Praticamente igual ao alemão, o modelo brasileiro competia com Willys Interlagos e mais tarde o Puma, mas usava o limitado motor 1200 de 30 cv

Motor 1500 de 44 cv, freios dianteiros a disco e bitola traseira mais larga em 1967 (embaixo) deixaram o KG mais adequado a andar rápido

Nosso Karmann era quase igual ao alemão fabricado na época, incluindo o motor 1200 de 30 cv. Uma das poucas diferenças eram os pára-choques com arcos de proteção. A propaganda da fábrica o anunciava como um carro para várias classes sociais e ampla faixa etária. Tinha 18 opções de cores — a preferida da maioria era a vermelha. Era um carro gostoso de dirigir, com volante leve e câmbio preciso. Em 1966 chegava mais um concorrente: o Puma GT, com mecânica DKW-Vemag. Era mais moderno e veloz, mas custava bem mais caro.

Em 1967 estreava o motor 1500 com 44 cv — nossa versão não chegou a usar o 1300, lançado no mesmo ano no Fusca. O sistema elétrico passava de seis para 12 volts e aparecia a trava da alavanca de câmbio, para dificultar o furto, mas que também impedia que o carro fosse estacionado com marcha engatada. Permaneciam os freios a tambor nas quatro rodas, suficientes para a potência, e os pneus na medida 5,60-15 que podiam vir com faixa branca. As rodas de aço estampado tinham calotas lisas, sem maiores adornos, mas bonitas.

Um ano depois chegava o modelo conversível, na época o único esportivo nacional de série sem capota rígida — o Interlagos já não era mais fabricado e essa versão do Brasinca Uirapuru não passou de duas unidades. Com linhas muito agradáveis, era um carro ótimo para nosso verão. Desfilar com ele nas avenidas das praias era sucesso na certa. O motor 1600 de 50 cv e 10,8 m.kgf, que era adotado em 1970, estava apto a velocidade máxima de 138 km/h e a aceleração de 0 a 100 km/h em 23 segundos. Passava também a ser equipado com freios a disco dianteiros e, para melhorar a estabilidade, bitola traseira mais larga.

O esportivo chegava à maioridade e ficava mais interessante. Mas, anunciando seu fim, no mesmo ano era apresentado o Karmann Ghia TC. Com linhas bem mais modernas e clara inspiração no Porsche 911, atraiu muito os olhares. Seu projeto também passou pelo crivo da Karmann alemã e da Ghia. Lembrava muito um dos primeiros protótipos — o 695 — feitos pela Porsche na fase de projeto do 911.

Visto de frente, os faróis circulares do TC chamavam a atenção, assim como as duas grades retangulares subdivididas em três partes. Era apenas um adorno, já que o motor estava na traseira. De perfil, exibia na parte inferior curvas nos pára-lamas dianteiros e traseiros semelhantes às do antecessor. Nos vidros das portas o quebra-vento atrapalhava um pouco a suavidade de linhas, embora fosse uma exigência dos brasileiros. A traseira seguia o formato fastback, uma tendência da época. Continua

Nas pistas
Os Karmanns mais famosos do país nas pistas foram os da equipe-concessionária Dacon, de São Paulo. As fábricas de automóveis, no começo da década de 1960, apoiavam os pilotos nas pistas e tinham equipes oficiais muito fortes e organizadas. Havia a Vemag, a Simca e a Willys. Em meados da década a Simca era representada pelo Simca Abarth francês e a Willys pelos Alpines 1300 trazidos de lá. Eram muito competitivos e fortes. A FNM não quis ficar de fora e trouxe o Alfa Romeo Giulia. A DKW corria com seus Pumas iniciantes e a VW com o "besouro" envenenado e alguns Karmanns sem maiores preparações.

Foi quando a equipe Dacon entrou com seus famosos carros azuis com faixas brancas. O proprietário Paulo Goulart, engenheiro formado pela Universidade de Mackenzie em São Paulo, trouxe componentes do Porsche 95-SC da Alemanha. O motor encaixava sem maiores adaptações e a suspensão tinha novos ajustes. Eram montados na Rampson, indústria de componentes de alumínio de Goulart. Pouco depois, já instalado em uma sede num ponto nobre do centro de São Paulo, começou a montar e vender Karmann Ghia e Fusca com motor de Porsche.

Foi um sucesso nas ruas e para as pistas não demorou muito. A primeira vitória, com um motor Porsche de 1,6 litro e 120 cv, aconteceu no Rio de Janeiro. Paulo Goulart emprestou seu KG-Porsche de uso particular para o grande piloto Chico Landi. Enfrentando Alpine, Alfa, DKW e Malzoni, Chico venceu a Mil Milhas da Guanabara em julho de 1964. Ganhou, mas não levou: o regulamento era rígido quanto à participação de carros especiais e o da Dacon foi considerado um protótipo. Mas a rivalidade entre a Dacon e a Willys estava instalada.

Pouco depois a CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) liberou a participação de protótipos. Inscrita com um Karmann Ghia com motor VW 1600, a Dacon não foi bem-sucedida por causa de um vazamento de óleo.
Já participavam da equipe os pilotos José Carlos Pace (o "Moco") e Anísio Campos. Este trabalhava em moldes de carroceria em plástico reforçado com fibra-de-vidro para o KG. Depois veio a atração maior, com outro propulsor bem mais potente: o de 2,0 litros do Porsche 904, com duplo comando de válvulas e cerca de 200 cv. A velocidade final estava por volta dos 210 km/h. Sem o capô, chamavam a atenção os volumosos carburadores Solex e o cano de escapamento de grande diâmetro. Também eram destaque as rodas Kron Prinz. Na frente usavam pneus na medida 165-15, mas atrás eram assustadores 210/80-15. Era um carro de briga. Sem os pára-choques e adornos, tinha aspecto intimidante, sem perder a sensualidade.

A primeira vitória da Dacon com Pace veio numa disputa em três baterias na Prova Prefeito Faria Lima, no Autódromo de Interlagos. Venceu as duas últimas baterias, disputando muito com o Malzoni de Chico Lameirão. Não ganhou a primeira pois a porta do KG estava abrindo, atrapalhando a pilotagem. Pace tirou também o segundo lugar no Prêmio Esso de Velocidade, prova que inaugurou em julho de 1966 o Autódromo Internacional do Rio de Janeiro Governador Negrão de Lima.

E foi nesse asfalto, no fim do ano, na Mil Quilômetros da Guanabara, que a equipe Dacon venceu mais uma prova com muita pompa. Goulart ficou muito emocionado com a grande vitória. A dupla Wilson Fittipaldi-Ludovico Perez obteve o primeiro lugar, e Pace-Totó Porto, o segundo. A média horária foi de 105 km/h e a prova durou nove horas e 15 minutos. Correram também as equipes Willys, Jolly Gancia (com os Alfas) e Malzoni com os Pumas.

Em maio de 1967, na 1.000 Quilômetros de Brasília, disputada entre 22 e 23 de abril, os KG-Porsches tiraram os três primeiros lugares em uma duríssima prova. Foi a glória para Paulo Goulart e para os pilotos. "Moco" e Wilsinho venceram de ponta a ponta. Em segundo ficaram Émerson e Chico Lameirão, e em terceiro, Lian Duarte e Rodolfo Olival Costa. Foi a última prova da equipe Dacon. Os custos eram altos e o proprietário não obteve o apoio da Volkswagen para continuar.

Foi uma época de ouro do automobilismo nacional. Muito braço, muita dedicação e determinação, mesmo com pouca tecnologia. A vontade de homens é que movia os carros e os levava a brilhar.

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