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Técnica

Overdrive: velocidade com menos rotações

Antes uma caixa, hoje apenas um conceito, o
sistema busca menores ruído, consumo e desgaste

Texto: Roberto Chaves - Fotos: divulgação

Quem já analisou modelos como o inglês Jensen Interceptor (leia história) já ouviu falar em overdrive (pronuncia-se ôver-dráiv). Trata-se de uma pequena caixa suplementar à caixa manual, do tipo utilizado nos carros de motor dianteiro e tração traseira, destinada a multiplicar a rotação de saída da caixa. Como nessas caixas geralmente a última marcha é uma tomada direta da árvore primária do câmbio, vieram os nomes overdrive e prise direta.

O primeiro nome significa rotação superior à da saída. Como tomada direta é direct drive em inglês, overdrive explica por si só o que acontece, pois over é além, acima.

O sofisticado Jensen Interceptor dos anos 60 utilizava uma caixa adicional, o overdrive, de uso recomendado em estradas. No alto, o corte de um câmbio de cinco marchas para motor transversal e tração dianteira

Já prise direta é a forma aportuguesada do francês prise directe, ou tomada direta (da força motriz). Durante décadas os carros tinham a última marcha como tomada direta, sendo comum o proprietário gabar-se de que seu carro era capaz de subir determinada serra em prise.

A caixa overdrive

A caixa overdrive mais comum era de engrenagem epicicloidal, do mesmo tipo usado amplamente nas transmissões automáticas até hoje. A engrenagem epicicloidal compõe-se basicamente de uma coroa com dentes internos e uma engrenagem solar no centro, que transmite movimento para a coroa por meio de três engrenagens planetárias.

No caso do overdrive, a coroa está ligada à saída da caixa e a engrenagem solar à árvore de transmissão (cardã). Dependendo do número de dentes da coroa e da engrenagem solar, produz-se uma multiplicação entre 20% e 40%. Um acionamento elétrico, por solenóide, engata e desengata o sistema, conforme o comando do motorista.

O sistema incorpora ainda uma roda-livre, que funciona quando a função overdrive está ativada. Roda-livre, como se sabe, anula o freio-motor, permitindo ao veículo perder velocidade gradualmente enquanto o motor se encontra em marcha-lenta (o DKW-Vemag possuía tal dispositivo, mas nada tinha a ver com overdrive).

A caixa suplementar desapareceu, mas não seu conceito: em modelos como o Ford Ranger, lê-se "D" (de drive) em vez de "5" na alavanca de câmbio, indicando presença de sobremarcha

No tempo do carburador, poupava-se um pouco de combustível usando roda-livre. Hoje, com a injeção eletrônica presente em praticamente todos os carros, essa vantagem desaparece, pois na desaceleração com marcha engatada ocorre o corte de combustível -- a conhecida "banguela" não ajuda em nada hoje.

O fabricante pode permitir que o sistema overdrive funcione com quantas marchas quiser. Nos carros americanos de três marchas só costumava haver overdrive em terceira. No Chevrolet Corvette até 1988, de quatro marchas manuais, o overdrive podia ser utilizado em segunda, terceira e quarta. Trata-se de escolha do fabricante e nada mais. Hoje, a caixa manual do Corvette possui seis marchas, sendo a sexta de conceito overdrive, cuja relação é nada mais que 0,50:1.

Menos consumo e ruído

Menor rotação em velocidades de estrada leva a menor ruído, portanto uma questão de conforto. É sempre agradável não se ter o motor "berrando" nessas situações. Mas a menor rotação ajuda a economizar combustível, pois o motor entra na condição de funcionar com acelerador mais aberto do que numa rotação mais alta, para velocidades (e potências) iguais (entenda por que se economiza com acelerador mais aberto).

O overdrive foi utilizado no Brasil como recurso de economia em câmbios de quatro marchas: no câmbio longo do Passat '83 e no Ômega oferecido no Opala '76, a quarta era bastante longa, sendo a velocidade máxima atingida em terceira

Hoje, a caixa overdrive não existe mais, mas seu conceito sim. No início dos anos 80, logo após a segunda crise do petróleo, muitos fabricantes, como a Volkswagen na Alemanha e no Brasil, lançaram os câmbios "3+E" e "4+E", de três e quatro marchas para desempenho e uma para economia, que não demoraram a serem usados por outros fabricantes europeus importantes e até nacionais. Existiu inclusive no Chevrolet Opala, denominado câmbio Ômega, em 1976 (não confundir com o modelo lançado em 1992).

Num verdadeiro "4+E" a velocidade máxima é atingida em quarta, não em quinta. Isso porque o torque (e potência) que chega às rodas motrizes fica tão baixo que o motor não consegue vencer a resistência imposta pela massa de ar à frente do veículo.

Mas a última marcha direta parece estar perpetuada: começando com a Série 3 de 1990, a BMW conferiu aos clientes o prazer e a eficiência da quinta marcha direta -- mas sem efeito overdrive, dado o caráter esportivo de todo BMW. Na grande maioria dos câmbios de cinco marchas utilizados em carros de motor dianteiro e tração traseira, é a quarta a marcha direta, sendo a quinta multiplicada, de relação de transmissão menor que 1.

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