Estrela cadente

Mesmo inovador e oportuno, o Chevrolet Vega foi um
mostruário das estratégias que Detroit precisava corrigir

Texto: Fabiano Pereira – Fotos: divulgação

Fazia 11 anos que os compactos de Detroit haviam estreado. A trindade formada por Chevrolet Corvair, Ford Falcon e Plymouth Valiant tivera resultados distintos, mas conseguiu abocanhar boa parte do mercado dos importados europeus e asiáticos. Mas não por muito tempo. Liderados pelo Volkswagen Beetle, o Fusca para o mercado local, os forasteiros figuravam com vigor renovado nos rankings de vendas — quase 40% do mercado na Califórnia — e era hora de os fabricantes americanos programar uma nova reação.

O contra-ataque chegou em 1971, dois anos antes da crise do petróleo que reforçaria a necessidade desses veículos. Exceto pela Chrysler, que enfrentaria uma de suas fases mais difíceis em seguida, Detroit lançava seus subcompactos cercados de grande expectativa do público. A AMC apresentou o controverso Gremlin, a Ford tinha o popular (e perigoso) Pinto e a GM apostou no Chevrolet Vega, nome da estrela de maior brilho na constelação Lira. Na época a Chevrolet era chefiada por John DeLorean, pai do Pontiac GTO e, anos depois, do esportivo que levaria seu sobrenome.

Projeto conturbado: até a frente do Vega caiu durante os testes. As versões sedã duas-portas e hatch (ao lado) faziam parte da linha lançada em 1970

Desde 1968 a GM promovia o novo produto como H-Body (carroceria H). A meta de lançar o carro em dois anos foi cumprida, mas com um custo salgado para sua imagem. Em seu livro On a clear day you can see General Motors (Num dia claro você pode ver a General Motors), DeLorean classificaria o Vega como “um desenho pobre projetado por engenheiros corporativos, socado num Chevrolet capenga”. Para ele, o motor era grande, barulhento, numa combinação de ferro e alumínio muito pesada, cara demais de construir e que parecia ter sido tirada de um trator dos anos 1920.

Quando o primeiro protótipo foi ao campo de provas da GM em Milford, Michigan, uma surpresa confirmou o prognóstico. Após rodar meros 12 quilômetros, a frente do carro simplesmente se soltou. Sarcástico, DeLorean dizia que era um recorde de tempo para um carro cair aos pedaços. Mas seu desagrado escondia as virtudes do modelo. Na verdade, a idéia do Vega contava com uma boa dose de ousadia, assim como o Corvair em relação aos demais compactos em 1960.

As lanternas traseiras pareciam inspiradas nas do Corvette, mas o motor de 2,3 litros e 90 ou 110 cv decepcionava pelos ruídos e vibrações

O novo Chevy era movido por um quatro-cilindros em linha de 2,3 litros, com carburação simples ou dupla, 8:1 de taxa de compressão, comando de válvulas no cabeçote e bloco em alumínio. O destaque eram os pistões que se moviam diretamente nos cilindros impregnados de silício, sem as camisas de aço convencionais. O motor gerava 90 ou 110 cv brutos a 4.800 rpm, dependendo da carburação; o câmbio era manual de três marchas, sendo a quarta opcional.

A suspensão dianteira independente e a traseira de eixo rígido dispunham de molas helicoidais; os freios eram a disco na dianteira e tambor atrás. Sempre com duas portas, o Vega tinha versões hatchback, sedã, perua e Panel Truck (furgão, uma perua sem vidros laterais traseiros). Com 2,46 metros entre eixos, levava quatro passageiros, embora apenas crianças fossem bem atrás. O hatch era a versão mais atraente, lembrando o Camaro 1970 ½ pelo perfil e o conjunto de grade e faróis. As duplas lanternas traseiras quadradas remetiam ao Corvette. Continua

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Data de publicação: 27/4/04

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