O projetista e sua obra preferida na Mercedes: o médio 190, que lançou a tendência de traseira alta e curta e abriu um novo segmento na marca

Os faróis ovalados do Classe E de 1995 e as lanternas do C de 1993: exceções ao padrão Mercedes de manter uma geração fiel à anterior

O último desenho de Sacco antes de se aposentar foi o cupê CL 1999, com interessantes colunas traseiras mais largas no topo que na base

Ele relembrava tais normas de trabalho no Salão de Turim de 1998: "Cada projeto deve ser visto sob uma perspectiva de longo prazo em que, além de permanecer coerente com nossa estratégia de estilo em seu desenvolvimento, descreva ao características de desenho dos carros Mercedes". Contudo, ele admitia que essa diretriz permitia algumas concessões, pois "alguém só reconhece uma tecnologia inovadora quando ela é associada a um desenho igualmente inovador". Entre os toques ousados introduzidos por ele estão as molduras laterais plásticas do Classe S de 1979, as lanternas traseiras em forma de pirâmide do Classe C de 1993 e os quatro faróis ovalados do Classe E de 1995 — não por acaso, soluções que apareceram em carros de outras marcas algum tempo depois.

Bruno contestava a teoria do arquiteto norte-americano Louis Sullivan de que "a forma segue a função", por entender que estilo e técnica devem sempre caminhar juntos. Certa vez disse: "Para nós, não há primazia da tecnologia sobre o estilo ou do estilo sobre a tecnologia. A estética de um produto nunca pode pretender maquiar uma tecnologia de baixa qualidade".

Entre os automóveis de produção, Sacco assinou três gerações do Classe S, o topo de linha da marca — as séries designadas como W126 em 1979, W140 em 1991 e W220 em 1998. Enquanto a primeira conservava as linhas-mestras da Mercedes e a última era elegante em suas linhas leves e modernas, ele admite que a W140 não saiu como gostaria, por ser cerca de 10 centímetros mais alta que o ideal. Na linha intermediária Classe E, são suas as gerações W124 de 1984 e W210 de 1995, esta com a substituição dos tradicionais faróis retangulares pelas quatro unidades ovaladas, mudança experimentava em um cupê conceitual de 1993 e que causou controvérsia entre os fãs.

Também de Bruno foram os Mercedes de porte médio: o 190 revelado em 1982 e seu sucessor, o Classe C de 1993. Ele considera o 190 seu desenho predileto, tanto por sua importância para a marca quanto por ter inovado com a tampa do porta-malas curta e elevada, estilo que fez escola rapidamente entre os fabricantes. Certa vez definiu esse carro como "o perfeito exemplo, ao lado do Classe S, de como combinar inovação e tradição". E acrescentou que "foi o primeiro passo para a divisão da marca em diferentes segmentos", tendência que ganharia espaço nos anos 90 com modelos tão variados quanto o compacto Classe A e o utilitário esporte Classe M. Em 1993 ele se tornava membro do conselho de administração da empresa.

Naturalmente, não só de sedãs decorreu sua carreira. Ele desenhou os conversíveis SL de 1989 e SLK de 1997, o utilitário M do mesmo ano e o cupê CLK de 1996. Seu último projeto para a Mercedes foi o cupê CL de 1999, com as interessantes colunas traseiras mais largas na parte superior que no ponto de encontro aos para-lamas. Em março daquele ano, após 41 anos de serviços à empresa, ele se aposentava e deixava o departamento para Peter Pfeiffer. Hoje trabalha com desenho industrial.

Sacco recebeu diversos prêmios e distinções, como o de membro honorário da Academia Mexicana de Desenho em 1985, o título Grande Oficial da Ordem ao Mérito na Itália em 1991, o prêmio Cover - Auto & Design em Turim em 1993, o prêmio Apulia em 1994, o de Melhor Projetista pela revista inglesa Car em 1996, os prêmios Lifetime Design Achievement em Detroit e Raymond Loewy Designer Award em 1997 e um doutorado honorário da Universidade de Udine em 2002. Quatro anos depois foi incluído no Automotive Hall of Fame, em Dearborn, Estados Unidos, e em 2007 no European Automotive Hall of Fame, em Genebra, Suíça — ele é uma entre poucas pessoas a ter recebido ambas as distinções.

Em 2006, em entrevista à revista norte-americana Automobile Magazine, Sacco falou sobre desenhos da Mercedes e de outras marcas. Em sua opinião, a Cadillac vinha fazendo bons trabalhos como modelos como o roadster de linhas angulosas XLR, derivado do carro-conceito Evoq. "É bom ver fabricantes desenvolvendo uma nova linguagem de estilo, mas é importante ser cauteloso sobre que modelos a empresa escolhe para adotar um desenho ousado", ponderava. Os clássicos esportivos Lamborghini Miura e Ferrari 275 GTB, ambos dos anos 60, tinham os estilos mais apreciados por ele fora da linha Mercedes; nesta, o predileto era mesmo o 300 SL da década de 1950.

Entre os desenhos que não o agradavam estavam os de alguns utilitários coreanos — sem citar nomes — e os da BMW na época, criados pelo polêmico norte-americano Chris Bangle, que segundo Bruno "parecem ter perdido o foco definido em seu tema de estilo". Sobre formas nostálgicas, Sacco pensava que "são populares e ajudam a vender carros, mas oferecem poucas perspectivas em desenho". Então proprietário de um cupê Mercedes 560 SEC, derivado do Classe S dos anos 80, o projetista definia seu passeio ideal para um fim-de-semana: dirigir um SLR McLaren até Paris.

Carros do Passado - Página principal - Escreva-nos

© Copyright - Best Cars Web Site - Todos os direitos reservados - Política de privacidade