

Em 1979 chegava o Bitter SC, com
motor Opel de seis cilindros e 3,0 litros, suspensão traseira
independente e carroceria produzida na Itália



O charmoso conversível e o sedã
de quatro portas -- este com maior entreeixos -- vieram ampliar a linha,
mas tiveram fabricação reduzida

A Bitter tentou voltar em 2003
com o CD2, este cupê baseado no Holden Monaro que não se mostrou viável;
hoje oferece um sedã personalizado |
De
fato, economia de combustível não era o forte de seu V8 de 327 pol³
(5.354 cm³), com comando de válvulas no bloco
e carburador Rochester Quadrajet, que fornecia potência de 230 cv e
torque máximo de 43,5 m.kgf. Nem seria esperado outro resultado de um
grande cupê de 4,85 metros de comprimento, 1,84 m de largura, 1,28 m de
altura e 2,68 m entre eixos, que pesava 1.762 kg e vinha de série com
câmbio automático de três marchas. Em contrapartida, seu desempenho era
brilhante para a época: velocidade máxima de 210 km/h e aceleração de 0
a 100 km/h em 9,6 segundos, de acordo com o fabricante. Rodar a 160 km/h
impunha meras 3.500 rpm ao motor. Um devorador de autobahnen, as
auto-estradas alemãs sem limite de velocidade.
E não era só, pois havia um interior bem-acabado e luxuoso: bancos
revestidos de couro, painel com aplique de madeira, seis instrumentos,
ótimo isolamento acústico e o obrigatório volante de quatro raios. Teto
solar com comando elétrico, ar-condicionado integrado, antena no
pára-brisa e quatro modelos de rádio, entre Blaupunkt, Clarion e Berlin,
eram opcionais. As suspensões seguiam as do Diplomat (dianteira
independente com braços sobrepostos
e traseira com eixo De Dion) e o CD
usava rodas de magnésio com pneus 215/70 R 14 V e freios a disco
ventilado. O tanque levava 80 litros e a tração era traseira.
Foram produzidos 395 cupês até 1979. A essa época o Diplomat já não era
produzido e, como sinal dos tempos, a Opel havia abandonado os motores
V8. Seu novo topo de linha, o Senator,
usava um seis-cilindros em linha de 2.968 cm³, 177 cv e 25,3 m.kgf, com
injeção eletrônica multiponto Bosch
L-Jetronic (o mesmo motor usado no
Omega brasileiro de 1992 a 1994), que foi aplicado ao Bitter SC,
lançado em 1979. A empresa de Schwelm contava com tamanho respeito da
Opel que teve acesso, já em 1977, às novas plataforma e mecânica e a
auxílio técnico.
A sigla SC era de Senator Coupé, naturalmente, mas desta vez a linha
incluiria um conversível, a partir de 1984, e um sedã de 1985 em diante.
O estúdio italiano Michelotti participou do desenho, cuja aerodinâmica
foi avaliada no túnel de vento da Pininfarina. A produção da carroceria
e do interior coube à também italiana OCRA, de Turim (mais tarde
substituída pela Maggiore), pois o acordo com a Baur não seria mantido
após o fim do CD. A montagem à mecânica, porém, continuava na Alemanha.
O novo cupê mantinha os faróis escamoteáveis, mas seguia o formato
três-volumes e tinha linhas retas, que hoje impressionam menos que as de
seu antecessor. Media 4,85 m de comprimento, 1,82 m de largura, 1,35 m
de altura e os mesmos 2,68 m entre eixos do CD, mas era mais leve com
1.515 kg. As rodas de 15 pol vinham com pneus 215/60 à frente e 235/55
atrás e a suspensão traseira, independente com braço semi-arrastado,
representava evolução sobre a do antecessor (a dianteira era McPherson).
O desempenho do 3,0-litros, contudo, não estava à altura da categoria de
prestígio em que o SC pretendia se inserir.
A Bitter contatou assim a preparadora Manzel, que desenvolveu uma versão
do seis-em-linha com cilindrada ampliada para 3.848 cm³, 210 cv e 33,3
m.kgf. Era o bastante para chegar a 230 km/h e fazer de 0 a 100 em 7,8 s
com caixa manual Getrag de cinco marchas (220 km/h e 8,8 s com a
automática GM de três marchas, preferida por 90% dos compradores). O
sucesso foi tal que, do lançamento dessa opção em 1984 em diante, quase
todo SC foi equipado com o motor mais potente. Bem menos popular foi a
versão com tração integral Ferguson Formula, mesmo esquema do pioneiro
Jensen FF inglês dos anos 60: só
dois Bitters saíram assim equipados.
O conversível era transformado pela Keinath, de Dettingen/Erms, perto de
Stuttgart, e tinha acionamento elétrico da capota de lona. Com o sedã a
empresa buscava o mercado americano, queria competir com Jaguar e
Mercedes. O entreeixos do Senator foi alongado em 15 centímetros,
deixando-o com 5,06 m e 1.615 kg, mas o carro chegou em um momento de
dificuldades e teve produção mínima. A série SC somou 461 cupês a 22
conversíveis e apenas cinco sedãs. No fim da década o mercado para
carrocerias especiais havia diminuído e, em 1989, a empresa encerrava
essa atividade. Dali até 1997 foram desenhados novos carros, mas nenhum
encontrou viabilidade para produção. Depois disso, a Bitter passou a se
dedicar apenas a projetos de engenharia.
Em 2003 aparecia a proposta de um novo carro com sua marca: o CD2, que
aliava a plataforma do Holden Monaro
australiano e seu motor V8 de 5,7 litros e 345 cv a linhas bastante
diferentes do modelo doador. Após três aparições no Salão de Genebra,
porém, a proposta foi arquivada sem chegar às ruas. Em 2007 a marca
ressurgiu de maneira mais tímida com o Vero,
versão do sedã Holden Caprice. Frente e traseira remodeladas, rodas de
20 pol e interior requintado eram os elementos de distinção do carro,
que usava o motor V8 original de 6,0 litros e 360 cv.
Embora sem a forte identidade dos modelos do passado, a Bitter continua
a oferecer aos alemães uma alternativa às tradicionais marcas de luxo do
país.
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