Declaração de independência

Dos projetos derivados da Opel alemã, a australiana Holden passou a
desenvolver a própria plataforma para a longeva linha Commodore

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Com desenho de Opel Rekord, frente de Senator e estrutura reforçada para as condições australianas, o Commodore VB estreava em 1978

Motores de seis e oito cilindros forneciam até 170 cv ao sedã de tração traseira; no ano seguinte vinha a perua, com seção traseira importada

Grade e motor de quatro cilindros eram novidades do VC, sua primeira evolução; embaixo, um SL/E da série VH, com novos faróis e lanternas

A indústria de automóveis da Austrália tem, por tradição, grande semelhança com a dos Estados Unidos. Marcas como Holden (subsidiária da General Motors), Ford e Chrysler desenvolveram na grande ilha um histórico de carros grandes, em geral com motores de seis e oito cilindros, embora com desenhos e características muitas vezes específicos para aquele amplo mercado.

A Holden havia sido a primeira fábrica com um carro projetado por australianos, o 48-215 ou FX, lançado em 1948. Depois dele vieram modelos como o FE e a linha Kingswood/Premier, que mantiveram o elo com os norte-americanos no uso de motores de grande cilindrada. Mas com a eclosão da primeira crise do petróleo, em 1973, o braço australiano da GM precisava rever seus métodos de produzir automóveis para reduzir o consumo de combustível — e para fazer frente à invasão do mercado pelas marcas japonesas com seus carros mais eficientes e econômicos.

Recorrer a uma das subsidiárias europeias do grupo era uma opção natural: em 1967 a Holden já lançara o Torana, um modelo compacto derivado do Viva da Vauxhall inglesa. Na Alemanha, outra das marcas da GM — a Opel — trabalhava em uma nova geração de seu modelo grande Rekord, de tração traseira, para estreia em 1977. Esse projeto foi escolhido pelos australianos para servir de base a seu novo carro, o sucessor dos pesados Kingswood e Premier.

Lançado em outubro de 1978, o primeiro Holden Commodore (série VB) propunha um interior com espaço e conforto adequados para cinco adultos em uma carroceria mais compacta, que favorecesse a economia. Embora o projeto se baseasse no do Rekord alemão, os australianos efetuaram extensas modificações na estrutura, na vedação contra poeira, no trem de força e nos sistemas de suspensão e direção para lidar com as severas condições de uso do país — que teriam destruído os protótipos vindos da Europa, segundo a própria Holden. Ao fim, o investimento foi tão elevado que permitiria ter projetado um novo carro apenas para a Austrália.

A frente mais comprida, a mesma do Senator alemão, permitia o uso do motor de seis cilindros em linha em posição longitudinal, impossível no Rekord — e resultou em um conjunto tão natural que a Opel a adotou em seu próprio Commodore. Oferecido como sedã de quatro portas, o novo Holden contava com os acabamentos básico, SL e SL/E, este dotado de itens como ar-condicionado automático, rodas de 15 pol com pneus da série 60, freios a disco nas quatro rodas e rádio/toca-fitas. Media 4,85 metros de comprimento e 2,73 m de distância entre eixos.

Quatro motores formavam o catálogo: os de seis cilindros em linha, com 2,85 e 3,3 litros de cilindrada, e os V8 de 4,2 e 5,0 litros, todos com carburador. O maior deles fornecia potência modesta para a cilindrada, 170 cv, mas seu torque de 36,8 m.kgf para lidar com o peso de 1.380 kg representava aumento expressivo sobre o de 25,2 m.kgf do mais potente Senator, que tinha 180 cv. O câmbio manual de quatro marchas era alternativo ao automático de três e, em comparação ao carro alemão, havia a vantagem da caixa de direção por pinhão e cremalheira em vez do pesado sistema de esferas recirculantes. Em meados de 1979 chegava a perua de cinco portas com parte da carroceria importada da Alemanha.

Por um ano a Holden manteve os modelos grandes da série HZ à venda ao lado do novo carro, que conquistava o público e a crítica — foi eleito Carro do Ano de 1979 pela revista australiana Wheels.  Alguns argumentavam que a empresa havia tomado a decisão errada, abrindo mão de mercados como o corporativo e o de táxis, que não trocariam um modelo grande por um médio para os padrões locais. No entanto, a segunda crise do petróleo (1979) provocou aumento de 140% no preço da gasolina na Austrália e, de repente, os fabricantes se viram em busca de opções mais econômicas. O que antes parecia desvantajoso para a Holden mostrou-se um trunfo.

Já em março de 1980 aparecia a primeira evolução do Commodore, designada como VC. As novidades eram vistas na grade dianteira, na pintura em dois tons oferecida para o SL/E e no controlador de velocidade. Sob o capô, os motores de seis e oito cilindros ganhavam potência e tinham o consumo reduzido por meio de uma extensa revisão.

Ainda com o objetivo de economia aparecia um quatro-cilindros de 1,9 litro, nada mais que o 2,85 com dois cilindros a menos. Contudo, com apenas 78 cv para a pesada carroceria, seu desempenho decepcionava. Grandes mudanças ainda não chegavam com a linha VH, em setembro de 1981, mas o estilo era atualizado com novos faróis, grade, capô, para-lamas dianteiros e lanternas traseiras, desenhados na Austrália. As lanternas caneladas seguiam o padrão Mercedes-Benz.

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Data de publicação: 16/6/12

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