Curvas e arestas em
contraste, como sugeria o estilo New Edge da Ford, davam ar moderno e
diferenciado para a versão hatch do Focus
Sedã e perua eram mais
tradicionais; a linha de motores inicial contava com quatro unidades a
gasolina -- de até 130 cv -- e uma turbodiesel
O interior do Focus mostrava bom
acabamento e criatividade de formas
|
Trinta anos, quatro gerações e mais de 20 milhões de unidades depois
de seu lançamento, o Ford Escort
— um dos nomes mais longevos das indústrias automobilísticas alemã e
inglesa — ganhava em 1998 um sucessor. A concorrência no segmento de
médio-pequenos na Europa andava intensa, com modelos novos ou
reformulados da Volkswagen (Golf
de quarta geração), Opel (Astra
de segunda), Renault (Mégane), Citroën (Xsara), Peugeot (306), Fiat (Bravo
e Brava), entre outros. Havia ainda a necessidade de substituir o
modelo americano do Escort, diferente do europeu e feito sobre
plataforma da japonesa Mazda.
No Salão de Genebra, em março de 1998, a Ford exibia pela primeira vez o
Focus, cujo nome significa em inglês concentração de energia ou de
atenção. Revelado em versões hatch de três e cinco portas, o novo carro,
designado como projeto CW170, surpreendeu pelas formas arrojadas.
Projetadas em parceria pelas unidades alemã e inglesa da marca, suas
linhas combinavam curvas e arestas, de maneira ainda mais pronunciada
que no Ka lançado em 1996, em um claro exemplo do
padrão de estilo New Edge então adotado pela Ford. Faróis e lanternas
traseiras — estas em posição elevada junto ao vidro — tinham forma
triangular e os paralamas contavam com grandes arcos, que lembravam os
de carros de rali. A traseira truncada usava um vidro curto e inclinado,
sem deixar espaço para o “meio volume” que acompanhava o Escort desde
1980.
Seis meses depois, no evento de Paris, acontecia o lançamento oficial
com os outros membros da família: sedã de quatro portas,
com linhas mais comportadas, e perua de cinco. Com a plataforma
C170, todos tinham altura
acima da média da categoria (7 cm mais que no Escort), reflexo da
crescente altura média da população. E vinham com um painel de formas
ousadas, em que uma faixa inclinada passava sobre a área central
em forma de semicírculo.
A Ford declarava que o Focus tinha os menores peso e consumo e as
maiores distância entre eixos e rigidez estrutural (50% acima do Escort)
de sua categoria. Para a forte estrutura contribuía a construção com aços de diferentes
espessuras (tailored blanks), caso das colunas centrais, mais grossas no
topo que na base para dissipar pela carroceria o esforço de uma
capotagem, por exemplo. Outro destaque era o primeiro uso na classe de
suspensão traseira multibraço, conceito
trazido de segmentos superiores que concorria para ganhos em
conforto de marcha, isolamento de vibrações (era apoiada em
subchassi) e comportamento dinâmico.
Com base no sistema
traseiro da perua Mondeo, a Ford chegou a uma suspensão mais leve e 30% mais barata
que outras do mesmo tipo ao usar diversos componentes de aço estampado
em vez de fundidos. Além disso, houve cuidadoso trabalho de acerto de
suspensão e redução de atritos nesse sistema e no de direção, o que
contou com a bagagem de Richard Parry-Jones, vice-presidente mundial de
Desenvolvimento de Produtos da marca, e a consultoria do tricampeão de
Fórmula 1 Jackie Stewart.
Havia no início cinco motores: dois da linha Zetec SE, de 1,4
(potência de 75 cv, torque de 12,5 m.kgf) e 1,6 litro (100 cv, 14,8
m.kgf); dois da série Zetec E, de 1,8 (115 cv, 16,3 m.kgf) e 2,0 litros
(130 cv, 18,2 m.kgf), todos a gasolina e com 16 válvulas; e o TDDi turbodiesel de 1,8 litro (90 cv, 20,4 m.kgf), um
projeto dos anos 80. Os da série SE tinham bloco de alumínio; os demais,
de ferro fundido. Recursos de segurança passavam por freios
antitravamento (ABS), controles de tração e de
estabilidade e bolsas infláveis frontais
e laterais.
A
empresa definiu o Focus desde o início como um carro mundial. "Isso
mudou as regras", disse o projetista chefe John Doughty.
"Deixaram claro que não haveria componentes específicos [para cada país
onde fosse produzido ou vendido], exceto por razões de legislação." No
entanto, essa decisão não duraria até o encerramento da
primeira geração, graças a peculiaridades do mercado americano (leia
boxe).
Espera
recompensada
Os fãs de versões
"quentes" do Escort, como a RS Cosworth, aguardavam
ansiosos as derivações de alto desempenho do Focus. E a Ford
escolheu uma pátria de entusiastas — a Inglaterra — para apresentar a
versão conceitual do RS, ou Rallye Sport, no Salão de Birmingham de
2000.
Continua
|