Paixão à primeira curva

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Original no desenho, inovador na suspensão, o Ford Focus
chegou aos quatro cantos do globo e foi líder mundial de vendas

Texto: Fabrício Samahá - Fotos: divulgação
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Curvas e arestas em contraste, como sugeria o estilo New Edge da Ford, davam ar moderno e diferenciado para a versão hatch do Focus

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Sedã e perua eram mais tradicionais; a linha de motores inicial contava com quatro unidades a gasolina -- de até 130 cv -- e uma turbodiesel

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O interior do Focus mostrava bom acabamento e criatividade de formas

Trinta anos, quatro gerações e mais de 20 milhões de unidades depois de seu lançamento, o Ford Escort — um dos nomes mais longevos das indústrias automobilísticas alemã e inglesa — ganhava em 1998 um sucessor. A concorrência no segmento de médio-pequenos na Europa andava intensa, com modelos novos ou reformulados da Volkswagen (Golf de quarta geração), Opel (Astra de segunda), Renault (Mégane), Citroën (Xsara), Peugeot (306), Fiat (Bravo e Brava), entre outros. Havia ainda a necessidade de substituir o modelo americano do Escort, diferente do europeu e feito sobre plataforma da japonesa Mazda.

No Salão de Genebra, em março de 1998, a Ford exibia pela primeira vez o Focus, cujo nome significa em inglês concentração de energia ou de atenção. Revelado em versões hatch de três e cinco portas, o novo carro, designado como projeto CW170, surpreendeu pelas formas arrojadas. Projetadas em parceria pelas unidades alemã e inglesa da marca, suas linhas combinavam curvas e arestas, de maneira ainda mais pronunciada que no Ka lançado em 1996, em um claro exemplo do padrão de estilo New Edge então adotado pela Ford. Faróis e lanternas traseiras — estas em posição elevada junto ao vidro — tinham forma triangular e os paralamas contavam com grandes arcos, que lembravam os de carros de rali. A traseira truncada usava um vidro curto e inclinado, sem deixar espaço para o “meio volume” que acompanhava o Escort desde 1980.

Seis meses depois, no evento de Paris, acontecia o lançamento oficial com os outros membros da família: sedã de quatro portas, com linhas mais comportadas, e perua de cinco. Com a plataforma C170, todos tinham altura acima da média da categoria (7 cm mais que no Escort), reflexo da crescente altura média da população. E vinham com um painel de formas ousadas, em que uma faixa inclinada passava sobre a área central em forma de semicírculo.

A Ford declarava que o Focus tinha os menores peso e consumo e as maiores distância entre eixos e rigidez estrutural (50% acima do Escort) de sua categoria. Para a forte estrutura contribuía a construção com aços de diferentes espessuras (tailored blanks), caso das colunas centrais, mais grossas no topo que na base para dissipar pela carroceria o esforço de uma capotagem, por exemplo. Outro destaque era o primeiro uso na classe de suspensão traseira multibraço, conceito trazido de segmentos superiores que concorria para ganhos em conforto de marcha, isolamento de vibrações (era apoiada em subchassi) e comportamento dinâmico.

Com base no sistema traseiro da perua Mondeo, a Ford chegou a uma suspensão mais leve e 30% mais barata que outras do mesmo tipo ao usar diversos componentes de aço estampado em vez de fundidos. Além disso, houve cuidadoso trabalho de acerto de suspensão e redução de atritos nesse sistema e no de direção, o que contou com a bagagem de Richard Parry-Jones, vice-presidente mundial de Desenvolvimento de Produtos da marca, e a consultoria do tricampeão de Fórmula 1 Jackie Stewart.

Havia no início cinco motores: dois da linha Zetec SE, de 1,4 (potência de 75 cv, torque de 12,5 m.kgf) e 1,6 litro (100 cv, 14,8 m.kgf); dois da série Zetec E, de 1,8 (115 cv, 16,3 m.kgf) e 2,0 litros (130 cv, 18,2 m.kgf), todos a gasolina e com 16 válvulas; e o TDDi turbodiesel de 1,8 litro (90 cv, 20,4 m.kgf), um projeto dos anos 80. Os da série SE tinham bloco de alumínio; os demais, de ferro fundido. Recursos de segurança passavam por freios antitravamento (ABS), controles de tração e de estabilidade e bolsas infláveis frontais e laterais.

A empresa definiu o Focus desde o início como um carro mundial. "Isso mudou as regras", disse o projetista chefe John Doughty. "Deixaram claro que não haveria componentes específicos [para cada país onde fosse produzido ou vendido], exceto por razões de legislação." No entanto, essa decisão não duraria até o encerramento da primeira geração, graças a peculiaridades do mercado americano (leia boxe).

Espera recompensada   Os fãs de versões "quentes" do Escort, como a RS Cosworth, aguardavam ansiosos as derivações de alto desempenho do Focus. E a Ford escolheu uma pátria de entusiastas — a Inglaterra — para apresentar a versão conceitual do RS, ou Rallye Sport, no Salão de Birmingham de 2000. Continua

 

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Data de publicação: 14/3/09

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