
Depois da vice-presidência da
Ford, Iacocca foi preterido para o cargo máximo, que coube a "Bunkie"
Knudsen, mas ele o alcançaria em 1970


O compacto Pinto, que fracassou
por causa de incêndios, e Lee diante do Mustang II de 1974, que renovava
a fórmula do original (ao fundo)


Depois da Ford, Iacocca levou
seu talento para a Chrysler, onde lançou as minivans em 1984 e à qual
adicionou a marca Jeep três anos depois

Um retorno ao Mustang depois de
45 anos: em 2009 ele criou a edição especial Lee Iacocca com produção
limitada e motores de até 400 cv |
Na metade da década, as vendas decolavam até que Lido teve a brilhante
ideia de fazer o plano 56/56: era o ano de 1956 e o cliente pagaria o
carro em 56 vezes. Foi um sucesso estrondoso. Na época eram fabricados o
comportado Fairlane, o esportivo
Thunderbird e os picapes
Série F. Também em 1956 casava-se com Mary McCleary. Já a conhecia
de algum tempo, mas devido a inúmeras viagens a trabalho não conseguiam
conciliar datas. Conheceu outro nome importante do cenário industrial:
Robert Strange McNamara (1916-2009), vice-presidente da divisão Ford.
Três anos depois, McNamara lançava o compacto
Falcon, que no mesmo ano vendeu 417 mil unidades. Era um carro
simples, robusto e bom para o povo rodar. Um ano depois esse homem
tornava-se o primeiro presidente da Ford que não pertencia à família
fundadora da empresa. Lee, com apenas 36 anos, ganhava o cargo de
vice-presidente e gerente geral da divisão Ford. Havia conhecido o
todo-poderoso Henry Ford. A indicação ao cargo havia sido dos amigos
Beacham e McNamara, mas ele era muito competente, um ótimo
administrador, e se preocupava demais com o pós-venda. Era enfático com
seus concessionários nesse aspecto.
Na análise de Lee, o Falcon, apesar do sucesso, não trazia muito retorno
financeiro ao grupo. Ele tinha a ideia de fazer um carro de custo baixo
que atendesse a uma grande clientela com ampla opção de acessórios e
motores, aspecto jovem e carroceria muito atraente. Começavam os anos
60, o país se sentia jovem e muito motivado por seu presidente John
Fitzgerald Kennedy. A Ford havia perdido dinheiro com o fracasso da
linha Edsel e precisava se recuperar. McNamara havia incumbido Lee de
visitar a filial alemã a fim de conhecer o projeto Cardinal. Tratava-se
de um carro pequeno com motor V4 e linhas pouco usuais para o mercado
norte-americano. Lee não gostou: queria outro carro para seu país.
Dearborn então passou a um projeto próprio e, em abril de 1964, era
lançado no Salão de Nova York o
Mustang, que se tornou um sucesso de vendas logo na apresentação.
Iacocca estava muito orgulhoso de seu projeto maior. No mesmo ano ele
era capa da prestigiada revista norte-americana Time. O Mustang
utilizava várias peças do Falcon e por isso o projeto custou menos do
que se esperava. A Ford colocou anúncios em 2.600 jornais do país para
mostrar seu produto a jovens, senhores, senhoras, pessoas de todas as
idades. E todos o queriam.
Em 1965 Lee ocupava a vice-presidência do grupo, sendo responsável pelo
planejamento, marketing de automóveis e caminhões das linhas Ford,
Mercury e Lincoln. Dois anos depois já havia vendido um milhão de
Mustangs nas versões cupê, conversível e
fastback. O carro era um sucesso absoluto. Na época já estava em
fase de lançamento outro êxito do grupo: o
Mercury Cougar, também esculpido
da genialidade de Iacocca. Em 1968 aqueles que gostavam de carros
grandes podiam contar com o Lincoln Continental Mark III, outra bela
jogada do executivo. Tudo ia muito bem e Iacocca pensava que seria o
novo presidente do grupo, até que em 1968 foi contratado Semon E. "Bunkie"
Knudsen, que era da GM e fora para a Ford ocupar o cargo máximo ganhando
uma fortuna. Essa aventura durou pouco: por desentendimentos, em 1970
Bunkie deixava o cargo e finalmente Iacocca era reconhecido, tornando-se
presidente da empresa.
Um ano depois, mais um produto do novo presidente chagava: o
Pinto, um compacto que enfrentaria graves
problemas com incêndios. Em 1973 Lee recebia um golpe — o pai falecia.
No ano seguinte era lançado o Mustang II. Não era o mesmo carro nem
tinha o vigor e a juventude do belo automóvel da década de 1960, mas
estava adequando à crise do petróleo deflagrada em 1973. Havia também
uma crise dentro dos escritórios da Ford e os nervos estavam aparecendo.
Consta que o todo-poderoso Henry Ford II não suportava o sucesso e o
arrojo de Lee, que após 32 anos de ótimos serviços foi sumariamente
demitido em 1978. Todos estavam estupefatos. Iacocca ficou deprimido por
algum tempo, mas após quatro meses foi chamado para presidir a Chrysler,
então em péssima situação financeira. Não sabia bem por onde começar,
mas juntou uma ótima equipe, cortou gastos e grandes salários e obteve
um bom empréstimo do governo, que não demorou a ser saldado. Tirou a
Chrysler do buraco antes do esperado, apenas sete anos depois, graças a
sua genialidade.
Seus trunfos foram os fenômenos
Dodge Caravan e Plymouth
Voyager, minivans copiadas em todo o mundo. Outra linha de sucesso
sob sua batuta foram os carros "K", compactos com tração dianteira: o
Dodge Aries nos EUA, o Dart para os mexicanos e o Plymouth Reliant, que
tinha a mesma base. Em 1983, Lee recebia um grande golpe com a morte da
esposa Mary, que lutava contra a diabete. Com as filhas Kathi e Lia,
formavam uma família unida. Uma jogada de mestre foi ter comprado a
American Motors em 1987, pois no pacote vieram os Jeeps, símbolo da
tendência por utilitários esporte que ganhava corpo. No ano seguinte
criou a divisão Eagle. Fez associação com a Mitsubishi, trazendo do
Japão tecnologias e montando uma fábrica em Normal, Illinois para
produzir modelos em conjunto. Outro antigo parceiro que veio a se juntar
a ele era Carroll Shelby, que
fez para a Chrysler versões mais rápidas de compactos como o
Dodge Charger.
Em 1992 aposentava-se da Chrysler para se dedicar à consultoria e à
Fundação Iacocca pela Diabete, instituição criada por ele sem fins
lucrativos para pesquisas contra esse mal que atinge milhões de pessoas
no mundo. Sempre foi um homem bem relacionado com os presidentes dos
EUA, que também o admiravam, desde John Kennedy e Jimmy Carter até
Ronald Reagan, com quem tinha mais afinidade. Em 2009, por ocasião dos
45 anos do Mustang, lançava a série especial
Lee Iacocca Silver
45th Anniversary Edition do modelo, com motor V8 de 4,6 litros e 320
cv ou, se dotado de compressor, 400 cv.
Em 2010 lançou o terceiro livro, Cadê os Líderes?, que se soma a
Iacocca: Uma Autobiografia e Falando Francamente. O mestre
continua a nos ensinar.
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