

O jovem Ickx numa prova de trial
(categoria em que foi bicampeão), em 1962, e na subida de montanha de
Gîves, um ano depois, de BMW 700


Com um BMW 2000 TI vinha a
primeira vitória em Spa-Francorchamps, em 1966, mesmo ano em que fez sua
estreia em Le Mans de Ford GT40


Na Fórmula 2 (em cima) foi
campeão europeu em 1967; um ano depois estava na Ferrari na F-1 e vencia
o primeiro GP na França com o 312 |
Difícil dizer que país no mundo tem mais tradição automobilística. O
movimento mecânico sobre quatro rodas começou quase ao mesmo tempo nos
Estados Unidos e na Europa. Nesta, a tradição não se limita apenas a
Itália, França, Alemanha e Inglaterra. Um pequeno país que se situa ao
norte da França, muito conhecido pelas cervejas e os chocolates, tem
grande tradição industrial e homens importantes que fizeram história nas
pistas locais e do restante do mundo. A Bélgica, cuja capital é a
charmosa Bruxelas, acumula uma trajetória muito interessante no mundo
dos automóveis.
No princípio do século XX foi formada pelos irmãos De Jong a empresa
Minerva Automobiles, que fabricou carros de técnica peculiar com motores
sem válvulas. Os autódromos belgas são místicos até hoje e muito
tradicionais. O circuito de Spa-Francorchamps, que teve sua primeira
prova em 1924, ainda traz encantos e tem grande número de admiradores,
seja dos fãs das arquibancadas ou entre quem enfrenta seu asfalto
desafiador. Outro de menor quilate, mas que fez parte do cenário
mundial, foi Zolder, inaugurado em 1963. Na modalidade de rali, fez
muito sucesso nos anos 50 e 60 o Rali Liège-Roma-Liège, que reuniu
carros e pilotos famosos.
No que se refere
a homens e máquinas, Paul Frère (1917-2008) correu na Fórmula 1 entre
1952 e 1956 e venceu a 24 Horas de Le Mans em 1960 (junto de Olivier
Gendebien). Outro belga, Willy Mairesse (1928-1969), competiu nas
principais categorias do automobilismo contra homens como
Stirling Moss,
Juan Manuel Fangio e
Phil Hill. Outro que deixou marcas foi
Olivier Gendebien (1924-1998), piloto oficial da Ferrari que ganhou por
quatro vezes Le Mans. Contudo, o piloto de maior renome da história da
Bélgica é Jacques Bernard Ickx, conhecido no mundo inteiro como Jacky
Ickx. Nascido em janeiro de 1945 em Bruxelas, começou a vida no esporte
a motor em provas de trial, em que motocicletas leves e ágeis superam
obstáculos em baixa velocidade. O pai Jacques, jornalista especializado
no ramo automobilístico, fazia cobertura das provas e sempre levava o
filho com ele — chegou a disputar provas de rali com um
Jaguar XK 120. O mesmo
presenteou o filho em 1961 com uma moto Zundapp de 50 cm³.
Não demorou e o jovem Jacky fazia-se campeão belga de trial em 1963 e
depois em 1965. Ainda nessa fase, já maior de idade, começou a fazer
provas de subida de montanha com a Gîves Hill Climb de 1963 com um
BMW 700S. No ano seguinte disputou a mesma
corrida e o Grande Prêmio de Budapeste, ambos com um
Ford Cortina Lotus. Começava a ganhar ampla
experiência nas provas de turismo e a enfrentar as de longa duração,
como a 24 Horas de Spa com um Ford
Mustang em 1966. No mesmo ano venceu a 24 Horas de
Spa-Francorchamps, que era outra prova, em dupla Hubert Hahne com um
BMW 2000 TI. E fazia sua estreia
numa prova importantíssima e que marcaria muito sua carreira: a 24 Horas
de Le Mans. Seu co-piloto era o alemão Jochen Neerpasch, a bordo de um
Ford GT40 Mk I da equipe Essex
Wire Corporation. O carro teve problemas mecânicos e completaram apenas
154 voltas.
Ickx também mostrou talento no mesmo ano com um Matra MS5 de Fórmula 2
no GP da Alemanha, o que encantou o empresário Jean-Luc Lagardére,
proprietário da francesa Matra. Andou muito forte e na frente de gente
com larga experiência. Foi notado por ninguém menos que Enzo Ferrari.
Ainda sem contrato com a fábrica, correu a Nove Horas de Kyalami, na
África do Sul, com um Ferrari 275 LM amarelo pela famosa equipe belga
Francorchamps. O ano de 1967 seria muito importante para a carreira do
jovem Jacky, então com 22 anos. Ganhava o Campeonato Europeu de Fórmula
2 com um Matra MS5 e estreava na Fórmula 1 pilotando um já antiquado
Cooper-Maserati T81B. Conseguiu milagres, ficando em sexto e
conquistando o primeiro ponto em Monza, na Itália. Lá estavam grandes
como Denny Hulme, Jack Brabham, Jim Clark, John Surtees, Chris Amon,
Pedro Rodriguez — seu companheiro de equipe — e ainda Graham Hill, Dan
Gurney, Jackie Stewart, Jochen Rindt e
Bruce McLaren. Ainda naquele ano ganhava a 1.000 Quilômetros de
Monthléry (França), a 1.000 km de Spa e a 9 Horas de Kyalami, fato este
que repetiria um ano depois.
Em 1968 ingressava na Ferrari como piloto oficial, tendo como colega o
neozelandês Chris Amon. Em julho, no GP da França, em Ruen, Ickx ganhava
sua primeira corrida na Fórmula 1 com o modelo 312. Terminaria o
campeonato em quarto atrás de Graham Hill, Stewart e Denny Hulme. Na F-2
correu de Ferrari Dino 166 V6, mas não conseguiu mais que um quarto
lugar. O ano seguinte era muito especial na carreira do belga. Na F-1
vencia em Nürburgring, Alemanha pilotando um Brabham-Ford; tornava a
ganhar no Canadá e ficou com o vice-campeonato num ano em que Stewart
dominou com o Matra-Ford. Uma das corridas mais emocionantes do Mundial
da Marcas aconteceu em Le Mans. A equipe John Wyer Automotive
Engineering entregava a Ickx e ao inglês Jackie Oliver um Ford GT40 Mk I
equipado com o motor Ford V8 de 4,9 litros. Foi uma
corrida disputadíssima, em que a dupla venceu o
Porsche 908 do alemão Hans Herrmann e do francês Gérard Larrousse. O
carro de Ickx chegou apenas dois segundos e 120 metros à frente deles!
Foram os únicos a completar as 372 voltas no circuito de Sarthe.
Continua
|