


Não importa o ângulo, o 500
expressa simpatia mesmo para quem não conheceu o modelo original,
sucesso de quatro milhões de unidades



No interior, painel que
lembra os de chapa e alavanca de câmbio bem à mão; o revestimento em
couro é refinado, e o espaço, bastante escasso |
A
proposta de oferecer estilo e algum requinte ao transporte pessoal, bem
recebida no mercado europeu há tempos, praticamente fez sua estreia no
Brasil no ano passado com os lançamentos do Fiat 500, do
Mini da BMW e do
Smart Fortwo produzido pelo
mesmo grupo dos Mercedes-Benz. Os três são carros compactos com projeto
moderno, desenho de forte identidade, motores de alto rendimento para
sua cilindrada e boa dotação de itens de segurança, fatores que —
associados ao Imposto de Importação de 35% — se refletem em altos
preços, comparáveis aos de carros bem maiores e mais potentes. De fato,
se analisados pela relação custo-benefício, os três devem ser preteridos
por modelos mais convencionais. Mas isso seria desconsiderar o apelo
visual que suas linhas charmosas possuem — e a atenção que chamam nas
ruas, fazendo-os ideais para quem busca esse resultado ao comprar um
automóvel.
Aspectos emocionais à parte, o Cinquecento (grafia em italiano do número
500 que o identifica) parece o mais racional dos três: oferece pouco
menos espaço e desempenho que o Mini em versão de entrada por um preço
levemente superior ao do Smart, que é claramente mais limitado naqueles
dois aspectos. A versão que avaliamos, de acabamento Sport e caixa
manual de seis marchas, custa R$ 63.860 e passa a R$ 71.525 com o único
pacote de opções disponível, o Sport Full, composto de teto solar com
controle elétrico, banco do motorista com regulagem de altura,
retrovisor interno fotocrômico, bancos
revestidos em couro preto e rodas de alumínio de 16 pol com pneus
195/45. Poderia ainda vir com o câmbio manual
automatizado Dualogic de cinco marchas
por mais R$ 4.120. A versão Lounge acrescenta controle automático de
temperatura do ar-condicionado e teto fixo de vidro (também com opção
pelo solar), além de detalhes externos e internos mais conservadores.
A primeira coisa que se pode dizer sobre o 500 — mais que seja bonito,
uma avaliação bastante pessoal — é que é muito simpático e charmoso. Não
há quem não olhe com um sorriso para sua carroceria arredondada, que
repete as formas do conceito Trepiùno
do Salão de Genebra de 2004 — cujo nome significava "três mais um" em
italiano, alusão ao interior com três lugares normais e espaço para mais
uma criança atrás do motorista. Do modelo
500 de grande sucesso feito
entre 1957 e 1975, que somou 3,9 milhões de unidades, ele mantém o
perfil arredondado e muitos elementos de estilo, como o ressalto na
região da frente onde estaria a grade (inexistente porque o original
tinha motor traseiro; como agora ele está na frente, a tomada inferior
admite ar para o radiador) e onde são aplicados "bigodes" cromados.
Maçanetas, faróis e lanternas traseiras
são claramente inspirados nos do carro de meio século atrás. Embora
muito maior que aquele 500 ou que o próprio Trepiùno, o novo carro ainda
é bem pequeno para os padrões de hoje, com apenas 3,54 metros de
comprimento e 1,62 m de largura; já a altura supera a de vários pequenos
atuais com 1,49 m.
O jeito nostálgico está também no interior, em que a seção do painel
pintada na cor da carroceria lembra os tempos em que se usava metal
nesse componente; também as maçanetas e os botões de comando remetem ao
passado. O revestimento em couro da grife Poltrona Frau dá o toque
luxuoso ao ambiente compacto, que usa materiais de aspecto apenas
regular, ao mesmo nível dos empregados no Punto. Uma crítica vai para os
painéis de porta em plástico duro, que decepciona em um carro com tanta
criatividade — e com esse preço. Por outro lado, há boas soluções como a
alavanca de câmbio em um console elevado junto ao painel (mais próxima
do volante) e o quadro de instrumentos concêntricos. O grande
velocímetro traz dentro de si o conta-giros, que recebe um módulo
digital com os marcadores de combustível e temperatura, relógio,
indicador da temperatura externa e informações do computador de bordo
(com duas medições e que pode informar consumo em nosso padrão de km/l,
se assim configurado). Fora de tudo isso vêm as luzes-piloto.
O resultado é um conjunto compacto, coerente com a proposta, e com
leitura satisfatória de todas as indicações. O motorista encontra boa
posição com os ajustes do banco (o de altura feito por alavanca no lado
interno, por falta de espaço no oposto) e do volante revestido em couro
(regulável apenas em altura; deveria ser em distância), mas o espaço
vertical é um tanto limitado para os mais altos. Além disso, os encostos
de cabeça são os mais duros que já avaliamos, o que causa estranheza. O
volante de três raios tem ótima pega e traz comandos de áudio e telefone
celular (que usa interface Bluetooth e
comandos de voz). Poderiam melhorar os controles elétricos dos vidros,
montados junto à alavanca de câmbio (preferimos nas portas) e não
dotados de temporizador, embora haja
função um-toque para o lado do motorista
e para descer o outro vidro.
Continua
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