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O felino brasileiro


Nascido para as pistas, o Puma foi para as ruas e fez muito sucesso no Brasil e no exterior

Texto: Francis Castaings - Edição: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação*

Homens arrojados desenvolveram o esportivo nacional mais famoso, bonito e original. Tudo começou quase na metade da década de 60, quando nossa indústria automobilística ainda engatinhava. Nossos carros eram originários de marcas americanas ou européias, idênticos aos que ainda eram -- ou já haviam deixado de ser -- fabricados lá fora.

As competições faziam sucesso, apesar dos autódromos serem ainda muito rústicos e os eventos pouco divulgados no imenso território nacional. A maioria das provas eram realizadas nos estados do Rio de Janeiro -- Guanabara, na época -- e São Paulo. No autódromo de Interlagos, na capital paulista, era realizada a famosa Mil Milhas.

Clique para ampliar a imagem O GT Malzoni, com mecânica DKW de três cilindros, deu início a uma história que incluiria exportação de 1.035 unidades, até para a Suiça (no alto)

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Estes homens arrojados eram Jorge Lettry, que comandava na época o departamento de competições da Vemag, e o projetista Genaro "Rino" Malzoni, que mais tarde emprestaria seu sobrenome ao novo esportivo nacional. Juntaram-se a eles na empreitada Anísio Campos, piloto e designer, Luís Roberto Alves da Costa, Mílton Masteguin e Mário César "Marinho" de Camargo Filho, piloto da Vemag e possuidor de grande prestígio à época. Malzoni já tinha experiência com carrocerias originais feitas por ele usando chassis nacionais -- ele "encarroçava", vestia estruturas.

A decisão recaiu sobre o chassi e a motorização DKW-Vemag, de dois tempos, três cilindros e tração dianteira. Este conjunto já havia mostrado seu valor nas pistas, com os DKW altamente modificados. Dizia-se no meio automobilístico que estes carros recebiam elogios da Auto Union da Alemanha, pois ninguém -- nem os próprios alemães -- conseguia extrair tanta potência dos pequenos motores.
Vidro traseiro envolvente e quatro lanternas circulares, caracteres de estilo do Malzoni

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No entanto, Jorge Lettry -- com quem o Best Cars Web Site conversou especialmente para este artigo -- contesta, afirmando tratar-se de puro mito os tais elogios: "Os alemães nunca deram a mínima bola para o assunto, pois também tinham a mesma potência".

A história de nosso grã-turismo começou em 1964, quando Malzoni fez o primeiro protótipo para as pistas com uma carroceria em chapas de metal. Foi feito em sua fazenda de cana-de-açúcar em Matão, interior de São Paulo. O sucesso nas corridas não demorou. Ganhou cinco provas em 1965. Sua estréia foi no Grande Prêmio das Américas, em Interlagos, e obteve o primeiro lugar entre os protótipos. Havia muitos desses "especiais" na época competindo, alguns com carrocerias bizarras.

Seus concorrentes eram os carros da Willys, principalmente o Interlagos, cuja versão francesa Alpine (
saiba mais) havia sido homologada para competições como carro de Turismo, um equívoco do organismo internacional -- a FIA --, segundo muitos. O objetivo, com o Puma, era justamente superá-los e aos FNM JK e Simca.

Em 1966 surgia o Puma GT, com estilo de Anísio Campos inspirado no Ferrari 275 GT e o mesmo motor DKW dois-tempos
Utilizava nas pistas os motores Vemag mais fortes, embora nenhum deles chegasse à potência de 103 cv, com apenas 1.080 cm3, de um DKW de fábrica especialmente preparado para uma Mil Milhas. As fábricas na época faziam muita propaganda de seus carros nas competições, principalmente em revistas e jornais -- a televisão ainda não era um veículo de comunicação tão difundido como hoje.

