

Giacosa e Nuvolari participaram
do projeto do D46, o primeiro modelo da Cisitalia, que usava motor de
1,1 litro da Fiat e superava 170 km/h

Sobre o mesmo chassi a Pinin
Farina desenhou o 202 Gran Sport, belo cupê de formas fluidas e arredondadas
(acima e na foto de abertura) |
Raros são aqueles que chegam ao topo logo no início. Se há décadas o
estúdio Pininfarina goza de alta reputação em desenho automotivo, não
foi no primeiro projeto que a empresa foi reconhecida. Fundada em Turim
em 1930 por Battista “Pinin” Farina, a então Pinin Farina — ainda com
grafia separada — só conseguiria ampla admiração com o o esportivo
Cisitalia 202.
Com 17 anos de estrada, descontada a Segunda Guerra Mundial, a Pinin
Farina surpreendeu pela modernidade e a beleza do cupê. A Cisitalia (Consorzio
Industriale Sportive Italia) fora fundada pelo ex-jogador de futebol e
bem-sucedido industrial Piero Dusio em 1946 em Turim. Dusio era dono da
CISI, empresa que atuava nos ramos têxtil, bancário, de hotelaria e de
produtos esportivos como bicicletas, raquetes de tênis e vestuário.
Piloto amador nos anos 30 dirigindo carros da Alfa Romeo, ele queria
criar modelos de corrida com componentes da Fiat.
O objetivo foi alcançado no mesmo ano com o D46, desenhado por Dante
Giacosa, projetista da Fiat, e Giovanni Savonuzzi, da divisão de
aeronaves experimentais do mesmo fabricante. O projeto contou também com
Piero Taruffi (que pilotaria na Fórmula 1 mais tarde) na engenharia e em
testes e do famoso piloto Tazio Nuvolari. Ganhador da Copa Brezzi de
Turim logo na estréia, o D46 usava um chassi tubular sob a carroceria de
alumínio. O motor Fiat, do primeiro 1100 (evolução do
Balilla), tinha 1.089 cm³, comando no
bloco e potência de 65 cv. A caixa de câmbio semiautomática de três
marchas era outra criação de Giacosa e tambores de alumínio freavam as
quatro rodas. Com 2,01 metros entre eixos, o monoposto pesava apenas 350
kg e superava 170 km/h. Cerca de 50 exemplares seriam concluídos em dois
anos e 16 deles formavam o time de Dusio, com alguns dos melhores
pilotos da época.
O chassi do D46 daria origem ao 202. Era leve e resistente, mas de
confecção cara e demorada. A suspensão dianteira, independente,
aproveitava os braços e o feixe de molas transversal do
Fiat 500 Topolino. Eixo rígido
e feixe de molas semielípticas cumpriam a mesma função atrás. O cupê de
dois lugares tinha 2,40 metros entre eixos e o mesmo motor de 1.089 cm³,
mas com cuidadosa preparação de Carlo Abarth. Carburação dupla Weber e
taxa de compressão mais alta o levavam a
60 cv a 5.500 rpm, quase o dobro do Fiat 1100 (32 cv). A
lubrificação a cárter seco permitia
montagem mais baixa no carro. O câmbio manual dispunha de quarto marchas
e, embora a potência pareça modesta hoje, com 760 kg seu desempenho era
bom para a época: 160 km/h.
O resultado alcançado por Pinin Farina foi dos mais felizes para os anos
40. Em vez da revolução, o Cisitalia 202 capitaneou uma evolução adiada
pela guerra com bom gosto e senso estético únicos. Baseada em estudos
aerodinâmicos para carros de corrida, a carroceria de 3,74 metros de
comprimento por 1,41 m de largura embutia elementos que até então eram
agrupados como anexos.
Continua
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