
O 250 GTO representava o máximo
da conexão entre ruas e pistas; ao lado, Enzo com um de seus pilotos
mais brilhantes, Juan Manuel Fangio


Lançamentos de 1967: o Dino
206 GT, homenagem ao falecido filho do comendador; e o 365 GTB/4 "Daytona",
carro mais veloz de seu tempo


Depois do Testarossa (foto) e
do 288 GTO, o F40 (na abertura do artigo) fechou com chave de ouro a era
da Ferrari a que o comendador assistiu |

Nos modelos de rua, a evolução não parou. O
250 S aparecia em 1952 com um V12 de
3,0 litros e 230 cv, o início de uma família que incluiria, 10 anos mais
tarde, o famoso 250 GTO. Outros
marcantes Ferraris de rua foram o
365 GTB/4 "Daytona" de 1968, capaz de 280 km/h — o carro
mais veloz do mercado por anos —; o 365
Berlinetta Boxer de 1973, com 12 cilindros opostos e 365 cv; seu
sucessor, o Testarossa de
1984, com 390 cv; e o 288
GTO do mesmo ano, idealizado para o Grupo B de rali, com um V8
biturbo de 2,85 litros. Houve ainda o
Dino 206/246 GT, homenagem ao filho falecido, que não usava a marca
Ferrari. Apesar do êxito dos carros de rua, Enzo os enxergava como meras
formas de financiar a marca nas competições.
O único filho de Enzo com Laura, Dino, morria de distrofia
muscular em 1956. Ele tivera outro em 1945, Piero Lardi-Ferrari, com a
amante de longa data Lina Lardi — Piero, contudo, seria reconhecido como
filho de Ferrari apenas após a morte de Laura em 1978. Em 1963, com
problemas financeiros, ele negociou a venda da equipe para a Ford, mas
desistiu — a negativa levou a marca do oval a desenvolver o
GT 40. A Fiat, então, assumiu
pequena parcela das ações em 1965 e passou a deter 50% do controle
quatro anos depois (em 1988 chegaria a 90%). O comendador manteve-se
como diretor até 1971, mas não deixou de influir na gerência da Ferrari
até sua morte.
Enzo não era um homem fácil de lidar. Franco Gozzi, que atuou como
braço-direito do comendador, considerava-o "um homem fantástico, mas um
mestre exigente. Se ele esperava 130% de você, na primeira vez em que
você trabalhasse 125% ele reclamaria. Ele jamais estava satisfeito". Mas
Gozzi admitiu que "ele não conseguiria fazer a Ferrari se não fosse
dessa forma".
Sergio Scaglietti, o construtor de carrocerias que vendeu sua empresa a
Enzo, endossou: "Era um homem difícil de se trabalhar. Se você lhe pedia
10, ele lhe dava oito. Mas eu tinha paixão em fazer algo por ele". Para
Scaglietti, Ferrari era "um super-homem. Não poderia ser uma pessoa
normal. Ele sabia tudo sobre todos. Quando tinha 200 jornalistas em
frente a si, respondia a cada um. Dava as respostas de imediato, não
importava o assunto. Ele era fenomenal".
Enzo nunca foi aberto a argumentos que contestassem sua autoridade. Em
1961, seu gerente de vendas Girolamo Gardini deu-lhe um ultimato: ou
Laura deixava de opinar nos negócios ou Gardini sairia da empresa. O
gerente da escuderia Romolo Tavoni, o engenheiro chefe Carlo Chiti e o
chefe de desenvolvimento de carros de rua
Giotto Bizzarrini o apoiaram —
e Ferrari demitiu todos de uma só vez.
Alguns de seus pilotos alegaram que Ferrari lhes exigia que
ultrapassassem seus limites pessoais, estimulando uma competição interna
em que cada um tentava superar os colegas para obter a primeira posição
na equipe. É também atribuída a uma discussão entre Enzo e
Ferruccio Lamborghini, no
começo dos anos 60, a decisão deste de abrir a fábrica de carros esporte
que leva seu sobrenome. Em última análise, esse temperamento difícil nos
deu não uma grande marca de automóveis, mas duas.
Enzo Ferrari morreu em 14 de agosto de 1988, aos 90 anos, pouco depois
do lançamento do F40, um dos carros
de rua mais marcantes da história da empresa, com motor V8 biturbo de
478 cv e máxima superior a 320 km/h. Ainda na década de 1920 ele recebeu
a honraria de comendador; em 1952 tornou-se um Cavaliere del Lavoro e em
1965 ganhou o Columbus Prize. Em 2002 a
empresa lançaria um supercarro
denominado como seu fundador. Nas ruas ou nas pistas, o sobrenome
Ferrari assumiu uma reputação que poucas marcas desfrutam.
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