
Com capô longo e baixo e
laterais sem estribos, este Zephyr modificado em 1939 por Edsel Ford
deria origem ao Continental no ano seguinte


Com novo desenho frontal, o Continental estreava em
1940 (também na foto do alto) em versões cupê e conversível com
motor V12 de 4,8 litros


O interior de 1940 e o modelo do
ano seguinte, com leves mudanças, junto a uma proprietária famosa: a estrela
de Hollywood Rita Hayworth |
Filho de Henry Ford, o criador do império da indústria automobilística
que leva seu sobrenome, Edsel Ford foi um genuíno apaixonado por carros.
Alguns afirmam que seu interesse era maior que o do pai, em geral
tratado como um grande fã apenas de sua mais notória criação, o
Modelo T. O que entusiasmava mesmo
Edsel eram os carros potentes e sofisticados que ocupavam as garagens de
sua abastada família, onde um simplório T não faria sentido. Foi essa
predileção que o levou a criar, por acaso, um dos mais reconhecidos
clássicos norte-americanos, o Lincoln Continental.
Foi Edsel que convenceu seu pai a adquirir a Lincoln em 1922 como uma
divisão de luxo da Ford. “Meu pai faz o carro mais popular do mundo. Eu
gostaria de fazer o melhor carro do mundo, o Lincoln”, dizia ele,
presidente da companhia desde 1919. Embora o velho Henry discordasse de
algumas decisões do filho, Edsel conseguiu fazer do
Ford Modelo A um míni-Lincoln.
Regularmente, mandava adaptar carros a seu gosto e tinha predileção por
dois speedsters, pequenos modelos abertos e esportivos, um de 1932 e
outro de 1934. Ao contrário do que se praticava, Edsel acreditava que o
carro devia nascer pelo estilo. Junto ao projetista Turrenne “Bob”
Gregorie, entre 1938 e 1939 Edsel modificou para uso pessoal um exemplar cupê conversível
do Lincoln-Zephyr (com o hífen adotado na
época), modelo da marca histórico pelas formas aerodinâmicas.
Com um capô bem mais baixo que o do modelo em que se baseava, o
conversível ficou com a frente mais alongada e o bico mais protuberante,
uma referência proposital aos iates usados pela aristocracia. O
para-brisa era sustentado por colunas rigorosamente retas. Não havia
mais os vestígios de estribos do Zephyr. A traseira tinha um desenho
retilíneo e elevado entre os para-lamas. O aspecto mais importante da
carroceria, porém, era o estepe externo que ficava junto a ela. A
inspiração vinha do chamado “estilo continental” europeu, solução que na
prática já havia sido adotada antes também em Detroit. Há quem diga que
Edsel até já tinha segundas intenções — leia-se planos de produzi-lo em
série, o que não seria demérito algum. O fato é que o carro encantou os
endinheirados amigos do empresário em uma viagem à Flórida. Cerca de 200
demonstraram interesse em ter um igual. Não deu outra: na linha 1940 já
figurava a versão Continental Cabriolet do Zephyr.
A série K, topo da linha Lincoln, deixaria de ser produzida naquele ano.
Como o mais novo e sofisticado Lincoln, o Continental oferecia teto com
abertura automática a vácuo, ainda que não rígido como o dos
Peugeots 401 e
402. Faróis e para-lamas estavam um pouco modificados em relação ao
carro de Edsel, seguindo o estilo da linha 1940. As portas tinham
quebra-ventos. No geral, o Continental era inovador sem ser radical e
luxuoso sem ostentar em demasia. Havia espaço para até cinco pessoas no
modelo e uma novidade, a versão cupê. Esta trazia janelas laterais
traseiras subdivididas no mesmo esquema das dianteiras, com uma área
reservada ao quebra-vento. A visibilidade era muito melhor, já que
manobrar o conversível com o teto fechado era como brincar de adivinhar
o que estava no caminho para trás. Abrir a área do entorno da minúscula
janela traseira era uma opção, mas só em locais de clima ameno. No
entanto, isso não impediria que em 1951 o Museum of Modern Art de Nova
York (MoMA) elegesse o Continental um entre oito modelos que podiam ser
considerados obras de arte.
Todo Lincoln-Zephyr usava um motor V12 de 292 pol³ (4,8 litros)
desenhado com base no V8 flathead da Ford, mas com ângulo de 75° entre
as bancadas de cilindros em vez de 90°. Com cabeçotes de alumínio,
válvulas e seu comando no bloco, desenvolvia
potência bruta — padrão neste artigo até 1971 — de 120 cv a 3.500
rpm. O câmbio manual de três marchas, sendo as duas mais altas
sincronizadas, tinha a alavanca
instalada na coluna de direção. Uma caixa overdrive de duas marchas era
opcional. Molas transversais eram usadas nos dois eixos rígidos. O brilho
do Continental estava mesmo no estilo, que também permitia escolhas. Os
bancos podiam ser revestidos em couro e tecido ou
inteiramente em couro, com diferentes cores.
Para 1941 a Lincoln preparou pequenas melhorias como a substituição das
maçanetas por botões nas portas, abertura elétrica da capota, comando
interno de capô (antes devia-se virar o mascote na dianteira) e comando automático do
overdrive como opcional. Desvinculado da linha Zephyr, agora ele era oficialmente
o Lincoln-Continental.
Continua
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