


Anunciado como "uma nova espécie
de carro musculoso", o Charger dos anos 80 tinha tração dianteira e, na
versão Shelby, motor de 108 cv


Depois de longa ausência, o nome
retornava em 2005 nesse sedã com quatro portas, tração traseira e
potentes motores de seis e oito cilindros |
Um Charger
emagrecido
Em 1979 o nome Charger
estava de novo no mercado. Mas os tempos eram outros, a gasolina andava
mais cara e os carros japoneses faziam a festa no maior mercado do
mundo. Por isso, não era de se estranhar a aposta da Dodge em seu novo
modelo: ele era agora um pequeno (para os padrões dos EUA) hatchback com
três portas e tração dianteira, nada mais que uma versão com apelo
visual esportivo do Dodge/Plymouth Omni. O
motor de quatro cilindros e 1,7 litro transversal com
comando de válvulas no cabeçote,
fornecido pela Volkswagen, fornecia meros 70 cv e havia opção de câmbios
automático. Em 1982 um propulsor de 2,2 litros, da própria Chrysler, era
uma opção que entregava 85 cv. Essa versão foi testada pela Motor
Trend e conseguiu fazer o 0 a 96 km/h em 9,7 segundos, número
interessante para um modelo econômico daqueles dias.
Já a Popular Mechanics comparou o Charger 2,2 a cinco modelos:
Buick Regal Turbo Sport Coupe, Camaro Z28, Mercury Capri RS 302,
Plymouth TC3 Turismo e Pontiac
Firebird Trans Am. Bastante inferiores em potência, o Dodge e seu
clone da Plymouth ficaram bem para trás em desempenho, mas superaram o
Camaro e o Capri no desvio entre cones. A revista concluiu: "Potência
não é tudo. Todo o conjunto opera de forma bem agradável e você pode
queimar pneus se realmente fizer girar o motor. Mas não é,
definitivamente, um carro para diversão". Como em 1983 o nome Omni saía
de cena, agora todos os hatches dessa linha eram Chargers, com escolhas
entre um motor Peugeot 1,6 (que substituiu no meio do ano o VW 1,7) e o
2,2, este com 94 cv e câmbio de cinco marchas. A carroceria tinha linhas
retas, frente em cunha, faróis retangulares recuados, grande coluna
traseira e lanternas horizontais. Grande novidade foi a apresentação da
versão Shelby Charger, feita com participação do lendário preparador
Carroll Shelby, o "pai" do Cobra e de
Mustangs muito potentes dos anos 60. Maior taxa de compressão dava ao
motor 2,2 a potência de 108 cv, as rodas eram de 15 pol e a aparência
melhorava com alguns acessórios e a aplicação de dois tons de cores
(prata e azul) por dentro e por fora.
A Motor Trend considerou-o um carro mais rápido que os outros
Chargers, "com um certo jeito europeu. Motores europeus são suaves nas
faixas de rotação mais altas, mesmo os quatro-cilindros em linha, porque
são desenhados para longos percursos em alta rotação. O Chrysler 2,2 do
Shelby tem o mesmo perfil; o pico de potência a 5.600 rpm é usável,
agradável". O problema do carro era que "ele ainda sofre das
desvantagens inerentes ao modelo básico", como as trocas de marcha
lentas e imprecisas. Em comparativo ao
Buick Skyhawk, ao
VW Rabbit (Golf) GTI e ao
Ford Escort GT, a Popular
Science enquadrou o Shelby entre os melhores em aceleração,
estabilidade e economia, mas o colocou em último lugar em freios, nível
de ruído e conforto de rodagem. Em 1984 os faróis simples eram trocados
por duas unidades retangulares de cada lado. No ano seguinte o Shelby
recebia turbocompressor e injeção
eletrônica, que trouxeram acelerações bem melhores. Em 1987, último ano
do Charger, a potência da versão turbo — sob o nome Shelby Charger GLH-S
— aumentava em mais 30 cv e o tempo de aceleração caía para 7 segundos.
Musculoso
outra vez
Aproveitando a onda de
retornos de antigos nomes no meio automobilístico, e sabendo do poder
que a denominação Charger teria sobre os entusiastas, a Dodge criou um
novo modelo apresentado ao público em fevereiro de 2005 (um conceito de
linhas bem diferentes, que nunca chegou às ruas, havia usado o mesmo
nome em 1999; leia boxe abaixo). Mas a surpresa maior ficou por
conta do formato da carroceria: um sedã de quatro portas, com formato de
cupê por conta da caída do teto, no lugar do famoso cupê esportivo. O
estilo também não era o que se podia chamar de unânime. A frente
intimidadora, com a enorme grade no padrão Dodge de quatro segmentos,
trazia faróis levemente retangulares com duas unidades circulares em seu
interior. Na lateral a linha de cintura era bastante alta e chamava a
atenção o ressalto próximo à coluna traseira imitando o clássico estilo
"garrafa de Coca-Cola". Na parte posterior as lanternas seguiam um
formato quase quadrado. O interior era muito amplo e abusava de linhas
retas no painel e nos painéis de portas. Destaque também para o largo
console separando os bancos.
Construído sobre a mesma plataforma LX do Chrysler 300C e da perua Dodge
Magnum, que usava muitos componentes do Mercedes-Benz Classe E de um
período anterior — benefício trazido pela associação DaimlerChrysler,
vigente de 1998 a 2007 —, o Charger media 5,08 m de comprimento, 1,89 m
de largura, 1,48 m de altura e entre-eixos de 3,04 m. Era bastante
pesado, com 1.828 kg. A suspensão era independente nas quatro rodas e o
câmbio automático podia ser de quatro ou cinco marchas, sem opção por
manual. As versões SE e SXT recebiam o motor V6 de 3,5 litros e 24
válvulas, com 252 cv e 34,6 m.kgf, mas no Canadá o propulsor de entrada
era um V6 de 2,7 litros, 193 cv e 26,3 m.kgf. A famosa versão R/T estava
de volta com o Hemi V8 de 5,7 litros com
comando no bloco, 345 cv e 54 m.kgf. Para quem quisesse mais
potência havia o SRT-8 com outro Hemi de 6,1 litros, 431 cv e 58 m.kgf,
associado a freios Brembo e carroceria com caracterização mais
esportiva.
Continua
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