Foi criada então a empresa Lumimari -- nome formado pela junção de Luís, Mílton, Marinho e Rino -- para dar inicio à produção em série. A carroceria, nitidamente inspirada na escola italiana, seria de plástico reforçado com fibra-de-vidro. O carro era pequeno, bonito e mais leve com o novo material. Tinha faróis carenados e logo abaixo ficava a grade oblonga, com frisos horizontais. A distância entre eixos passava de 2,47 para 2,22 metros. Rodas Mangels, com centro de aço e aro de liga leve, e limpadores em sentido contrário faziam diferenças. Seu primeiro nome era GT Malzoni.
O modelo das pistas evoluiu para um cupê luxuoso, confortável e com excelente posição de dirigir

Para a produção em série o motor, de dois tempos e três cilindros, tinha 981 cm3 e sistema de lubrificação automática Lubrimat, sem necessidade de mistura de óleo à gasolina no tanque de combustível. Sem o Lubrimat, a mistura era 97,5% de gasolina e 2,5% de óleo, ou 40:1. Com a bomba, passava a 60:1 em termos médios -- a vazão da bomba dependia de rotação e aceleração. Com potência de 50 cv a 4.500 rpm e apenas 890 a 900 kg de peso (o sedã pesava 1.000 kg), atingia velocidade máxima em torno de 145 km/h e acelerava bem para os padrões da época.

Em 1966, no V Salão do Automóvel brasileiro, era exposta a primeira evolução do GT Malzoni, o Puma GT. Suas linhas eram nitidamente inspiradas no Ferrari 275 GT. Seu desenho coube ao piloto-estilista Anísio Campos. Não tinha mais a simplicidade e o despojamento de um carro de corridas: o acabamento era luxuoso. No mesmo ano a pequena empresa tomava parte do Grupo Executivo das Indústrias Mecânicas. A razão social foi mudada para Puma Veículos e Motores Ltda. Em 1966 foram produzidos 35 Pumas DKW, número que chegou a 170 no ano seguinte.

Vidro traseiro também envolvente, lanternas alongadas, limpadores em sentidos contrários, carroceria em plástico com fibra de vidro: o Puma GT

Sua posição de dirigir era impecável, com alavanca de câmbio no assoalho trazendo a manopla em forma de pêra, mas mantendo o "H" do DKW-Vemag de alavanca na coluna: marchas ímpares em baixo e pares em cima, com a ré ao lado da segunda.

Ao que parece, Malzoni gostava mesmo de felinos, pois também foi o projetista do Malzoni-Onça, carro exposto no Salão do Automóvel de 1967 equipado com mecânica FNM e carroceria de linhas quase idênticas às do Ford Mustang. A grade dianteira o diferenciava deste; vinha dos Alfa Romeo.
Continua

No exterior
Esportivo de maior sucesso fabricado no Brasil, o Puma foi exportado para mais de 50 países, incluindo vários na Europa, EUA, Canadá e nossos vizinhos da América Latina. A empresa sul-africana Bromer Motor Assemblies foi a primeira a produzir sob licença nosso esportivo, em 1973. Foram produzidas 357 unidades em 21 meses. Algumas delas chegaram a ser exportadas para a Austrália.

De 1969 até 1980 foram exportados 1.035 carros. Não estão incluídos aqueles que foram sob a forma de kit para os EUA. O auge foi em 1973, quando foram exportadas 401 unidades.
O nome
Foi Jorge Lettry quem sugeriu o nome Puma, "por ser o puma um animal felino, ágil e rápido". Como ele, existem carros famosos com os nomes Jaguar, Cheetah (protótipo de corridas), o Onça de Malzoni, o Lince, o Mangusta e o Pantera (ambos da DeTomaso) e o Cougar da Mercury.

O nome não foi exclusivo: a Ford lançou o pequeno esportivo Puma, derivado do Fiesta, em 1997. Pequenos produtores de bugues na Itália e na Suíça também o usaram.

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* Agradecimentos a Jorge Lettry, pela entrevista concedida; Renato Malcotti,
proprietário do Puma GT das fotos; e
home-page do Puma, pela cessão de fotos

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