O desenho de Pininfarina
deixou o Cielo com linhas arredondadas e agradáveis; note as maçanetas
ocultas e duas saídas de escapamento
O sedã mede só 7 cm mais que
o hatch e tem o mesmo preço, mas seu espaço de bagagem não convence: 395
litros, próximo ao do Classic
Painel simples e algumas
falhas de acabamento, compensados por um espaço superior ao dos
nacionais de preço similar e pelo bom conteúdo |
Depois de pequenos veículos comerciais, do compacto monovolume Effa M100
e do utilitário esporte Chery Tiggo, a
expansão das marcas chinesas no mercado nacional continua com o modelo
Cielo da mesma Chery. Chamado de A3 nos demais mercados, aqui ganhou
outro nome — escolhido em um concurso de público e que significa céu em
italiano — para evitar a coincidência com o médio da Audi. Como em tudo
que vem da China, o primeiro atrativo é o preço: R$ 41.900 em pacote
único de equipamentos, seja em carroceria sedã de quatro portas ou em
hatch de cinco, com motor de 1,6 litro a gasolina e câmbio manual. A
opção de caixa automática de quatro marchas está prevista para ainda
este ano.
Pacote esse que surpreende pelo preço: ar-condicionado, direção
assistida, controle elétrico dos vidros, travas e retrovisores, ajuste
de altura do volante, controle remoto de travamento e sua operação
automática em movimento, rádio/toca-CDs com MP3 e entrada USB, bolsas
infláveis frontais, freios a disco nas quatro rodas com sistema
antitravamento (ABS) e distribuição
eletrônica de força entre os eixos (EBD), faróis de neblina e luz
traseira para o mesmo fim, sensores de
estacionamento traseiros e rodas de alumínio de 16 pol (estepe
incluído), tudo de série. Inesperada é a falta de limpador do vidro
traseiro no hatch (que aparece com ele numa foto de mercado externo).
Pelo preço e pelo motor, os Cielos devem competir com os pequenos
nacionais, mas seu porte está a meio caminho para os médios — a
distância entre eixos de 2,55 metros, por exemplo, equivale à do Honda
City, supera a do Golf e está pouco atrás das de Corolla, Astra, C4 e
307. Curioso é o sedã medir só 7 cm a mais em comprimento que o hatch,
quando o usual é pelo menos o dobro.
Para quem ainda não conhece a Chery, trata-se do maior fabricante
independente da China — ou seja, não associado a marcas estrangeiras —,
fundado em 1997 e que produziu mais de 500 mil veículos no ano passado.
Com o veloz crescimento da indústria daquele país, que já assumiu a
liderança mundial em produção, a empresa estatal espera dobrar esse
número já este ano. No Brasil, onde estreou em agosto do ano passado com
o Tiggo, a marca tem 33 concessionárias e deve inaugurar mais 28 até o
fim do ano. A previsão é de vender 2.000 Cielos em 2010, sendo 70% de
hatches. Para combater o receio de alto custo e dificuldade de
manutenção, tem sido feito o desenvolvimento por fornecedores
brasileiros de alguns itens de alto giro como velas, pastilhas de freio,
filtros e vidros. A garantia é de três anos. Mais tarde o motor será
flexível em combustível, o que ainda não foi feito porque a empresa
fornecedora, no Brasil, pediu maior prazo para terminar o
desenvolvimento.
O Cielo não quer ser apenas barato: a Chery sabe que estilo ajuda muito a
vender carro, sobretudo no Brasil, e recorreu ao renomado estúdio
italiano Pininfarina para desenhar o modelo, que mostra linhas atuais e
agradáveis, embora as formas arredondadas tenham certo jeito de década
de 1990 e façam lembrar — sobretudo de lado — carros da época como o
Renault Mégane de primeira geração. Detalhes interessantes são as
lanternas traseiras com bom efeito visual em ambas as versões,
repetidores laterais das luzes de direção integrados aos frisos das
portas, duas saídas de escapamento funcionais (uma de cada lado, saindo
do mesmo silenciador traseiro) e maçanetas discretas nas colunas de trás
para dar sensação de haver só duas portas, solução já vista no Alfa
Romeo 156 de 1998 e mais tarde na perua Peugeot 206/207 SW. Algo
estranha é a terceira luz de freio do hatch, montada numa saliência no
teto. Os pneus 205/55 R 16 são claramente uma opção estética, pois o
motor usado não requer tanta borracha no solo.
É boa a posição de dirigir, que melhoraria com ajuste do banco em altura
e do volante também em distância, e os bancos muito confortáveis trazem
apoios laterais envolventes e um curioso encosto de cabeça de grandes
dimensões. O espaço interno é ótimo se comparado ao dos pequenos
nacionais, mérito também da carroceria larga, embora não muito alta
(1,46 m), e há até luzes de cortesia nas portas, item quase extinto por
aqui. A qualidade de construção e o acabamento — sempre alvos de dúvida
nos produtos chineses — estão no padrão de um carro de entrada
brasileiro: algumas peças se encaixam mal, notam-se certas ondulações na
forração do painel e sente-se entrada de vento mesmo com tudo fechado.
Os encaixes são bons nas peças mais visíveis, mas por baixo do painel
percebem-se peças desalinhadas.
Continua |