Atribuído ao estúdio Bertone, o
estilo do Face é jovial e agradável; uma limitação é o porta-malas para
só 190 litros, apesar do banco rebatível
Interior com materiais simples,
mas de desenho correto, e boa posição de dirigir; o revestimento em preto e bege
já causa
discussão no Brasil |
Na China ele se chama A1; na Rússia, Kimo; na Austrália e na África do
Sul, J1. Mas é com o nome Face que chega o "carro que deve sedimentar e
solidificar a Chery no País", nas palavras de Luís F. Curi, presidente
da empresa importadora da marca para o Brasil. Depois do utilitário
esporte Tiggo em julho do ano passado e
do modelo médio Cielo, lançado em maio,
o Face desembarca para competir no segmento de maior volume em nosso
mercado, o dos hatches compactos.
E, como todo Chery até agora, surge com preço atraente diante do que
possui: R$ 31.900 (mais frete, que pode chegar a R$ 1.500) para um
modelo de cinco portas com motor de 1,3 litro, ar-condicionado, direção
assistida, bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento
(ABS) e distribuição eletrônica de força
entre os eixos, faróis e luz traseira de neblina (esta, item
essencial de segurança), repetidores laterais das luzes de direção
(idem), controle elétrico dos vidros/travas/retrovisores, alarme com
controle a distância, sistema de áudio com rádio/toca-CDs e leitura de
MP3 e sensor de estacionamento traseiro.
O VW Fox de 1,0 litro chega a R$ 44.570 com conteúdo semelhante, o que
dá uma ideia de quanto a marca chinesa enxugou o preço, mesmo recolhendo
Imposto de Importação de 35%.
Com 3,70 metros de comprimento e 2,39 m de distância entre eixos, o Face
é um pouco menor que a maioria de nossos pequenos, mas está entre os
mais altos com seu 1,52 m. A exemplo do Cielo, aposta em linhas modernas
e agradáveis para contornar o preconceito de muitos contra carros
chineses. Desenhado pelo estúdio italiano Bertone, combina curvas e
ângulos de forma harmoniosa e traz detalhes que chamam a atenção, como
as lanternas traseiras. À linha Chery pode ainda faltar uma identidade
própria — o que não se consegue da noite para o dia —, mas o compacto
mostra um estilo que deve ajudar em sua aceitação no Brasil.
Quando se fala em carro chinês, logo vêm perguntas sobre qualidade de
construção e de acabamento. No Face, a impressão é boa: partes da
carroceria bem encaixadas, aspecto geral cuidadoso, revestimento dos
bancos (em preto e bege claro, este já alvo de críticas pelos adeptos de
interiores pretos) agradável ao toque e o das portas ainda mais macio.
Há detalhes como bordas de cor metálica nos painéis de portas, aplique
prateado na seção central do painel e iluminação de instrumentos e
comandos em tom azul. Muito plástico rígido, certamente — como em
qualquer carro desse preço —, mas com aspecto dentro da média, sem
rebarbas, e combinações que inspiram capricho.
A posição de dirigir é das melhores, embora as colunas dianteiras não
ajudem na visibilidade. O volante traz ajuste de altura em pequeno
curso; o banco, não, o que merecia revisão. Há bons detalhes como a
buzina dupla, "tipo Mercedes", e não um raquítico "bi" como nos Hondas
nacionais; o apoio de pé esquerdo, amplo, de fazer inveja a muito carro
de segmento superior; e a regulagem elétrica de facho dos faróis, que
muitos fabricantes locais eliminam dos projetos vindos de fora, por não
ser obrigatória aqui. Os botões são macios e funcionam bem (só os de
climatização estavam um pouco duros) e os dos vidros ficam nas portas,
quando a montagem no painel ou no console central é comum na categoria.
Há porta-copos no console e porta-objetos sob o banco do motorista.
Embora modesto nas medidas, o Face agrada pelo espaço interno — exceto
por ser um tanto estreito no banco traseiro, como se espera pela largura
externa de 1,58 m. Um motorista de 1,85 m encontra conforto e pode
sentar-se atrás do banco sem alterar a regulagem. Os instrumentos de
fácil leitura incluem informação de consumo médio, autonomia e
temperatura do motor, que muitos fazem questão de ter. O rádio tem
entrada USB e seu formato não usual desestimula o furto. Destaque para a
alavanca do freio de estacionamento larga e plana, disfarçada de apoio
de braço.
Encontram-se algumas falhas, mas que não o tornam inferior ao padrão
nacional nessa categoria — caso dos encostos traseiros duros e das
costuras que deixam um pouco de sobras de tecido. Por outro lado,
impressiona bem abrir o capô e ver o cofre com pintura da cor do carro e
envernizada, nesses tempos em que até a BMW aboliu esse refinamento.
Continua |