

Conforto e estabilidade eram
pontos positivos também da perua; com o motor 2,0-litros de 120 cv, seu
desempenho era bom, mas não brilhante

A 1800ES logo assumiu a maior
parcela das vendas, levando a Volvo a encerrar a produção do cupê, mas
ela própria durou apenas dois anos |
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Duas propostas — uma
com traseira mais inclinada, outra com corte reto, dentro do princípio
aerodinâmico do alemão Kamm — foram elaboradas na
Volvo, enquanto uma terceira foi encomendada à Frua, agora não mais
ligada à Ghia. Frua
desenhou a Raketen, ou foguete, uma perua com traseira truncada, enorme
vidro posterior e para-choque que formava um "U" com as lanternas abaixo
dele. Apesar do aspecto futurista da parte de trás, até a metade as
linhas já antigas do cupê foram mantidas, o que deixou a proposta um
tanto desarmônica. O desenho vencedor, porém, aproveitava bem mais das
linhas do P1800 original.
Apresentada no Salão de Londres de 1971, a 1800ES dava continuidade ao
teto do cupê até uma traseira ligeiramente inclinada, enquanto as aletas
dos para-lamas ainda podiam ser notadas, servindo como alargamentos da
carroceria logo abaixo das janelas. Para-choque e lanternas também
vinham do cupê, o que ajudava a conter os custos. A exemplo da Raketen
de Frua, um grande vidro traseiro consistia na tampa de acesso à bagagem
— tanto a maçaneta, embaixo, quanto as dobradiças na parte superior eram
aplicadas ao próprio vidro.
As dimensões não foram alteradas em relação às do 1800E, salvo pelo
comprimento 34 mm maior na traseira. Se por um lado isso evitou maior
investimento pela Volvo, por outro fez persistir a escassez de espaço no
banco traseiro. Com tal banco rebatido, a perua podia levar 990 litros
de bagagem. Com ele no lugar, porém, a capacidade era modesta e toda a
carga ficava exposta aos olhares alheios e à incidência solar, o que
levou a fábrica a criar pequenos compartimentos fechados nos dois lados
do estepe.
Do ponto de vista técnico não havia grandes diferenças entre o cupê e a
shooting brake — apenas 30 kg adicionais no segundo modelo e a adoção de
pneus mais largos, 185/70 R 15 —, mas ambos agora perdiam potência e
torque nas versões destinadas aos EUA, onde os limites de emissões
ficavam mais severos e a gasolina sem chumbo tetraetila, de
octanagem mais baixa, se tornava
obrigatória.
Ao testar a 1800ES, a revista Popular Mechanics considerou-a
"extremamente confortável para motorista e passageiro, mas o banco
traseiro é bom apenas para crianças. O carro é antes de tudo forte,
tanto estruturalmente quanto no trem de força". Outros aspectos
elogiados foram o consumo de combustível e a estabilidade "boa em
qualquer superfície, com curso de suspensão adequado e maciez suficiente
para rodar com conforto o dia inteiro".
O mercado recebeu bem a novidade, que em 1972 vendeu 60% mais que o
1800E do qual era derivada. Para o ano seguinte a Volvo sentia-se segura
em encerrar a produção do cupê, mas a perua não teve muito mais tempo de
mercado. Se os norte-americanos representavam cerca de metade do consumo
desses Volvos, a legislação de resistência a colisões que vigoraria em
1974 representou um grande empecilho aos suecos: custaria muito fazer as
modificações necessárias à antiga estrutura.
Assim, em junho de 1973 a 1800ES deixava a linha de
produção, após 8 mil peruas e 39 mil cupês. Se o
estilo do P1800 parece não ter inspirado a
Volvo nas décadas que se seguiram, o da 1800ES o fez
—
e não só uma vez. Tanto o 480ES
dos anos 80 quanto o recente
C30 mostram soluções comuns àquela perua, como a traseira truncada,
o acesso ao porta-malas por uma tampa formada basicamente pelo vidro e,
no caso do modelo mais novo, os "ombros" pronunciados abaixo das
janelas.
Foi mesmo uma santa irreverência aos padrões de estilo da marca.
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