Para
os brasileiros, o nome Kadett remete a um
carro produzido pela General Motors
por uma só geração, de 1989 a 1998, e que encontrou relativo sucesso em
sua categoria. Na Alemanha, porém, a história é outra: o Kadett surgiu
por lá antes da Segunda Guerra Mundial, pela marca Opel, e teve seis
gerações até entregar seu posto ao
Astra, em 1991 — o que não impediu que continuasse em produção até
hoje, com outros nomes e aparências, em mercados menos desenvolvidos.
O primeiro Kadett foi apresentado em dezembro de 1936, três anos antes
do Volkswagen, ou Fusca, com o qual
concorreria diretamente. A construção
monobloco, em vez da carroceria sobre chassi de madeira comum na
época, ainda era novidade para os alemães, que haviam visto essa solução
pela primeira vez um ano antes, no
Olympia da mesma Opel. Ele
era oferecido com duas e quatro portas (nesse caso as traseiras
abriam-se para trás), em carroceria
fastback fechada, e como conversível de
duas portas (que mantinha os arcos das janelas laterais, permitindo
apenas o recolhimento da capota), sempre com quatro lugares.
Suas linhas simples seguiam os padrões de então, com para-lamas
destacados da carroceria, capô alto e estreito com grade vertical,
estribos e pequena área de vidros. Os faróis já se integravam ao corpo,
deixando para trás a montagem "pendurada" comum poucos anos atrás, e o
para-brisa era inteiriço. Na traseira vinha o estepe, à mostra, sendo o
acesso ao porta-malas feito por dentro da cabine. Compacto, o carro
media 3,81 metros de comprimento, 1,38 m de largura e 1,45 m de altura,
com 2,34 m de distância entre eixos, e pesava 757 kg. A designação
Kadett 11234 referia-se à cilindrada e ao entre-eixos.
O motor dianteiro do primeiro modelo, herdado do Opel P-4, era um
quatro-cilindros de 1,1 litro com potência de 23 cv, suficiente para
alcançar quase 100 km/h — desempenho adequado a um carro barato,
destinado a facilitar a motorização dos alemães. O câmbio manual, com
alavanca no assoalho, tinha três marchas e a tração era traseira. Certa
modernidade havia na suspensão dianteira, já independente, enquanto
atrás era usado um eixo rígido com feixe de molas semielípticas. Os
freios a tambor atuavam nas quatro rodas, que tinham pneus 4,50-16.
Alterações de estilo eram feitas em 1938, como uma grade dianteira mais
elaborada. Também nesse ano foi construído o protótipo de um roadster,
ou conversível de dois lugares, chamado Strolch — a Opel chegou a elaborar material de
divulgação sobre ele, mas a versão nunca chegou à produção. Em 2009 a
fábrica, com base em antigos materiais do projeto, decidiu recriar o
modelo em exemplar único.
Foram fabricados 107 mil Kadetts até 1940, quando a guerra fez cessar a
produção. Seis anos mais tarde, a linha de montagem foi apropriada pelos
russos a título de espólio de guerra, o que deu àquela primeira geração
uma sobrevida sob o nome Moskvitch 400,
com quatro portas e versão conversível. O total fabricado na Rússia, de
247 mil unidades entre 1947 e 1954, superou por larga margem o da Alemanha.
Retorno em família
Mais de 20 anos se
passaram até que voltasse ao mercado o nome Kadett — cadete em alemão, a
primeira denominação alusiva à Marinha usada pela Opel, seguida pelo
Admiral e o
Kapitän, ou almirante e capitão, em 1937 e 1938, na ordem. O
Volkswagen já era um grande sucesso, dentro e fora da Alemanha, e a Opel
precisava de um carro compacto e acessível para competir com ele, em um
segmento abaixo dos ocupados pelo
Rekord e pelo Kapitän.
Uma nova fábrica foi erguida em Bochum para produzir o que seria
conhecido como o Kadett A, a primeira geração da fase em que o nome teve
continuidade. Em outubro de 1962 ele estreava com uma pequena família:
as versões sedã e perua (Caravan, nome que na Opel foi usado para tal
variação dos mais diferentes modelos) de duas portas laterais, a que se
seguiria um ano depois o cupê, com vidro traseiro mais inclinado. Todos
mantinham os quatro lugares, mas a perua podia vir com um banco
adicional no porta-malas, voltado para trás, que levava duas crianças.
Continua
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