Depois de tentativas com
Peugeot e Citroën, a Matra conseguia com a Renault concretizar seu
projeto: aparecia em 1984 a minivan Espace
O teto acompanhava a cor dos
pára-choques e das molduras laterais; no interior, espaço para até sete
pessoas e modularidade de bancos |
Veículos com carroceria do tipo monovolume — em que os compartimentos de
motor, passageiros e carga ficam agrupados em uma silhueta única, sem
volumes definidos — estão longe de ser novidade. Com a necessidade de
aproveitar melhor o espaço nasceram os primeiros furgões (vans em
inglês), que atendiam sobretudo a empresas que precisavam deslocar
grandes volumes em veículos compactos.
Após a Segunda Guerra Mundial, um dos primeiros furgões de sucesso
mundial foi a Kombi da Volkswagen
alemã, apresentada em 1949. Deste país também vieram o
Tempo Matador e o DKW F 800. Outras
empresas não perderam tempo e lançaram produtos similares, como a
inglesa Morris com a série J — bem maior que a Kombi, mas com o mesmo
conceito. Os franceses da Citroën tinham o modelo H, a rival Peugeot
contava com o D3A, a Saviem com o SG2 e a Renault com o 1000K.
Do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos, os furgões começaram a
também fazer muito sucesso. Era comum vermos na TV ou nos filmes esses
carros sendo usado por empresas de diversos fins. Mas para o lazer, à
exceção da Kombi, poucos eram usados. Muito rústicos, vinham desprovidas
de qualquer conforto. Na década de 1960 surgiam naquele país alguns
concorrentes interessantes, de maior porte e com mais conforto. Era o
caso do Chevrolet Corvair Greenbrier, do
Ford Falcon Econoline (com diversos tamanhos de entreeixos) e do Dodge
A100.
Na década de 1970 a Kombi perdia um pouco de apelo, mas se renovava em
1979. Nessa época, na França, surgia um interessante estudo de
monovolume pela empresa Matra, que por anos fez parceria com a Simca —
marca que se tornou Chrysler-Simca e pertencia ao grupo Peugeot. A Matra,
acrônimo de Mécanique Avion TRAction, tinha como presidente Jean-Luc
Lagardère e era especialista, desde a década de 1960, em aeronáutica,
armamento e automóveis esporte como o 530,
o Bagueera e o
Murena. Lagardère, grande empresário francês, era dono do grupo
Hachette de imprensa e de um canal de televisão cuja especialidade era o
esporte.
O diretor presidente da Matra, Philippe Guédon, queria um novo veículo
para ocupar as linhas de produção da fábrica de Romorantin, cerca de 200
quilômetros ao sul de Paris. O aspecto lúdico do
Matra Rancho, baseado no
Simca 1100, o agradava muito. Ele entregou
a Antoine Volanis a responsabilidade de criar um automóvel que
transportasse uma família com conforto, tivesse bom espaço para carga,
motor moderno e desenho aerodinâmico e atraente. Não queria nada que
fosse sisudo e com aspecto de utilitário profissional. Seria um carro
para o lazer.
Em um fim de semana estava pronto o que foi chamado de "veículo
laranja". A cor é muito usada na França para designar objetos de aspecto
agradável, descontraído ou vantajoso. Identificado como projeto P16,
tinha duas portas, cabine avançada e motor central. Aos poucos,
sobretudo por questões de segurança, ajustes foram feitos. Várias peças
de carros de série foram aplicadas, como do próprio Rancho, a plataforma
do sedã Talbot Solara e peças diversas do
Peugeot 604. No fim do ano o esboço foi apresentado ao estado maior
da Peugeot, que a princípio estranhou, mas acabou gostando da idéia.
Continua
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