


O modelo lançado em 1965, que
copiava os Mercedes SS e 540K, tinha três tubos de escapamento de cada
lado para o motor V8 de 5,4 litros


O modelo Phaeton SS, com quatro
lugares e linhas menos atraentes com capota fechada, e a pequena linha
de montagem de Milwaukee |
Os
brasileiros conheceram várias réplicas de carros antigos nas décadas de
1970 e 1980. Aqui foram produzidas cópias dos
MGs TD e TF (o MP Lafer), do
Bugatti 35 e do Alfa Romeo de 1931, todas com motor Volkswagen
arrefecido a ar. Outra foi o MG TF 1954 do piloto Antonio Carlos
Avallone, que era mais fiel ao original pois o motor de Chevette estava
na dianteira. Esbanjava pelo tamanho e a imponência o Concorde, com
motor Ford V8 do Galaxie, inspirado em carrocerias de carros clássicos
norte-americanos, sobretudo no
Duesenberg de 1933. Não poderia faltar nessa lista o
Porsche 356, reproduzido nos anos
80 pela Envemo e ainda disponível por meio da
Chamonix.
No resto do mundo também houve muitas réplicas, mas a história da
Excalibur é peculiar. Em meados da década de 1960 a norte-americana
Studebaker estava em péssima situação financeira. Alguns de seus modelos
eram muito ultrapassados; outros, nem tanto, como o
Avanti desenhado pelo francês
Raymond Loewy. Buscava-se uma última tentativa para tentar tirar a
empresa, fundada em 1852, da falência iminente. Um fato interessante é
que desde 1958 a firma de South Bend, no estado de Indiana, era
representante e distribuidora da Mercedes-Benz. Entregaram a tarefa de
criar um automóvel bem distinto, um carro digno de impacto, com estilo
clássico e famoso, ao reputado projetista Brook Stevens que, além do
Studebaker Gran Turismo Hawk, já havia projetado tratores, motocicletas
e até eletrodomésticos.
Como o orçamento era curto, ele deveria fazer um milagre sobre o chassi
do Studebaker Lark Daytona. Devido às circunstâncias financeiras o carro
não foi apresentado no Salão de Nova York de 1963 como se pretendia e,
para piorar, Stevens ficou sem apoio. Já com todo o ferramental pronto,
ele não hesitou em pedir ajuda aos bancos e à General Motors, que lhe
cederia o motor do esportivo
Corvette. Com o caixa reforçado, em 1965 era apresentado o Excalibur
SS. O nome, muito bem escolhido, é o da famosa e lendária espada do Rei
Arthur, personagem lendário da velha Inglaterra do século VI.
O belo automóvel tinha o desenho baseado nos famosíssimos
Mercedes-Benz SS
e 540K produzidos entre o fim da
década de 1920 e o começo da de 1930. Para duas pessoas, o esportivo com
para-brisa plano podia receber uma capota de lona. O bagageiro cromado
protegia o estepe, que era fixado atrás sobre a tampa do falso
porta-malas. Muito bonito, chamava a atenção com os para-choques
cromados, belas rodas raiadas que usavam pneus
diagonais 7,75-15 e três canos de
escapamento de cada lado, também cromados, que saíam do capô dianteiro e
seguiam até o eixo traseiro. O capô trazia ainda entradas de ar e podia
vir ornamentado com uma grossa correia. Na frente a grade do radiador
também chamava atenção, por ser grande e pelo mascote que ostentava —
uma mulher de braços abertos inseridos num arco de metal. De longe
poderia ser confundido com o Benz original. Havia três faróis
circulares, sendo um no meio, apoiados em uma estrutura de tubos. Atrás
o para-choque era discreto, assim como as pequenas lanternas.
Era difícil não notar sua presença, mas não pelas dimensões, que eram
comedidas: o Excalibur media 4,25 metros de comprimento, 2,77 m de
entre-eixos, 1,70 m de largura e apenas 1,19 m de altura. Seu peso era
de 1.080 kg. A carroceria de plástico reforçado com fibra-de-vidro vinha
apoiada em chassi com longarinas de aço. Por dentro tinha acabamento
primoroso. Os bancos com apoio de braço central eram revestidos em
couro, assim como a forração das portas e do painel. Este tinha seis
instrumentos circulares com desenho imitando os da época antiga. O
volante, com aro de madeira e formato moderno, destoava um pouco do
restante.
O motor Chevrolet V8 tinha cilindrada de 5.358 cm³ (327 polegadas
cúbicas), taxa de compressão de 10,5:1,
potência de 305 cv e o torque generoso de 49,7 m.kgf (valores
brutos). Era alimentado por um carburador de corpo quádruplo da
marca Carter. Com tração traseira, usava caixa de câmbio de quatro
marchas manual ou a Powerglide automática com duas velocidades. A
velocidade máxima de 185 km/h podia ser considerada ótima em função da
aerodinâmica. A suspensão era independente na frente, com molas
helicoidais, e a traseira usava eixo rígido com feixe de molas
semielíticas. Os freios dianteiros usavam discos, e os traseiros,
tambores. Era produzido em Milwaukee, no estado do Wisconsin, também a
sede da Harley-Davidson.
Tratava-se de um carro para desfilar — e não demorou muito para
surgirem clientes como artistas da música e do cinema, a exemplo de
Frank Sinatra, Steve MacQueen e Tony Curtis.
Continua
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