Automóveis sisudos, de linhas retas e projeto voltado à confiabilidade e
à segurança dos ocupantes, são o que as pessoas se acostumaram a
encontrar nos antigos Volvos — a ressalva se faz necessária diante dos
recentes lançamentos da marca, que abandonam a cada dia o aspecto sóbrio
em busca de um estilo mais ousado. Contudo, na década de 1960 o
fabricante sueco produziu um modelo de caráter esportivo e formas
arredondadas, que ganhou fama na televisão: o P1800.
Esse não foi o primeiro Volvo com tais pretensões. Em 1955 havia sido
apresentado o P1900 ou Volvo Sport, um
conversível que estava longe de ser um expoente em estética, com motor
de 1,4 litro e 70 cv, que teve apenas 68 unidades produzidas.
Problemático, o modelo ensinou aos suecos muito do que não
deveria ser feito para trazer jovialidade à imagem da Volvo, já então
mais associada a robustez e segurança que a desempenho ou estilo
esportivo.
Helmer Petterson, consultor de engenharia da empresa, era um dos muitos
insatisfeitos com o P1900, mas acreditava que um novo caminho deveria
ser tentado antes da desistência. Ao diretor Gunnar Engellau ele
sugeriu, em 1956, que a Volvo desenvolvesse outro carro esporte, dessa
vez com base na linha Amazon (série 120) de
sedãs, recém-apresentada ao mercado. Petterson foi então encarregado de
obter propostas de estilo com estúdios externos, sobretudo os italianos,
que na época já desfrutavam grande prestígio nessa atividade.
Seu filho Pelle trabalhava na Ghia, que foi a óbvia opção de Petterson
em primeiro lugar. O estúdio havia adquirido outro, o de
Pietro Frua, de modo que a
encomenda firmada pela Volvo em abril de 1957 levou a quatro projetos:
dois assinados pela própria Ghia e dois pela equipe que antes trabalhava
na Frua. Um quinto desenho seria criado pelo próprio Pelle após seu pai
convencer Luigi Segre, diretor da Ghia, de que o jovem de 24 anos tinha
talento para tanto.
Em agosto, Engellau recebia as cinco propostas e — ao que consta, sem
saber que era a do filho de seu consultor — mostrava clara preferência
pela de Pelle, descartando as demais sem maior atenção. A autoria do
desenho foi creditada ao estúdio Frua, como previsto, e levaria anos até
que a Volvo admitisse que o jovem Petterson fosse o responsável pela
criação.
O estúdio passou então a construir os protótipos do esportivo,
identificados como P956-X1, X2 e X3. Dentro das lições aprendidas com o
fracassado P1900, o novo carro teria carroceria de aço, em vez de
plástico reforçado com fibra de vidro, e usaria grande número de
componentes do sedã Amazon para baratear a produção. Desse modelo vieram
a plataforma, que foi encurtada, e órgãos como caixa de câmbio,
transmissão, eixo traseiro e suspensões.
Enquanto o projeto se desenvolvia, restavam algumas questões — uma
delas, onde fabricar o carro sem afetar a produção normal da linha de
automóveis, que havia mais que duplicado durante a década de 1950 e já
não deixava muito espaço ocioso na fábrica. A Petterson coube, dessa
vez, encontrar uma empresa capacitada. A Karmann parecia boa opção, mas
seus contratos com a Volkswagen para produzir o cupê
Karmann Ghia e o
Fusca conversível levaram-na a recusar a proposta.
Depois de conversas sem sucesso com outras empresas alemãs, a Volvo
decidiu-se pela escocesa Pressed Steel's Linwood, para fazer as
carrocerias, e pela inglesa Jensen Motors Ltd. para montagem dos carros.
O problema foi que tal processo distante da Suécia inviabilizou o uso
das plataformas do Amazon, sendo preciso desenvolver um assoalho
específico. Depois da fabricação, havia o problema do motor: testes nos
protótipos com o 1,6-litro de 85 cv usado pelo 122S mostraram desempenho
insuficiente para as pretensões do novo automóvel.
A solução foi projetar um bloco de maiores dimensões, o B18 (B de bensin,
gasolina em sueco), que partia
de 1,8 litro e permitiria aumento posterior de cilindrada, pelo
maior espaço entre os centros de cilindros. Era um motor de concepção
tradicional, com bloco e cabeçote de ferro fundido e
comando de válvulas no bloco, mas que se
mostraria muito robusto e com potência apropriada.
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