As motos, com as quais competiu
até um acidente grave, podiam ter escapamentos Abarth, uma de suas
principais atividades nos anos 40
O Cisitalia 202, projeto
conjunto com Dusio, Ferry Porsche e Hruska; embaixo o 204 A com motor
Fiat de 1,1 litro, o primeiro carro da Abarth
Os monopostos como o 500 e o 750
(acima) bateram 10 recordes mundiais; o segundo cobriu 3.750 km em um
dia à média de 155 km/h
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A história vem desde o tempo das bigas: melhorar o desempenho de um
veículo básico para se ter maiores aceleração e velocidade máxima. Foi
assim que nasceram os primeiros trabalhos de
Colin Chapman em seu Austin Seven.
E foi também dessa forma com o genial Karl Alberto Abarth, nascido em
Viena, na Áustria, em novembro de 1908. Dos 17 aos 19 anos trabalhou na
Castagna em Milão, na Itália, empresa que fazia belíssimas carrocerias
para marcas famosas como Isotta Fraschini,
Mercedes-Benz, Hispano-Suiza, Daimler,
Lancia, Duesenberg e Alfa
Romeo. O jovem Karl, que no novo país era chamado de Carlo, fazia suas
primeiras incursões em quadros de motocicletas e bicicletas.
Em 1928 voltava ao país natal e começava a competir em campeonatos
nacionais de motocicletas, nos quais obteve muito sucesso, o que o levou
a disputar várias corridas europeias. Usou a marca MT (Motor Thun) de
origem austríaca, a Sunbeam inglesa e a FN belga. As primeiras provas,
bastante disputadas, aconteciam nas ruas de Viena. Sagrou-se ali
pentacampeão europeu. A carreira ia muito bem até um acidente de
consequências graves em 1930. Mesmo assim, tentou o uso de carro lateral
(side car), na moda naqueles tempos. Em 1934 desafiou, pilotando uma
moto com carro lateral onde estava um companheiro, o famoso e mítico
trem Orient-Express. De Viena a Ostend, cidade no litoral norte da
Bélgica, eram nada mais que 1.372 quilômetros. Por apenas 20 minutos
perdeu a corrida contra o comboio de luxo, pois teve problemas
elétricos.
Um novo e sério acidente em 1939 na Iugoslávia, que o deixou
hospitalizado por um ano, o fez contabilizar os perigos das duas rodas e
abandonar o motociclismo. A essa altura da vida Carlo já era um
apaixonado por velocidade e profundo conhecedor de mecânica. Durante o
período da Segunda Guerra Mundial, com o racionamento de gasolina,
chegou a converter motores para usar querosene. Por coincidências da
vida, voltou à Itália e encontrou o genro do grande Ferdinand Porsche,
Anton Piëch. Dali nasceu uma relação com sua secretária, se casaram e
Carlo se fixou em definitivo no país. Escolheu Merano, cidade natal de
seu pai, na região de Bolzano, não muito longe da fronteira do sul da
Áustria. Optou pela cidadania italiana e registrou-se como Carlo Abarth.
A sorte estava a seu lado, pois além do contato contínuo com a família
Porsche, marca da qual assumia uma concessionária, conhecia também o
grande piloto Tazio Nuvolari.
Outras boas amizades e contatos vieram a acontecer. Conhecera o
conterrâneo Rudolf Hruska, engenheiro graduado na Universidade de Viena,
que havia trabalhado na Magirus — especialista em veículos de combate a
incêndio — e no desenvolvimento do
Volkswagen. Outro homem importante que Carlo conhecia era Piero
Dusio — ex-jogador de futebol, corredor de carro e um industrial famoso
e astuto. Dessas relações entre Ferry Porsche, Hruska, Dusio e Abarth
nascia em 1944 uma importante empresa de automóveis esportivos: a
Cisitalia (Consorzio Industriale Sportiva Italia). Mais dois engenheiros
jovens e de talento estavam na empreitada: Dante Giacosa, que faria
belíssima carreira na Fiat, e Giovanni Savonuzzi, da divisão de aviões
experimentais da mesma empresa.
Em 1947 era exibido o grã-turismo
Cisitalia 202, com um motor
Fiat de 1,1 litro que recebera especial dedicação de Abarth. Era uma de
suas primeiras experiências com motores de baixa cilindrada, em que ele
seria um especialista. Dois anos depois, junto com Armando Scagliarini
(pai do piloto Guido Scagliarini, conhecido na Itália por suas
façanhas), Carlo fundava sua empresa em Turim, a Abarth & C. Seu emblema
abrigava um fino friso com as cores da bandeira italiana e um escorpião
estilizado, em alusão ao signo do proprietário. Seus primeiros produtos
fariam logo muito sucesso: cabeçotes e coletores especiais. Escapamentos
esportivos que saíram de sua linha de produção também fariam escola — já
no primeiro ano, 4.500 deles foram feitos. Tinham uma sonoridade ímpar.
Um de seus clientes era a grande Ferrari. Também produzia volantes e
alavancas de câmbio para carros de várias marcas da Europa.
Continua
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