A
indústria de automóveis da Austrália tem, por tradição, grande
semelhança com a dos Estados Unidos. Marcas como Holden (subsidiária da
General Motors), Ford e Chrysler desenvolveram na grande ilha um
histórico de carros grandes, em geral com motores de seis e oito
cilindros, embora com desenhos e características muitas vezes
específicos para aquele amplo mercado.
A Holden havia sido a primeira fábrica com um carro projetado por
australianos, o 48-215 ou FX, lançado em
1948. Depois dele vieram modelos como o FE
e a linha Kingswood/Premier, que
mantiveram o elo com os norte-americanos no uso de motores de grande
cilindrada. Mas com a eclosão da primeira crise do petróleo, em 1973, o
braço australiano da GM precisava rever seus métodos de produzir
automóveis para reduzir o consumo de combustível — e para fazer frente à
invasão do mercado pelas marcas japonesas com seus carros mais
eficientes e econômicos.
Recorrer a uma das subsidiárias europeias do grupo era uma opção
natural: em 1967 a Holden já lançara o Torana,
um modelo compacto derivado do Viva da
Vauxhall inglesa. Na Alemanha, outra das marcas da GM — a Opel —
trabalhava em uma nova geração de seu modelo grande
Rekord, de tração traseira, para
estreia em 1977. Esse projeto foi escolhido pelos australianos para
servir de base a seu novo carro, o sucessor dos pesados Kingswood e
Premier.
Lançado em outubro de 1978, o primeiro Holden Commodore (série VB)
propunha um interior com espaço e conforto adequados para cinco adultos
em uma carroceria mais compacta, que favorecesse a economia. Embora o
projeto se baseasse no do Rekord alemão, os australianos efetuaram
extensas modificações na estrutura, na vedação contra poeira, no trem de
força e nos sistemas de suspensão e direção para lidar com as severas
condições de uso do país — que teriam destruído os protótipos vindos da
Europa, segundo a própria Holden. Ao fim, o investimento foi tão elevado
que permitiria ter projetado um novo carro apenas para a Austrália.
A frente mais comprida, a mesma do Senator
alemão, permitia o uso do motor de seis cilindros em linha em posição
longitudinal, impossível no Rekord — e resultou em um conjunto tão
natural que a Opel a adotou em seu próprio
Commodore. Oferecido como sedã
de quatro portas, o novo Holden contava com os acabamentos básico, SL e
SL/E, este dotado de itens como ar-condicionado automático, rodas de 15
pol com pneus da série 60, freios a disco nas quatro rodas e
rádio/toca-fitas. Media 4,85 metros de comprimento e 2,73 m de distância
entre eixos.
Quatro motores formavam o catálogo: os de seis cilindros em linha, com
2,85 e 3,3 litros de cilindrada, e os V8 de 4,2 e 5,0 litros, todos com
carburador. O maior deles fornecia potência modesta para a cilindrada,
170 cv, mas seu torque de 36,8 m.kgf para lidar com o peso de 1.380 kg
representava aumento expressivo sobre o de 25,2 m.kgf do mais potente
Senator, que tinha 180 cv. O câmbio manual de quatro marchas era
alternativo ao automático de três e, em comparação ao carro alemão,
havia a vantagem da caixa de direção por pinhão e cremalheira em vez do
pesado sistema de esferas recirculantes. Em meados de 1979 chegava a
perua de cinco portas com parte da carroceria importada da Alemanha.
Por um ano a Holden manteve os modelos grandes da série HZ à venda ao
lado do novo carro, que conquistava o público e a crítica — foi eleito
Carro do Ano de 1979 pela revista australiana Wheels.
Alguns argumentavam que a empresa havia tomado a decisão errada, abrindo
mão de mercados como o corporativo e o de táxis, que não trocariam um
modelo grande por um médio para os padrões locais. No entanto, a segunda
crise do petróleo (1979) provocou aumento de 140% no preço da gasolina
na Austrália e, de repente, os fabricantes se viram em busca de opções
mais econômicas. O que antes parecia desvantajoso para a Holden
mostrou-se um trunfo.
Já em março de 1980 aparecia a primeira evolução do Commodore, designada
como VC. As novidades eram vistas na grade dianteira, na pintura em dois
tons oferecida para o SL/E e no controlador
de velocidade. Sob o capô, os motores de seis e oito cilindros
ganhavam potência e tinham o consumo reduzido por meio de uma extensa
revisão.
Ainda com o objetivo de economia aparecia um quatro-cilindros
de 1,9 litro, nada mais que o 2,85 com dois cilindros a menos. Contudo,
com apenas 78 cv para a pesada carroceria, seu desempenho decepcionava.
Grandes mudanças ainda não chegavam com a linha VH, em setembro de 1981,
mas o estilo era atualizado com novos faróis, grade, capô, para-lamas
dianteiros e lanternas traseiras, desenhados na Austrália. As lanternas
caneladas seguiam o padrão Mercedes-Benz.
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