O pequeno grande Alfa

Dono de soluções técnicas peculiares, o Alfetta atendeu da polícia aos
executivos e deu origem à apimentada série de hatchbacks GTV

Texto: José Geraldo Fonseca - Fotos: divulgação

O modelo inicial da linha, o Alfetta 1,8 sedã, mostrava linhas retas que inspiraram as do 2300 brasileiro, embora fosse um carro mais curto

Volante com aro de madeira, painel bem-equipado, bancos reclináveis: era um médio confortável, mas sem abrir mão de um tempero esportivo

Com duplo comando e dois carburadores, o motor de 1,8 litro entregava 122 cv e levava o Alfetta a 180 km/h: despertou o interesse da polícia

Os primeiros carros da Alfa Romeo chamados de Alfetta foram dois modelos de corrida, o 158 e seu sucessor 159. Eles conseguiram vitórias em competições que os colocaram entre os mais bem-sucedidos monopostos do automobilismo. Correndo entre 1938 e 1951, conseguiram 37 primeiros lugares em Grandes Prêmios, provas que antecederam a Fórmula 1. O Alfetta 158 ainda teve seu nome grafado na história como o carro que levou Giuseppe Nino Farina ao título no primeiro campeonato de Fórmula 1 disputado, em 1950. No ano seguinte, Juan Manuel Fangio foi campeão pilotando o 159.

O nome ressurgiu 21 anos depois, dessa vez como uma linha de carros de rua, em junho de 1972. Esse Alfa encontrou grande sucesso comercial, vendendo cerca de 500 mil unidades até o fim de seu ciclo de produção, embora nos últimos anos as vendas tivessem caído, devido aos problemas de confiabilidade que assolaram os veículos da empresa entre os anos 70 e início dos 80.

O primeiro a surgir, de nome apenas Alfetta, foi um sedã quatro-portas de tração traseira e cinco lugares, com carroceria concebida pelo Centro de Estilo da marca sob a direção do projetista Giuseppe Scarnati. O modelo médio, com 4,28 metros de comprimento, 1,67 m de largura e 1,43 m de altura, pesava cerca de uma tonelada. Tinha características de estilo típicas da marca, como o escudo dianteiro ladeado por quatro faróis circulares e a tampa do porta-malas elevada. Suas linhas retas certamente serviram de inspiração para o Alfa 2300 brasileiro, lançado dois anos mais tarde.

O Alfetta introduziu na Alfa o sistema de transmissão com transeixo, no qual, embora com motor dianteiro, a embreagem (de acionamento hidráulico) e a caixa de câmbio manual de cinco marchas ficavam na parte traseira do carro, em conjunto com o diferencial, para uma distribuição de peso mais equilibrada — como usado nos 158 e 159. O peso de todo o conjunto mecânico foi, assim, distribuído em valores próximos de 50% para a dianteira e para a traseira. Esse equilíbrio era ideal para a estabilidade e o comportamento dinâmico. Para reduzir as massas não suspensas, os freios a disco traseiros foram instalados internamente, ao lado da caixa de transmissão. A suspensão se baseava em braços duplos sobrepostos e barras de torção, na frente, e eixo rígido De Dion com molas helicoidais e ligação Watt na traseira.

De início estava disponível apenas o motor de quatro cilindros e 1,8 litro, com comando duplo no cabeçote — como já era tradicional na marca — acionado por corrente. Para alimentá-lo, dois carburadores de duplo corpo Weber ou Dell'Orto. A potência de 122 cv e o torque máximo de 17 m.kgf resultavam em velocidade máxima de 180 km/h, bom desempenho que chamou a atenção do Comando Generale dell’Arma dei Carabinieri, a polícia militar italiana, que adquiriu diversas unidades de patrulha. O modelo foi produzido em Arese, Milão, e na África do Sul do ano seguinte em diante.

Avaliado pela revista inglesa Autocar, o Alfetta recebeu elogios pelo motor com boas respostas em baixa rotação, o baixo nível de ruído e o comando de câmbio. O comportamento dinâmico também agradou: "O rodar continua típico da Alfa, com uma agradável sensação de controle em todas as velocidades. Há, sob qualquer condição, uma impressão de solidez pela ausência de ruídos da suspensão e a estabilidade é de alto padrão". Comparado ao Audi 100 GL, ao BMW 2002, ao Lancia Beta 1,8 e ao Triumph Dolomite Sprint, o Alfa tinha preço intermediário (o mais barato era o inglês, e o mais caro, o BMW) e boa aceleração no quarto de milha (0 a 400 metros), mas perdia para qualquer outro em consumo, o que consistia problema naquele período de gasolina cara.

O esportivo de Giugiaro   O modelo de três portas da linha, chamado Alfetta GT, era apresentado em 1974. Desenhado em conjunto pela Alfa e pela ItalDesign, empresa do projetista Giorgetto Giugiaro, mostrava uma carroceria amplamente envidraçada e sem qualquer ligação com a do sedã, sendo bem mais esportiva. Embora o Alfetta, com seus 4,19 m de comprimento, fosse apenas 11 cm mais longo que a geração anterior do GT, a do modelo Giulia — desenhado por Bertone e que permaneceria em linha até 1977 —, tinha um espaço interno bem maior com disposição de 2+2 lugares, ou seja, dois adultos na frente e duas crianças atrás, mais um razoável porta-malas de 240 litros. A largura de 1,66 m e a altura de 1,33 m garantiam o aspecto esportivo. Os 2,40 m de entre-eixos eram 11 cm a menos que no sedã. Continua

 

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Data de publicação: 12/2/11

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