar as paisagens das ruas da Europa, André passava a dirigir a Societé Automobile Mors, dos irmãos Louis e Emile Mors, que já haviam obtido sucesso em corridas de longa distância como Paris-Berlim e Paris-Madri. Muito dinâmico e organizado, passava a modernizar a administração da empresa que em 1908 já havia produzido 300 unidades do Tipo N, um automóvel familiar com carroceria aberta, luxuoso, mas simples de dirigir. Em 1912 partia para os EUA para conhecer os métodos de produção em série de Henry Ford, de quem se tornou amigo. Já havia comprado terrenos no Cais de Grenelle, na região parisiense, e erguido instalações muito grandes e modernas.

De volta à França, começava a aplicar os métodos de Ford e sua produção passava a mais de 800 unidades anuais, significativo na época. Também melhorava muito a condição de vida de seus operários. Na fábrica foram construídas creches e cantinas para os trabalhadores, que a partir de sua iniciativa passaram a admirá-lo. Com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914, toda a produção se voltou a armamentos: ali eram produzidos morteiros. Em 1915 a produção diária era de 10 mil peças, feitas por 13 mil empregados que foram muito bem treinados, pois a produção era delicada e exigia altíssima qualidade. No fim do conflito, em 1918, a produção chegava a 34 mil unidades por dia.

Após a guerra, André tinha duas ideias: fabricar carros de qualidade, principalmente para o grande público, e expandir sua produção para um continente que ele admirava, a África. O carro a ser produzido deveria transportar com relativo conforto quatro pessoas, ser fácil de manter e dirigir e potente o suficiente para enfrentar aclives de grandes cidades e estradas. Em 1919 era fundada a Citroën e nascia o leve e pequeno Tipo A, primeiro carro produzido em série na Europa. Tinha motor de 1,3 litro, potência de 18 cv e velocidade máxima de 65 km/h.

Estava disponível em vários tipos de carroceria, incluindo uma com três lugares (o terceiro banco estava alojado logo atrás do principal) e a do tipo Torpedo com capota de lona. Visto de cima tinha formato de gota. Fez enorme sucesso. Desenvolvido pelo competente engenheiro Jules Salomon, já usava alumínio na carroceria, partida e faróis elétricos e pneus Michelin (incluindo estepe, uma inovação) com câmaras de ar. Foi uma revolução àquele tempo e, de tão robusto e confiável, o modelo cupê era chamado de Coupé Docteur, em referência a um carro de médico que não poderia falhar em seus atendimentos. Continua

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Data de publicação: 14/7/09

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