Colarinho de cavalo, grade chupa-lima e até uma associação ao
órgão sexual feminino: sem dúvidas, o senso de humor americano
encontrou um viés sarcástico, para não dizer maldoso, de tratar os
carros da linha Edsel. Da mesma forma, não há como negar a
semelhança no desenho da grade dos modelos 1958 e 1959 da marca
com aquela usada há décadas por um dos mais queridos fabricantes
europeus, a Alfa Romeo. Desde os anos 30, a Alfa adota um desenho
triangular com a ponta para baixo e os cantos bem arredondados na
grade central de seus carros. E todo mundo adora.
É evidente que, a exemplo de tantos outros excessos de estilo da
Detroit dos anos 50, como os cromados, aletas nos pára-lamas e
combinação de cores, a equipe chefiada por Roy A. Brown, Jr. pecou
pelo exagero, desta vez nas proporções. A grade do Edsel vinha
ressaltada — em relação ao capô, à dianteira, a base do
pára-choque e, considerando-se o anel de impacto, a ela mesma —,
assim como os faróis, que ganhavam um aspecto de olhos
esbugalhados. Suas dimensões é que poderiam ter sido mais
comedidas, mas, consideradas a pretensão do marketing da Ford e a
época em que ele foi concebido, discrição não era um ingrediente
bem-vindo. Só foi acrescentada na linha 1959.
Fugindo-se da perspectiva americana da época, porém, isso não
torna feio um formato que já era apreciado havia tanto tempo nos
Alfas (na foto um 6C 2500), assim como nos Fiats mais
aerodinâmicos dos anos 30, como o 1500 e o
500 Topolino, e em
modelos da Chevrolet, Hudson e mesmo Ford dessa época. Sem
esquecer o Jaguar XK e o
Mark 2. |

Nem o consagrado Lancia Aurelia.
Depois de ler uma lista como esta, a chacota em torno do desenho da
grade da marca americana perde muito da força. Apelidos podem ter
graça num contexto limitado, mas, quando se obtêm outras referências, muitos
deles geram pouco mais que um sorriso amarelo.
Como paralelo, também não eram más idéias um
Fusca com teto solar, fracassado no Brasil por conta do infame
apelido "Cornowagen", ou um sedã de quatro portas com desenho
atual sobre a mecânica do besouro, o
Volkswagen 1600 "Zé do
Caixão". Mas era difícil alguém comprar um deles e enfrentar a
gozação, por mais que gostasse desses modelos. O mesmo valia 10
anos antes para o consumidor americano em relação aos Edsel. E não
é demais lembrar que o chamado "colarinho de cavalo" não foi o
único responsável pelo destino da malfadada divisão da Ford. |