A caixa de câmbio tinha quatro marchas, sendo que a primeira não era sincronizada. A alavanca ficava no assoalho e inclinada para trás, ao estilo Alfa Romeo. Por dentro, os instrumentos com contornos cromados, em formato de trapézio invertido, faziam par com o porta-luvas aberto no desenho. Tinha volante de dois raios e bancos dianteiros individuais. A suspensão dianteira era independente, mas atrás se usava eixo rígido. Os pneus na medida 5,20-13 vestiam rodas com calotas de formato cônico e os freios eram todos a tambor. Era um carro estável, sem maiores pretensões.

"O completamente novo Anglia, o mais estimulante carro leve do mundo": com certo exagero, a publicidade descrevia o pequeno Ford, cujo motor de 1,0 litro desenvolvia apenas 37,5 cv

Em 1961, uma grande proeza: no famoso circuito de Goodwood, que hoje é palco de corridas históricas belíssimas, três exemplares do Anglia percorreram 10 mil milhas (16 mil quilômetros) em 10 mil minutos (quase sete dias), média pouco superior a 95 km/h, notável para um motor tão modesto. Um ano depois chegava a versão perua, chamada de Anglia Estate Car. Continuava com duas portas e era só dois centímetros maior que o cupê. Havia também uma versão mais simples, um furgão, com chapas em vez de vidros traseiros. O acabamento era muito rústico.

Como era modismo na época, a carroceria podia receber dois tons, que até ajudavam a harmonizar um pouco, e os pneus, faixas brancas. Seus concorrentes eram os franceses Citroën Ami 6 (que rivalizava muito em estranheza), Renault 8 e Simca 1000, o italiano Fiat 1100, o inglês Austin 1100 e os alemães NSU Prinz 1100, Opel Kadett e Volkswagen 1200 A, nosso Fusca. Na Ford Itália era produzido o Anglia Torino, que tinha linhas bem mais ortodoxas. Desenhado por Michelotti e construído pela OSI, Officina Stampaggi Industriala, recebeu o prêmio La Ruota D'Oro por ser o mais veloz e ágil na categoria de 1.000 cm³. Foi fabricado entre 1964 e 1965.

Além da perua, chamada Estate Car, a linha teve uma versão furgão, com chapa no lugar dos vidros laterais traseiros

Como era muito comum na Inglaterra dos anos 1960, preparadores independentes começaram a mexer no motor do Anglia para lhe dar mais ânimo. Os preparadores Novamotor e Holbay chegaram a tirar perto de 100 cv para equipar alguns Fórmula 3 ingleses. De olho nesse interesse do público, em 1963 a fábrica lançava o Anglia Super, com motor de 1.198 cm³ e 50 cv a 5.000 rpm. O torque máximo passava a 9,2 m.kgf a 2.700 rpm, a caixa era totalmente sincronizada e os freios estavam mais eficientes. A velocidade final chegava a 135 km/h.

Três anos depois, em 1966, já tinha sido fabricado um milhão de exemplares do Anglia, sendo que 90% correspondiam à versão duas-portas. Em 1967 surgia a versão Sportsman. Mais luxuosa, trazia o estepe preso à tampa traseira, como no Lincoln Continental (e no Simca Presidence fabricado no Brasil). Tinha também meio teto pintado numa cor diferente e, na mesma cor, uma linha na lateral. Por dentro, um acabamento mais caprichado baseado nas cores externas.

Um motor mais potente, de 1,2 litro e 50 cv, e até uma versão de luxo com estepe "estilo Continental" na traseira tornaram o Anglia mais atraente, apesar da forma estranha das colunas

Em 1968 era lançado o primeiro Escort e o Anglia deixava o mercado — surgia, enfim, uma integração entre as unidades alemã e inglesa da Ford. Mas o veterano modelo britânico ainda é presença constante nas provas de VHC (carros antigos de competição), e é muito valente. Um britânico inimitável, que fez até uma ponta no primeiro filme de Harry Potter.

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