O longevo cupê de Rüsselsheim

Produzido por 18 anos, o Opel Manta teve origem em um comportado sedã,
mas se prestou a versões esportivas e adaptações de alto desempenho

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação

Frente baixa, quatro faróis e lanternas, curvas suaves: linhas do Manta de primeira geração, que ganhava ar esportivo na versão SR (embaixo)

Bancos reclináveis e console vinham em toda a linha; no Berlinetta (embaixo) estreavam teto de vinil, teto solar e revestimento de veludo

A empresa alemã Opel, fundada em 1899 e incorporada à General Motors em 1929, durante décadas dedicou-se a carros comportados — em geral sedãs e peruas — que não tinham na esportividade um traço relevante. Se a Volkswagen oferecia desde os anos 50 o charmoso Karmann-Ghia e marcas como BMW e Alfa Romeo faziam dos cupês esportivos partes importantes de suas linhas, a gama Opel chegou a meados da década de 1960 sem uma opção de apelo mais jovial, a não ser as sóbrias versões de duas portas de Kadett e Rekord. O lançamento do pequeno cupê de dois lugares GT, em 1968, preencheu uma lacuna na oferta da marca, mas ainda havia espaço para outro esportivo. Algo como aquele que a Ford europeia — uma das concorrentes mais diretas da Opel em mercados como Inglaterra e Alemanha — apresentava em 1969: o cupê médio Capri, uma espécie de adaptação da proposta do Mustang aos padrões do Velho Continente. Era um duas-portas de aspecto informal com ampla gama de opcionais e de motores, de forma a atender os mais diversos públicos.

De fato, o então novo chefe de Estilo da Opel, Chuck Jordan, admitiria mais tarde que o Capri estivera nas mentes de sua equipe durante a concepção do cupê de cinco lugares que a empresa lançaria no Salão de Paris em setembro de 1970: o Manta. O nome vinha de uma espécie de raia de grande porte — até oito metros de envergadura —, também conhecida como jamanta ou morcego-do-mar, e repetia a fórmula da GM norte-americana com a série Stingray do Corvette. O logotipo de uma raia chegou a ser usado nos Mantas exportados para os Estados Unidos. A base para o projeto foi o Ascona de primeira geração, sedã médio entre o Kadett e o Rekord que seria lançado dois meses mais tarde, em novembro. Só depois de concluído o desenho do Ascona o pessoal de Jordan passou ao cupê. Houve a tentativa de usar nele a frente do sedã, mas o resultado não agradou e um novo estilo foi elaborado, com capô tão baixo quanto possível dentro dos limites legais de dimensões dos faróis.

O resultado foi um atraente três-volumes, que transmitia desempenho sem se afastar do padrão de estilo do fabricante na época. Os quatro faróis circulares vinham incrustados na ampla grade preta e faziam conjunto com as lanternas traseiras, de mesmos número e forma. Leves, as linhas das laterais traziam um único vinco à altura das maçanetas — sem ondulação nos para-lamas traseiros, sinal de que o estilo "garrafa de Coca-Cola" já não tinha lugar nos novos carros. Os para-choques eram finas lâminas de aço. É possível ver nele alguns traços de nosso Opala cupê, derivado do Rekord de 1967. Com 4,28 metros de comprimento, 1,60 m de largura, 1,30 m de altura e 2,43 m de distância entre eixos, porém, o Manta era claramente mais compacto. Se comparado ao Capri, era pouco mais longo e estreito, 5 cm mais alto e tinha 13 cm a menos entre os eixos, mas usava bitolas próximas às do Ford. Ao contrário do usual na linha Opel, as versões para o Reino Unido mantinham esse logotipo em vez de ganhar o da divisão inglesa Vauxhall.

O cupê era oferecido em duas versões. O acabamento Deluxe era o mais simples, com calotas conservadoras e interior espartano, mas trazia bancos dianteiros reclináveis e console central (alguns mercados receberam também uma versão básica). O SR acrescentava rodas de quatro raios mais largas com pneus 185/70 R 13, volante esportivo, painel com conta-giros e manômetro de óleo, interior todo em preto e a opção de capô e faixas laterais em preto fosco, recurso comum na época. Em outubro de 1972 era acrescentado o mais luxuoso Berlinetta — termo italiano para cupê —, com teto revestido em vinil de cor combinando com a da carroceria, teto solar e pneus como os do SR. Por dentro, o revestimento usava veludo e o painel trazia conta-giros e apliques em padrão madeira.

A exemplo do primeiro Ascona, o Manta seguia a concepção clássica de motor longitudinal dianteiro e tração traseira, que no sedã mudaria apenas na terceira geração, a mesma lançada no Brasil como Chevrolet Monza. Os dois motores disponíveis eram da linha CIH, lançada em 1965 com seis cilindros e que agora contava com unidades de quatro cilindros. Com bloco e cabeçote de ferro fundido e comando de válvulas no cabeçote, o de 1,6 litro podia ter potência de 68 ou 80 cv, com torque de 10,9 ou 12 m.kgf, na ordem — o modelo de carburador e a taxa de compressão faziam a diferença. Já o de 1,9 litro, de série no SR e no Berlinetta e opcional no Deluxe, vinha com 90 cv e 14,9 m.kgf. Mais tarde foi oferecido o veterano 1,2 do Kadett, de comando no bloco, 60 cv e 9 m.kgf, que não chegou ao mercado britânico.
Continua

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Data de publicação: 7/11/09

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